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É osso!

É osso!

Pé de galinha, pelanca, osso. A carne de terceira já chegou à classe média alta. Acém, coxão duro e paleta já alcançam a classe média alta, afinal, o quilo dessas chamadas carnes de segunda chegam a R$ 50, o quilo, em alguns supermercados; antes, não passavam de menos da metade.

Em um passeio sem máscara por Brasília, em abril deste ano, ignorando as recomendações sanitárias e também a realidade econômica do próprio país,  Bolsonaro resolveu atacar a miséria dos nossos vizinhos venezuelanos: “Eu tô com um cachorrinho aqui. Na Venezuela esse cachorrinho estaria como? Não tem mais animais na Venezuela, comeram tudo. Não só cachorro e gato; até cavalo”.

A comunicação oficial do governo vende um país em franco desenvolvimento, apesar da miséria crescente e do alto preço do dólar que inibe os investimentos de empresas que buscam tecnologia fora do território nacional. A comunicação extraoficial do presidente, nos cercadinhos e em suas redes sociais, é outra. Passa longe do amadorismo; é estratégico: Bolsonaro fala para seus seguidores da extrema direita; a Secretaria de Comunicação da Presidência conversa com o resto do país – à exceção da esquerda, que já repele qualquer ato deste governo, numa separação abstrata que se assemelha à ação do óleo (olha ele aí, a R$ 10 o litro!) na água.

Durante a campanha eleitoral e em seu governo, Bolsonaro desferiu críticas aos acordos políticos que distribuíam ministérios em troca de apoio dos partidos, na chamada coalizão. Na prática, a teoria é outra: isolado da convivência harmônica com o Congresso e ameaçado por mais de uma centena de pedidos de impeachment repousados nos escaninhos da Câmara dos Deputados, Jair resolveu abrir a torneira para o Centrão. Alguns cargos de primeiro, e terceiro escalões e principalmente recursos financeiros destinados às bases eleitorais dos parlamentares. Em ano que antecede as eleições gerais, dinheiro para obras é filé mignon (olha ele aí, a R$ 120 o quilo!)  para Estados e municípios que sofrem com os impactos da pandemia.

A comunicação política, ao longo do tempo, foi-se tornando cada vez mais imprecisa e revelando ser uma verdadeira guerra de narrativas. Vence quem convencer seu interlocutor com a melhor história. Getúlio Vargas era o mestre da produção de fatos políticos e disseminação de notícias que circulavam em tempo real com uma velocidade surpreendente. Durante a Revolução de 30, Getúlio Vargas, no comando do país e da Aliança Liberal fez correr o país que uma batalha sangrenta ocorreria em Itararé (que fica na divisa entre São Paulo e Paraná) pela tomada do Rio de Janeiro, então capital federal. O anúncio do “conflito mais sangrento da América do Sul” antecipou um acordo de paz. A Batalha de Itararé ficou conhecida como a “que nunca houve”.

A comunicação tem esse poder de criar batalhas que nunca existiram, pintar governos de belo e até mesmo vender pés de galinha com algum requinte (imagine um jeito gourmet de prepara-la.. hummmm!!!). Mas apesar disso, comunicação não enche o prato. E quando dói no bolso e no estômago, não há narrativa que dê jeito.

É osso!

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Fernando Carreiro, 36, é jornalista e consultor de comunicação especializado em imagem, reputação e gerenciamento de crises

Fernando Carreiro
Fernando Carreiro
Há 18 anos, Fernando Carreiro vive no meio do poder e dos poderosos. Jornalista, é consultor de comunicação especializado em crises de imagem, estratégia política e comportamento humano.

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