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9 de maio de 2024
quinta-feira, 9 de maio de 2024
José Cirillo
José Cirillo
José Cirillo é doutor em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES,) onde é professor titular e coordenador do Programa de Pós-graduação em Artes. Pós-doutor em Artes pela Universidade de Lisboa. Foi Pró-reitor de Extensão da UFES (2008-2014); Diretor do Centro de Artes (2005-2008). Atua como coordenador do Laboratório de Extensão e Pesquisa em Artes (LEENA), desenvolvendo pesquisas sobre a arte e a cultura capixaba.

MULHERES GALERISTAS: construindo pontes, aprimorando o sistema das artes capixaba

MULHERES GALERISTAS: construindo pontes, aprimorando o sistema das artes capixaba

Bem, chegamos à última semana de março de 2024 e vejo que consegui cumprir o compromisso de dedicar minhas colunas desse mês para fazer essa pequena homenagem às mulheres. Escolhi algumas, dentre muitas, que são importantes no ecossistema estético capixaba. Seria incapaz de enumerar todas, e mesmo as todas que lembraria, ainda excluiriam muitas, certamente.

Cada uma, em seus afazeres cotidianos, e a seu modo, contribuem para que a arte e a cultura capixaba sigam seu fluxo. Cada barro modelado, cada palha trançada, cada tinta espalhada, cada texto escrito, cada poema, cada música dedilhada, cada embutido das montanhas, ou cada brode, cada polenta, dentro muitos outros saberes e fazeres cotidianos e estéticos, carregam em si a impressão da força feminina na nossa cultura. Encerro essa missão de março dedicando esse texto àquelas que desenham a nossa cultura. Produzem objetos sensíveis.

Para além do processo criativo e dos criadores dos objetos da arte, precisamos que eles circulem; que sejam vistos e desejados; precisamos fruir para gerar novos objetos e, certamente, garantir que o trabalho seja reconhecido – e que se possa sonhar em viver do fazer artístico. Entra aqui o recorte feito por mim, nessa última coluna do mês de março: mulheres empreendedoras que, lutando contra o sistema, acreditaram que era possível consolidar um mercado de arte em solo capixaba e que esse mercado olharia para os artistas locais como parte desse desejo colecionista que envolve a arte, garantindo-lhe a fruição e sustentação de seus produtores.

Iniciativas históricas como as de Jerusa Samu que, nos anos de 1970 ao criar a Galeria de Arte e Pesquisa da UFES, sinalizou o quanto de feminino havia na gestão institucional das artes, fazendo com que a UFES e suas galerias fossem um norte para a visibilidade e troca de experiências entre artistas; um caminho bravamente seguido por Neusa Mendes, à frente da GAEU. O lugar dessas mulheres no sistema da arte capixaba é demasiado importante para não ser destacado.

Não por menos, agora em fevereiro, a Folha de São Paulo dedicou uma matéria sobre as mulheres que comandam o mercado de arte nacional. E quais comandam o mercado de arte capixaba? Eu me coloco aqui nessa coluna a enumerar algumas das mulheres empreendedoras, que fora do sistema da academia, buscam construir efetivamente um mercado de fruição da arte capixaba.

 

A história das mulheres galeristas que vem construindo o mercado de arte no Espírito Santo não é recente, mas apagada. Apesar de lento, esse processo vem se estruturando de modo sólido nos últimos anos. Ao longo desses 32 anos que tornei Vitória como a minha cidade de vida (pessoal, familiar e profissional) acompanhei os esforços de Ana Coeli Piovesan para manter a Galeria Ana Terra, um marco no mercado de arte local, mediando a tradição e investindo em iniciativas inovadoras; Ana Coeli cumpre seu papel abrindo caminho para a construção de um mercado de venda de obras de artes local.

Vi muito dos esforços de Tereza Norma Tommasi à frente do Espaço Yázigi. Segui os passos de Dayse Resende e seu Escritório de Arte, em Jardim Camburi, que aliava o trabalho da galerista com os esforços de artistas em um ateliê anexo que funcionava como espaço de residência artística. Isto para citar algumas com as quais tive contato e vivenciei as experiências, que admiro. Me dedico aqui a falar na atualidade de duas fortes galerias privadas – se é que podemos dizer isto de uma galeria de arte -, a partir de três mulheres que, cada uma a seu modo, têm determinado os rumos da arte contemporânea e do mercado de arte no estado.

