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Em novo disco, Sandrera, um quase hippie na era virtual, acerta por ser ele mesmo

Em novo disco, Sandrera, um quase hippie na era virtual, acerta por ser ele mesmoAcompanhar o mercado da música nestes tempos é inevitavelmente se deparar com o famoso “eita atrás de eita”. O marketing extravagante, o roqueiro que vira trapper, a composição que virou espécie de jingle publicitário e uma pretensa inovação multiplicada pela mesmice.

Escutar um bom disco fora dessa “fissura” digital chega a ser alívio. E é exatamente a sensação de ouvir o novo álbum do músico e compositor Sandrera, “Quase Hippie”, com oito faixas, lançado na última semana em todas as plataformas de música.

Sandrera é um artista com influência do folk, do rock rural, dos Beatles, Raul Seixas, Neil Young e, entre outros, de Bob Dylan, cujo sotaque cantador e poético foi herdado por toda uma geração da linhagem do compositor capixaba.

E o grande acerto do trabalho de Sandrera neste 2024 é, além das belas composições e de sua palavra cantada, não forçar a fuga do que ele realmente é. Violões, slides de guitarra, solos, cordas, vozes em coro e o tempo necessário para terminar a música. Ou até desnecessário, mas para mais, e não para menos.

O autor faz questão de citar seus ídolos. E até abusa na referência aos Beatles, ora de forma interessante, ora com certo exagero. Na mais óbvia, “Até Os Beatles Se Separaram”, quarta canção do álbum, o violino da introdução toca releitura melódica de “Hey Jude”.

“Pássaro Negro”, sexta faixa e uma das mais bonitas, homenageia Blackbird no refrão e ainda termina com o violão clássico da mesma canção, genialidade de Paul McCartney que teve releitura recente de Beyoncé, como registramos na coluna da semana passada.

Sandrera gravou sua música antes do disco da estrela pop. E a coincidência é apenas porque há influência do estilo da canção nos trabalhos, o que coloca um ponto de interrogação no que é inovar e ser moderno: Beatles, como se pode observar, até hoje é inovador.

Ouça:

A mesma “Pássaro Preto” é uma ode ao Assum Preto, ave comum no nordeste e imortalizada na canção homônima de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Sandrera ainda traz uma atmosfera sombria à música em algumas passagens, pensando no escritor e mestre do terror Edgar Allan Poe.

Outro grande destaque do álbum é “Lugar Ao Som”, parceria com um dos principais ídolos de Sandrera, o mineiro e consagrado Zé Geraldo. Na dobradinha, os cantadores de poesia versam confortavelmente sobre o sonho juvenil do compositor: de ter reconhecimento, espaço, ser ouvido. Ter um lugar ao sol, dor muito presente no mundo digital, que pouco se importa com o outro.

De forma geral, o disco, conta o próprio Sandrera, evoca sentidos de paz, amor; diz “não” às armas, à desigualdade, ao desmatamento. Clama pelo olhar social e trafega propositadamente na contramão do universo veloz da Inteligência Artificial. Deixa seu recado político, apesar de não ser ostensivo nesse ponto.

A ficha técnica traz diferentes nomes entre os instrumentistas, o que revela um pouco do caos (que deu certo) no processo de produção. Outra raridade nestes tempos: chamar os amigos para tocar e cantar.

Mas é relevante a ingerência do guitarrista e produtor musical Ricardo Mendes no trabalho. Muito conhecido no mercado capixaba pelo apelido de Cachalote, Mendes produziu, ao lado de Sandrera, sete das oito canções, além de ter mixado e masterizado as mesmas. Profundo conhecedor do universo do álbum (folk, Beatles e companhia), Cachalote tocou banjo, guitarras, slides, baixo, violão e algumas de suas assinaturas, como a Steel Guitar.

O “Quase Hippie” de Sandrera também revela as canções Baby (1), talvez o “hit”; a homônima “Quase Hippie” (5); “Eu E Você Na Terra Do Sol” (8); e “Vende-se Um Coração: Emplacado, Seminovo, Único Dono”, feat. com o compositor baiano Maurício Baia.

O novo trabalho de Sandrera é lento, sem pressa e contemplativo. E o melhor, como já registrado: não tenta ser o que não é. Sem demérito algum por isso, é um álbum saborosamente velho.

Conheça os músicos e profissionais que participaram de “Quase Hippie”:

Produção: Sandrera, Ricardo Mendes Cachalote e Sebastian Duran (este na faixa Baby)
Compositor: Sandrera
Vocal: Sandrera
Backing vocals: Andra Valladares, Claudine Abreu e Larissa Pacheco
Banjo: Cachalote
Guitarra: Cachalote e Ded Bonfim
Sanfona: Felipe Peó
Steel Guitar: Cachalote
Slide: Cachalote e Marcos Vidigal
Tabla: Cachalote
Teclados: Arthur Barreto, Dori Santana e Pedro Ferna
Violão: Cachalote e Ded Bonfim
Violoncelo: Sanny Santos
Violino: Claudine Abreu
Contrabaixo: Henrique Mattiuzzi e Márcio Xavier
Bateria: Bruno Zanetti (em Baby) e Gustavo Araújo

Felipe Izar
Felipe Izar
Felipe Izar é jornalista músico e pós-graduado em marketing digital. São mais de 15 anos de experiência como profissional de comunicação: passou por redações de jornal, blogs, portais, assessorias de imprensa e escritório de marketing nas áreas de música, empresarial, política, de esportes e mais. Como compositor, lançou dois discos, um em 2018, “O Amor, A Escuridão E A Esperança”, e outro em 2022, “Fantástica Realidade”. Em 2023, disponibilizou no mercado curso online de assessoria de imprensa para artistas e profissionais da cultura, chamado Assessoria Autoral.

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