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Quem é Roberto Menescal?

Prometo, caro leitor. Não vou explicar aqui quem é um dos precursores da bossa nova. Mas a chamada é necessária porque gostaria de conversar sobre dois motes que chamaram a atenção esta semana.

O primeiro diz respeito a Menescal, de modo que um jornal popular do ES assim registrou no título: “Com Luísa Sonza, capixaba assina produção da versão de “Chico” em inglês”. O capixaba “desconhecido” era ele mesmo, Roberto, o Menescal, que nasceu em Vitória em 25 de outubro de 1937, apesar de ter sido criado no Rio de Janeiro.

Quem é Roberto Menescal?Já o segundo e polêmico mote foi logo após o Oscar: “Quem é Slash”? O lendário guitarrista apareceu como um “intruso” para os jovens, segundo o fervor digital e os veículos que reproduziram tal título, ao fazer um solo de guitarra na performance de Ryan Gosling da canção “I’m just Ken”, na cerimônia mais pomposa do cinema.

Muitas análises atribuem naturalidade ao fato de os ídolos terem envelhecido e, portanto, não seria obrigação das novas gerações os conhecerem. Não é obrigação de ninguém, na verdade. Mas é assustador o desprezo ao passado, o revisionismo da modernidade e o fomento à ignorância nas relações resultantes da era digital. Me parece um desconhecimento gratuito, como se isso fosse alguma vantagem.

Na relação de Menescal com Luísa há um histórico curioso. A cantora pop lançou seu hit “Chico” e o anunciou como uma bossa nova. Como ela não é da área, vamos dizer, o tribunal digital logo a incriminou: “nunca que isso é bossa nova”. Até que um dos juízes da Suprema Corte Musical entrou em ação: Caetano Veloso corroborou com a divulgação de Luísa. Entre certos e errados, a música disparou em plays e colecionou polêmicas, inclusive após o término da estrela com seu ex-muso Chico Veiga.

Convidar Roberto Menescal para tal parceria significou mirar com louvor no que seria indiscutivelmente uma bossa nova. “Chico” (English Version) foi lançada no dia 7 de março, véspera do Dia Internacional da Mulher. E é mais um acerto de Luísa Sonza, que sabe aproveitar bem o seu marketing.

Em 1985, Nara Leão e Menescal lançaram o álbum “Um Cantinho, Um Violão”, obra primorosa de uma dobradinha encantadora. Se Deus for bom, não haverá comparações nesse sentido. Mas é claro que se trata de mais um motivo para a escolha de Luísa e de sua equipe.

Cantar bossa nova em inglês também é uma marca conhecida. Nara Leão assim o fez em uma das músicas do disco em parceria com Menescal. E assim o fez Frank Sinatra na conhecida dobradinha com Tom Jobim.

Voltemos ao Slash

Quem é Roberto Menescal?Este é o outro “desconhecido”, que fez o riff de guitarra mais consagrado da História – não há necessidade, por óbvio, nomear qual. Voldemort vai achar que é para ele.

Um jovem que já lê notícias não saber quem é Slash é pior – ou tão patético quanto – que alguém mais velho da Geração Y ostentar não conhecer Billie Eilish, compositora norte-americana fora da curva que ganhou dois Oscars aos 22 anos – o segundo nesta última edição, pela música “What Was I Made For”?, do filme Barbie. A canção é parceria com o irmão Finneas O’Connel; os dois são quase um só na trajetória de sucesso.

Essa ignorância forjada pelos tempos atuais, não importa a faixa etária, é também resultado da manipulação de gostos musicais pela indústria. Há uma bolha criada, e alimentada por muito jabá, que nos impõe verdades absolutas, tal como certos padrões já disseminados: “guitarra já era”; “a música tem de ser curta, com menos de dois minutos”; “estilo tal já morreu”.

Confesso que acho estranho tudo isso quando me deparo com uma produção de trap bombada com mais de 10 minutos. Ou quando a abertura do show do cantor Jão, que tem lotado estádios, é uma música com riff de guitarra.

O fofoqueiro de plantão Léo Dias, aliás, publicou esta semana sobre o uso de bots como prática para que as músicas cheguem ao top 100 do Spotify.

Tenho afirmado, quando escrevo sobre política, que sair da bolha é um ato de cidadania. Difícil nestes tempos, não? No caso da música, sair da bolha é abdicar de uma prisão, vislumbrar a luz fora Caverna de Platão e viajar por novas descobertas. O que estamos esperando?

Felipe Izar
Felipe Izar
Felipe Izar é jornalista músico e pós-graduado em marketing digital. São mais de 15 anos de experiência como profissional de comunicação: passou por redações de jornal, blogs, portais, assessorias de imprensa e escritório de marketing nas áreas de música, empresarial, política, de esportes e mais. Como compositor, lançou dois discos, um em 2018, “O Amor, A Escuridão E A Esperança”, e outro em 2022, “Fantástica Realidade”. Em 2023, disponibilizou no mercado curso online de assessoria de imprensa para artistas e profissionais da cultura, chamado Assessoria Autoral.

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