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9 de maio de 2024
quinta-feira, 9 de maio de 2024
Luiz Paulo Vellozo Lucas
Luiz Paulo Vellozo Lucas
Luiz Paulo Vellozo Lucas - engenheiro de produção pela UFRJ com cursos de pós graduação em finanças (Arthur Andersen), desenvolvimento econômico(BNDES) e economia industrial (IE-UFRJ), mestrado em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável pela UFES. Foi funcionário de carreira concursado do BNDES onde ingressou em 1980, aposentando-se em agosto de 2016. Foi prefeito de Vitória por dois mandatos consecutivos (1997-2000 e 2000-2004), deputado federal pelo Espírito Santo e foi diretor Presidente do BANDES, Banco de Desenvolvimento do Espirito Santo entre 2015 e 2016 e do IJSN-Instituto Jones dos Santos Neves entre 2019 e 2020. Luiz Paulo escreve quinzenalmente, sempre às sextas-feiras.

Náufragos no barco de chocolate

Ouvi essa parábola na época do Plano Cruzado em 1986, no segundo ano do governo Sarney. Dílson Funaro, empresário paulista que presidia o BNDES, assume o Ministério da Fazenda para liderar um “choque heterodoxo” na economia brasileira. Pérsio Arida e André Lara Resende, da PUC-Rio, entraram com a teoria da inflação inercial e a troca da moeda. Luiz Gonzaga Belluzo e João Manoel Cardoso de Mello, da UNICAMP, e Aloisio Teixeira, da UFRJ, cuidariam do congelamento de preços e salários. Edmar Bacha e João Sayad também estavam no time, que em fevereiro de 1987 decretou a moratória da dívida externa.

O discurso do governo Sarney em defesa do congelamento de preços apelava para o espírito cívico das pessoas, convocadas a defender a tabela da SUNAB como se fossem as tábuas da lei de Moisés.

As donas de casa, chamadas de “fiscais do Sarney”, foram estimuladas a denunciar comerciantes e empregados de supermercado infratores, muitos dos quais acabavam presos naquele ambiente que criminalizava o mercado e colocava todas as transações comerciais sob suspeita.

A Policia Federal foi acionada para caçar gado no pasto dos fazendeiros que se recusavam a vender o boi gordo pelo preço tabelado, quando faltava carne no açougue.

Como defesa e consolo, era dito: “O congelamento de preços nos colocou como náufragos em um barco de chocolate. Se comermos o barco, afundaremos e morreremos todos. Estamos condenados a cooperar para sobreviver”.

Como se sabe, o Plano Cruzado afundou, e não foi por falta de cooperação e confiança da população. Quase dez anos e seis planos fracassados depois, com o Plano Real, conquistamos finalmente a estabilidade da moeda e o equilíbrio macroeconômico, em ambiente de liberdade econômica.

A sabedoria popular sabe que não é possível conquistar confiança e cooperação por medo e chantagem. Tentar revogar a lei da oferta e da procura, ainda que temporariamente, para criar um ambiente de preços estáveis não funcionou.

Estamos hoje carentes de capital cívico e doentes de desconfiança e descrença no futuro. As instituições da democracia parecem não entregar o que prometem. Fernando Gabeira nos adverte em seus artigos para o mal-estar com a democracia, que alimenta a adesão ao extremismo.

Nos Estados Unidos, Trump aparece liderando intenções de voto. Michael Sandel, professor de filosofia de Harvard, alerta que “as democracias modernas não serão capazes de sustentar a si mesmas a menos que consigam … dar espaço para a expressão singular de seu povo”.

As eleições municipais de 2024 no Brasil são uma oportunidade extraordinária para fazer a democracia funcionar, dando respostas eficazes e reconstruindo capital cívico de baixo para cima.

Reverter a desconfiança e a desmoralização da política e dos políticos tem que começar na cidade. Candidaturas a vereador e a prefeito nascidas na vida real, em sua dimensão empreendedora e em seus sonhos e conflitos, colocarão razão e paixão em justa medida no processo eleitoral.

A espetacularização e o sensacionalismo na disputa política, quando contaminada pela cultura da lacração e das pseudo celebridades, precisam dar lugar ao bom senso e ao equilíbrio.

Nenhuma cidade está condenada ao fracasso, à desorganização ou à estagnação. A cidade é a maior invenção da humanidade! O progresso técnico e cientifico que se seguiu com a vida em cidades viabilizou no ano 5 mil a.C. a agricultura e a domesticação de animais, além de inúmeras outras invenções que nos tiraram da vida nômade, de caçadores/coletores com expectativa de vida inferior a trinta anos.

Todas as cidades, grandes ou pequenas, em regiões metropolitanas ou longe delas, no interior, incluindo distritos e vilas, possuem ativos naturais, ambientais, produtivos, culturais e históricos que podem se transformar em desenvolvimento e prosperidade. Possuem quase sempre também passivos territoriais, que são déficits de infraestrutura e serviços acumulados em anos de crescimento desordenado e desigualdades sociais.

Em todos os lugares é possível formular um plano de desenvolvimento sustentável a ser executado através de ações e projetos que aproveitem os ativos e enfrentem os passivos territoriais. Assim, conseguiremos produzir avanços concretos nos indicadores econômicos, ambientais e humanos da nossa cidade.

Esta tarefa é política. Quem participar do processo eleitoral desta maneira estará fazendo a democracia funcionar, semeando confiança e esperança.

Luiz Paulo Vellozo Lucas
Luiz Paulo Vellozo Lucas
Luiz Paulo Vellozo Lucas - engenheiro de produção pela UFRJ com cursos de pós graduação em finanças (Arthur Andersen), desenvolvimento econômico(BNDES) e economia industrial (IE-UFRJ), mestrado em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável pela UFES. Foi funcionário de carreira concursado do BNDES onde ingressou em 1980, aposentando-se em agosto de 2016. Foi prefeito de Vitória por dois mandatos consecutivos (1997-2000 e 2000-2004), deputado federal pelo Espírito Santo e foi diretor Presidente do BANDES, Banco de Desenvolvimento do Espirito Santo entre 2015 e 2016 e do IJSN-Instituto Jones dos Santos Neves entre 2019 e 2020. Luiz Paulo escreve quinzenalmente, sempre às sextas-feiras.

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