Falemos do cotidiano mundo das compras. Como qualquer outra mulher “que se prese”, estava eu a ponto de comprar uma bolsa de uma marca famosa, gastando alguns muitos contos de “réis”. O preço não era lá dos mais razoáveis e compra seria pelo website da marca. No momento de confirmar a compra, uma sensação de inquietude veio sobre mim ao ponto de paralisar meu impulso por esse bem “escasso e valoroso”.
Questionei-me: “Por que eu preciso dessa bolsa e não compro a outra, mais barata, mais bonita? Por que eu preciso dessa bola?” Por óbvio, não concluí a compra e, desde então, coloquei-me a questionar as escolhas de compra feita por mim e por nós. O assunto não é novo, mas queria trazer para nossa pauta quinzenal minhas reflexões.
O consumo, parece-me, nos remete do sentido da vida. Há compras que preenchem a lacuna das nossas almas, como a compra de um remédio para aliviar uma dor ou alimento para nutris o corpo, e há compras que simplesmente demonstram o quão vazias estão as prateleiras da nossa existência. Nesse último há um algo inverossímil, inatingível, quiçá, supérfluo: a felicidade.
Buscamos a felicidade a todo custo e buscamos nas coisas a satisfação dessa lacuna. Em um mundo frenético, onde a ostentação se tornou a moeda social e a felicidade se mede em likes, o consumo desenfreado reina absoluto, corroendo a alma.
Na psique humana, residem desejos profundos e anseios por aceitação, pertencimento e valorização. A sociedade moderna, por sua vez, capitaliza essas fragilidades, tecendo uma narrativa onde a aquisição de bens materiais se torna a chave para a felicidade e o sucesso. Através de campanhas publicitárias apelativas e estratégias de marketing enganosas, somos bombardeados com mensagens que nos convencem de que precisamos de mais e mais: roupas da moda, smartphones de última geração, carros luxuosos… A lista é infinita.
Nos tornamos reféns de uma fábrica de felicidade, quando, em verdade, essa felicidade apregoada simplesmente não existe.
Buscamos no gasto a ascensão social, demonstrando ao mundo a própria capacidade de gastar, de consumir pelo simples fato de consumir. Estou com Contardo Caligaris, para quem o consumo “não é vir a possuir, mas poder gastar, o aumento dos preços, embora dificulte a aquisição, satisfaz o anseio de gastar mais.” Com isso não buscamos valor nas aquisições, buscamos o gasto em si, no anseio da anestesia das nossas almas.
Vejam, isso não é uma crítica ao consumo ou aos bens de consumo. É uma reflexão ao “por que” do consumo, aos motivos que nos levam, por exemplo, a consumir um carro, muitas vezes pagando o ágio em um momento de escassez temporário no mercado, mesmo que esse carro possa ser esperado por alguns poucos meses.
Enfim, não há felicidade no consumo. Não há felicidade na aquisição de bens, no gasto. Definitivamente não há. Precisamos sair do estado de menoridade e nos livrar da tirania da felicidade ilusória e buscar alternativas mais saudáveis e sustentáveis de vida. Precisamos resgatar valores como a simplicidade, a autenticidade e a conexão humana genuína.
Investir em experiências ao invés de bens materiais, cultivar relações n e buscar a felicidade dentro de nós mesmos são passos essenciais para uma vida mais plena e significativa. Continuo com Caligaris para quem a vida clama por ser interessante ao invés de feliz!
Até agora não comprei a tal bolsa e, para falar a verdade, nem vou!