No mês da mulher, a reflexão sobre os desafios e conquistas femininas se torna ainda mais essencial. O empoderamento, a ocupação de espaços no mercado de trabalho e na política são pautas fundamentais. Uma das vozes que se destaca nessa luta é a da presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Espírito Santo, Érica Neves, primeira mulher a comandar a instituição no Estado.
Mais do que um feito histórico, sua eleição com 8.790 votos (53,8% dos votos válidos) reflete o reconhecimento da advocacia capixaba ao seu compromisso com a classe. A trajetória de Érica ilustra a importância de incentivar a participação feminina em todos os espaços. Em entrevista a Rádio ES Hoje, ela contou que há quatro anos atrás só entrou no sistema para completar a cota de gênero.
“Me convidaram para completar a cota e hoje eu estou como presidente da OAB-ES. Eu não teria voltado ao sistema da ordem se alguém não tivesse me convidado porque na minha cabeça eu não pertencia a este lugar”, relembrou.
Segundo a advogada, ao se formar ela se deparou com um sistema da ordem dominado pelo público masculino, incapaz de provocar um sentimento de pertencimento às mulheres da advocacia. Com o passar do tempo, elas foram conquistando o seu espaço, primeiro com a cota de 30% e, desde as últimas duas eleições, com a cota de gênero para a formação de chapa estabelecida em 50%.
“Hoje, um dos meus trabalhos como mulher é mostrar que este ambiente também é para as mulheres, e quando o meu período na ordem acabar e este sentimento de pertencimento acontecer, eu terei feito a minha parte como mulher”, frisou.
De acordo com a presidente, ao longo dos anos e, por meio de muito esforço, as mulheres estão conseguindo ocupar diversas instituições, seja na área da política, na liderança empresarial, no jurídico, na construção civil, no meio tecnológico, entre outros. Cada vez mais o público feminino está exercendo profissões que antes eram dominadas por homens.
“Essa sensação, esse sentimento que é realmente o empoderamento da mulher, é um sentimento que faz com que a gente conquiste mais, cada vez mais e, por isso, eu acho que devemos celebrar. Eu sou assim, eu celebro as conquistas e as derrotas me ensinam, então eu acho que a gente deve comemorar sim e um mês é muito pouco para tanta comemoração”, destacou.
Quando o assunto é a sua posição dentro da OAB-ES, ela contou que esta conquista histórica é uma vitória de todas as mulheres e, além disso, também representa um amadurecimento da profissão. “Tenho muita honra de ter sido escolhida, mas isso representa muito mais do que a Erica, é realmente a advocacia falando que quer um novo formato de pensamento, enfim, eu fico muito honrada”, completou.
Já quando o assunto são as barreiras que tornam a caminhada profissional da mulher mais desgastante, a jornada dupla ganha destaque. De acordo com a advogada, a conquista da mulher é diária, já que historicamente são atribuídas às mulheres todas as obrigações com a casa e com os filhos.
De acordo com o IBGE, o público feminino dedica, em média, 21,3 horas por semana às atividades de casa, enquanto os homens gastam 10,9 horas, ou seja, quase a metade do tempo. “É uma conquista a cada instante, realmente é mais difícil para nós se separar da família, ficarmos mais distantes de alguns sonhos e dos nossos familiares, pais, filhos e irmãos que estão na expectativa da nossa presença, essa expectativa ainda pesa mais sobre a mulher”, contou.
Outa grande questão, de acordo com Érica, é a pressão para provar a competência profissional. Segundo ela, apesar dos avanços, mulheres ainda precisam se impor no mercado de trabalho, enfrentando desafios como preconceito e desigualdade salarial.
“Ainda presumem que nós não saibamos fazer política, que não saibamos fazer uma liderança de gestão, de números, enfim, ainda é mais dificil para a mulher comprovar isso o que se torna mais desgastante. As mulheres precisam estar preparadas para que esses paradigmas sejam quebrados e, se temos mulheres para isso, isso já é muito bom”, explicou.
A busca pela qualificação é uma das formas usadas pelo público para comprovar a sua competência. Pesquisas recentes do IBGE comprovam que as mulheres têm buscado cada vez mais qualificação. No período de 2013 a 2023, o percentual de mulheres matriculadas na educação superior aumentou 138,6% – de 4,2 milhões para cerca de 10 milhões apurados na última edição da pesquisa.
Apesar de, em média, possuírem maior grau de instrução (IBGE), as mulheres ocupam apenas 39,1% dos cargos de liderança no país, segundo levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Isso representa um aumento de menos de quatro pontos percentuais em relação a 2013, quando ocupavam 35,7% das posições de liderança.
“Ainda temos muito para conquistar, mas acho que nós estamos numa etapa de equilíbrio das instituições, não de ser melhor ou mais competente, mas sim de instituições buscando um equilíbrio para tornar a balança mais justa e acho que essa etapa um dia pode até acabar, mas a gente ainda está nessa etapa”, contou.
Elas são 50,8% dos profissionais da área

Segundo dados do 1º Estudo Demográfico da Advocacia Brasileira (Perfil ADV), produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do Conselho Federal da OAB, as mulheres já representam 50,8% dos profissionais da área. Esse crescimento é reflexo das ações afirmativas promovidas, em esforço conjunto, por todo o Sistema OAB.
Atualmente, as mulheres não apenas são a maioria entre os profissionais da advocacia, mas também ocupam espaços estratégicos de liderança, seja na diretoria do Conselho Federal da OAB com os trabalhos da secretária-geral Rose Morais, e a secretária-geral adjunta, Christina Cordeiro, ou no comando das seis seccionais da Ordem que elegeram mulheres para a presidência.
Foram eleitas: Gisela Cardoso (OAB-MT), Ingrid Zanella (OAB-PE), Christiane Leitão (OAB-CE), Daniella Borges (OAB-BA), Erica Neves (OAB-ES) e Ana Tereza Basílio (OAB-RJ).