Fui lembrado que a UFES, a minha Universidade Federal do Espírito Santo, faz 70 anos. Quanto orgulho.
Ali, no CCJE, Centro de Ciência Jurídicas e Econômicas, no Curso de Direito, vivi maravilhosos 5 anos.
Sim, fiz meu curso de Direito em 5 anos.
Não adiantei um semestre como o fizeram Simões, Wiliam e Carlinhos Medeiros, os “novos doutrinadores”, como dizia Carlinhos, num misto de seriedade e ironia, do fundo da sala, onde nós ficávamos.
Entrei na UFES no primeiro semestre de 1976 e nesse primeiro semestre tínhamos aula de várias matérias, ainda não existia o contato com o direito. Naquele semestre aprofessora de Sociologia me marcou: Neise, que naqueles ainda duros anos da ditadura, presidência de Ernesto Geisel, assassinato do operário Manoel Fiel Filho, a Chacina da Lapa, as mortes de Juscelino e João Goulart, dizia o que precisava ser dito.
Depois, veio o primeiro contato com a minha Faculdade de Direito e a tristeza de não ter sido aluno de José Santos Neves que, segundo consta (lenda universitária ou verdade?) dizia que aluno com ele passava apertado, pois se não soubesse marxismo ficava reprovado; se soubesse demais corria o risco de ser preso.
Daquele primeiro semestre, onde estávamos todos misturados, Direito, Economia, Serviço Social, Administração, todos os alunos do 1º semestre do CCJE, lembro bem de Helcias Castro, colega de turma no Direito, questionando, nós dois juntos, o professor de Estudos de Problemas Brasileiros.
Depois veio João Herkenhoff com Introdução ao Estudo do Direito nos dando gás para todo o curso, falando de Utopia como fez no seu discurso como paraninfo.
É, tive grandes professores.
Peça licença aos muitos.
Mas dois deles são minhas eternas referências.
Eugênio Sette e Hélio Gualberto.
De meu pai, que deu nome à minha turma, não consigo falar. Nas suas aulas entrava mudo e saia calado, até por não saber se o chamava de pai ou de professor. Os dois me soariam estranhos.
Eugênio Sette transpirava dignidade. Dele, lembro de uma greve onde ele continuou a dar aulas e tivemos que impedir que fosse tirado de sala por grevistas. Foi a primeira vez que fiz piquete a favor ) (depois, convencido por seus alunos, da justeza da greve aderiu).
E Hélio Gualberto? Nos ensinou, guardo essa lição muito bem, que processo é modo de fazer, que o processo não pode ser tudo o que se afirma (ele era professor de Processo Civil, por isso lembro que a lição sobre processo não vale pro Processo Pena. Fique bem claro, que no Processo Penal forma é garantia).
Gosto tanto de Hélio Gualberto que tenho no meu escritório, advogado criminal que sou, na recepção, o “Primeiras Linhas”, do Amaral Santos, livro que ele adotava. É a minha homenagem a meu grande professor.
A UFES faz setenta anos. E como está presente em mim.
Ali vivi minha primeira passeata, saindo do antigo RU – “abaixo a repressão, mais arroz e mais feijão”, “ninguém aguenta mais, pros quartéis com os generais” -, o 1º Encontro Nacional de Estudantes de Direito depois da ditadura (foi em BH), as assembleias estudantis, a cantina do CCJE, greves, ler Pasukanis escondido, O Poder Jovem, de José Arthur Poener, quantas grandes coisas.
As escolas nos formam e nos marcam.
A UFES faz 70 anos.
Lembro Paulinho da Viola e deixo seus versos: “Acolho o futuro de braços abertos / Citando Cartola / Eu fiz o que pude / Aos (setenta) anos / Insisto na juventude.”
Tenho imenso orgulho de ser UFES. E muito, muito orgulho de ser Direito, UFES.
Obrigado UFES. Obrigado CCJE. Obrigado minha Faculdade de Direito.
