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9 de maio de 2024
quinta-feira, 9 de maio de 2024
Fernando Carreiro
Fernando Carreiro
Há 18 anos, Fernando Carreiro vive no meio do poder e dos poderosos. Jornalista, é consultor de comunicação especializado em crises de imagem, estratégia política e comportamento humano.

A TV Band do Lula tem o apetite comercial da Globo

A TV Band do Lula tem o apetite comercial da GloboPara que serve uma TV pública? A priori, para prestar um serviço de utilidade aos cidadãos, com informações sobre saúde, educação, debates sobre segurança pública e, a posteriori, divulgar os atos do governo federal que se enquadrem nos critérios de noticiabilidade estabelecidos pelo Jornalismo em sua essência. Essa é sua missão, na teoria. Na prática, a teoria é outra. Ao menos no Brasil.

À época de sua concepção, em 2007, durante o governo Lula 2, a EBC, Empresa Brasil de Comunicação, foi inspirada na BBC (até no nome), a rede pública de comunicação britânica, com sede em Londres, também controlada pelo governo e admirada por sua isenção na linha editorial. Quando surgiu a TV do Lula, o mercado jornalístico chegou a comemorar a iniciativa; a classe política aplaudiu. A euforia não durou muito tempo até que se percebesse que era mais do mesmo da antiga NBR – o canal anterior.

Por vezes, a própria BBC noticia reportagens críticas ao governo britânico e exerce fundamentalmente seu papel jornalístico. Acontece que uma TV pública só pode ser caracterizada de tal forma caso tenha fonte de recursos permanentes e intocáveis, caso contrário é uma mera TV Estatal, como a venezuelana RCTV, que serve aos ditames da ditadura de Hugo Chávez.

A “BBC brasileira”, não é de hoje, sustenta um viés muito mais político que de serviços – quase um desserviço, na verdade – aos brasileiros. Apesar da parca audiência, se presta a um papel de zeladoria e curadoria dos atos de governo, feita por seus 1.808 funcionários, grande parte deles oriunda de indicações políticas. É quase um Diário Oficial eletrônico. Para efeito de comparação, a EBC, em recursos humanos, é maior que a Rede Bandeirantes, com 1.800 colaboradores.

Na administração de Jair Bolsonaro, o comando da TV Brasil, uma das emissoras que compõem a EBC, foi entregue aos militares e a programação era constantemente interrompida para transmitir discursos e eventos do presidente.

Recentemente, já no governo Lula 3, a EBC destinou apenas dois minutos ao tema corrupção na Petrobras, em um especial de 1h30min sobre o aniversário de 10 anos da Lava Jato, e, com uma posição editorial claramente enviesada, prestou-se a tecer críticas à operação, que puniu empreiteiros e políticos ligados ao PT, cujos desdobramentos atingiram o próprio Lula, que passou mais de 500 dias encarcerado na sede da Polícia Federal em Curitiba.

Agora, com o terceiro governo do petista com a popularidade em queda entre o público mais conservador, a EBC vai rever sua programação e passará a integrar a estratégia do Palácio do Planalto de melhorar a comunicação com o segmento evangélico, passando a ouvir mais religiosos em seus programas. Uma espécie de puxadinho da Secretaria de Comunicação da Presidência, embora tenham objetos distintos em seu escopo de funcionamento.

Lula também quer ampliar o alcance da TV Brasil, por meio do streaming, do CanalGov, do Canal Educação, da Rádio MEC e das agências de notícias Brasil e Gov e outras oito rádios para os cerca de 4,5 milhões de brasileiros que vivem em 12 países da América do Sul. O desejo de Lula é ter uma espécie de TV Globo com viés mais chapa-branca possível, falando bem do seu governo e negando todo o conceito de televisão pública. A campanha eleitoral em tempo real, feita pelo sinal dos canais oficiais do governo, agora será exibida em uma plataforma internacional. Será que o TSE está de acordo?

A EBC também realizou uma pesquisa interna em que se diagnosticou que a maior parcela de sua audiência vem de mulheres da classe C, e, diante do levantamento, vai investir também em uma comunicação direcionada a esse público. Não é de tudo uma decisão editorial equivocada, não fosse o papel reservado para uma TV Pública.

Uma TV de caráter público se difere, a partir de seu próprio objetivo central, de uma emissora com fins comerciais, como a própria Globo, a Band, a Record, o SBT e a RedeTV! Essas buscam públicos-alvo que engordem os holerites de seus diretores e investidores. Não é, ou não deveria ser, o caso de um grupo de comunicação cujo ethos é a oferta de informação de caráter público, exatamente complementar ao que as emissoras comerciais não oferecem, por motivos óbvios: esse tipo de debate não atrai anunciantes.

A televisão pública, nascida formalmente educativa, veio como uma tentativa de reequilibrar o cenário televisual, para dar ao público o que a TV comercial sonegava: informação e, sobretudo, educação, considerados produtos televisivos de prestígio, mas de baixa ou nenhuma lucratividade. Não é o que temos assistido – com o perdão do trocadilho – há décadas e, pelo visto, não parece ser o que “vem por aí”.

Fernando Carreiro
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Há 18 anos, Fernando Carreiro vive no meio do poder e dos poderosos. Jornalista, é consultor de comunicação especializado em crises de imagem, estratégia política e comportamento humano.

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Comentários
  1. O marqueteiro F C foi contratado pelo deputado estadual JC (PXXXX), pré-candidato a prefeito de Vitória. O jornalista – que também é colunista de XXXX há 13 anos, curiosamente o número do partido – foi o responsável pela estratégia e a comunicação da campanha que levou M ao segundo turno na disputa pelo governo do Estado em 20XX.

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