*Por Pedro Muniz
Repete-se muito por aí sobre o lugar do homem como provedor do lar. O que não explicam muito bem é o respaldo bíblico para isso.
Não há um versículo na Bíblia que diga que o homem precisa sustentar financeiramente a casa. Até porque a economia como vemos hoje é historicamente recente, fruto da revolução industrial e do advento do capitalismo.
Antes as famílias eram uma unidade econômica. Os empreendimentos eram familiares, o comércio acontecia no ambiente da própria casa. E a liderança masculina era entendida como uma autoridade comunal, aquele que era responsável por sacrificar seus interesses particulares em prol do bem comum de toda a família.
Hoje essa ideia de provedor do lar serve mais de desculpa para uma ausência significativa dos homens de tarefas importantes e de sua responsabilidade também, como educação dos filhos, cuidado da casa, oração, tempo de lazer e descanso.
A ideia de provedor foi assimilada quando os homens foram obrigados a irem para as fábricas, e o sustento da família passou a depender não mais da produção pequena e familiar, mas sim dos pequenos salários à custa das longas jornadas de trabalho.
Ao reforçar essa secular ideia como princípio bíblico os efeitos são desastrosos.
Os homens que por algum motivo ganham menos que suas esposas (o que é raridade, levando em conta a estrutura machista de nossa sociedade) ou que estão desempregados veem sua masculinidade ameaçada e entram numa profunda crise de identidade por não corresponder ao ideal de homem cristão divulgado por aí.
Do outro lado temos as mulheres, que em sua maioria precisam sair de casa para trabalhar e complementar a renda de suas casas – afinal estamos falando de Brasil – mas fazem isso com a consciência pesada por acreditar que não estão cumprindo seu papel.
Dentro da tradição cristã a teologia se fundamenta na ideia de um Deus provedor e sustentador de toda a realidade e, portanto, os seres humanos são em seu máximo empenho apenas cooperadores e co-provedores de seus sustentos.
Obviamente cada família pode estabelecer o acordo que achar melhor. Minha crítica é no estabelecimento de um padrão e no fato de muitos o reafirmarem como bíblico.
*Pedro Muniz é reverendo anglicano, pastor da Igreja Anglicana Trindade