MULHERES GALERISTAS: construindo pontes, aprimorando o sistema das artes capixaba
Interior da Galeria OÁ. Foto da divulgação

A Galeria OÁ, capitaneada por Thais Hilal, mostra aos 17 anos que avança bravamente, com o vigor da “adolescência”, partindo de um sonho e caminhado para a maturidade. Segundo Thais Hilal, “[…] a OÁ surgiu motivada pelo desejo de valorizar, difundir e contribuir com a construção de um olhar sensível para a arte contemporânea.

Sua atuação acompanha o desenvolvimento de artistas visuais e a difusão de suas obras em diferentes propostas e linguagens.” Entre os artistas nacionais e locais representados, temos várias mulheres como Aline Moreno, Anna Helena Cazzani, Bel Barcellos, Mariannita Luzzati e Raquel Garbelotti.

Segundo a assessora de produção e direção da OÁ, Elaine Pinheiro, a seleção dos artistas ocorre por meio da pesquisa e de um olhar particular de Thais. “Algumas vezes de forma colaborativa, com a participação de outros profissionais (curadores, críticos de arte e artistas)”. Assim, com um acervo permanente em exposição, a galeria segue com mostras regulares que apresentam um pouco do processo criativo dos artistas representados.

Outra estratégia da galeria é a formação qualificada do público, como, por exemplo, a oficina de colagem, ministrada por Manuela Eichner, artista gaúcha que ocorrerá agora em abril.

Outro espaço criado e comandado por mulheres na atualidade – e que completa esse 18 anos e atinge a maturidade institucional, é a Galeria Matias Brotas, um empreendimento de Lara Brotas e Sandra Matias.

MULHERES GALERISTAS: construindo pontes, aprimorando o sistema das artes capixaba
Vista externa da Galeria Matias Brotas. Foto da divulgação

Foi fundada por Sandra Matias e Lara Brotas, a galeria promove a circulação e o mercado da arte, atendendo a um público apreciador mas, não obstante, formando-o em ações integradas resultantes de parcerias entre a galeria e artistas, arte-educadores, professores e pesquisadores que ajudam no debate sobre a arte contemporânea.  Entre os artistas representados pela galeria estão as capixabas Lara Felipe, Rosana Paste e Rubiane Maia.

Para a Galeria MB, suas ações lidam com o vasto universo da arte. “Do sensorial ao intelectual, do estético ao político – como um todo indizível que adentra e modifica o universo particular de cada um que se propõe a esse mergulho”. E elas têm sido fundamentais na qualificação do público e dos profissionais envolvidos em todo o mercado de arte local.

Segundo a Diretora de Arte da Matias Brotas, Flavia Dalla Bernardina, a Galeria Matias Brotas articula ações de mediação expositiva fora do próprio espaço físico, por meio de parcerias com arquitetos que possibilitam mostras que dialogam com outros setores da comunidade, como a gastronomia, por exemplo. No que se refere à sua mediação com os artistas representados, ela destaca que “[…] não existe uma zona de conforto, porque eu tenho que estar olhando o artista […] mas também não posso deixar de olhar para a galeria”. Evidencia-se um esforço de construir uma relação que insere os artistas no mercado, ou os apresenta ao mercado capixaba.

MULHERES GALERISTAS: construindo pontes, aprimorando o sistema das artes capixaba
Detalhe da montagem da Mostra “A ambivalência dos Limites”, 2024. Em cartaz na Galeria Matias Brotas a partir de 26 de abril. Foto da divulgação

Posso afirmar, ao encerrar esse texto de hoje, que essas galeristas, como muitas outras mulheres, ao valorizarem a produção artística e seu consumo, desempenham um papel fundamental no sistema das artes capixaba. Acompanhem esse trabalho que fortalece nossa identidade e cultura.

Serviço:
Informações sobre as galerias e atividades podem ser acessadas em:
@gap.ufes (Galeria de Arte e Pesquisa da UFES)
@oagaleria, para informações completas sobre a Oficina de Colagem dia 04/04
@matiasbrotasarte, para informações sobre a galeria e sobre a mostra A Ambivalência dos Limites, abertura em 25/03/20204.
Foto de abertura: Acervo Galeria OÁ

José Cirillo
José Cirillo
José Cirillo é doutor em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES,) onde é professor titular e coordenador do Programa de Pós-graduação em Artes. Pós-doutor em Artes pela Universidade de Lisboa. Foi Pró-reitor de Extensão da UFES (2008-2014); Diretor do Centro de Artes (2005-2008). Atua como coordenador do Laboratório de Extensão e Pesquisa em Artes (LEENA), desenvolvendo pesquisas sobre a arte e a cultura capixaba.

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