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2 de maio de 2024
quinta-feira, 2 de maio de 2024
Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

Bruxas de hoje

Você sabia que na Europa, entre 1550 e 1700, 80.000 pessoas foram levadas a julgamento acusadas de bruxaria? Para a metade delas o destino seria a morte, quase sempre na fogueira. Subitamente todo este fanatismo absurdo sumiu! Tão rapidamente como chegou, desapareceu da “ordem do dia”. Por que será?

A pergunta fica ainda mais intrigante diante do fato de que até cerca de 1400 a Igreja Católica simplesmente dizia que bruxas não existiam! É digno de menção, a propósito, um decreto do Papa Alexandre IV, datado de 1258, proibindo execuções em função de “bruxaria”.

Esta estranha anomalia, que passou desapercebida aos olhos de larga parcela da humanidade, aguçou a curiosidade de dois pesquisadores norte-americanos, Peter Leeson e Jacob Russ. Ambos observaram, inicialmente, um detalhe: o início da “caça às bruxas” coincidiu com o da denominada Reforma Protestante.

Havia, pois, que se criar um “inimigo”, um “perigo social” que induzisse na população um sentimento de pânico, desestimulando adesões a quaisquer novas ideias ou doutrinas. Não por acaso, citam os pesquisadores, a Alemanha, berço da Reforma Protestante, foi palco de 40% de todos os julgamentos por bruxaria. A radical Escócia, e só ela, julgou nada menos que 3.563 pessoas por tal motivo. Enquanto isso, por conta de suas posições firmemente tradicionalistas, a Espanha, Itália, Portugal e Irlanda, somados, contribuíram com apenas 6% do total!

Logo depois, apontam os pesquisadores, toda uma série de tratados de paz colocou um fim a um ciclo de guerras, muitas das quais tinham como pano de fundo precisamente certas questões religiosas – e eis que então, como que por mágica, a “caça às bruxas” foi varrida para debaixo do tapete da história. Ficou apenas a lembrança, cada vez mais tênue, dos tantos anônimos que enfrentaram a morte na fogueira, elevada à condição de monumento em honra da crueldade humana.

Alguns séculos se passaram. Chegamos ao início de um novo milênio. É quando convido-o a ir à janela e contemplar o mundo dos nossos dias – e a imensa quantidade de “bruxas” que nele tem sido criadas de forma a satisfazer interesses os mais abjetos. Medite sobre os direitos civis e sociais duramente conquistados que temos perdido por conta delas – afinal, há que se sacrificar alguns por certas causas.

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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