O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), criado pelo governo federal em 1990, foi uma resposta aos desafios colocados para as empresas brasileiras pela abertura comercial e extinção da reserva de mercado da informática.
Toda a estrutura de produção e comercialização de bens e serviços do Brasil foi exposta a uma concorrência inédita. A exigência de programas de importação para as empresas e de anuência prévia em guias de autorização para todas as operações de comércio exterior foram eliminadas. O famoso “Anexo C”, com uma lista de 2.000 produtos cuja importação era proibida, também foi extinto.
O novo ambiente competitivo era de fato muito desafiador. Construir capacidade de produzir e comercializar bens e serviços com padrões internacionais de preço e qualidade era o objetivo comum de todos, governo e empresas. Uma tarefa muito difícil, que exige principalmente método e ambiente de cooperação.
A implantação das normas técnicas ISO (Internacional Standards Organization) da série 9000 respondia pelo método. O ambiente de cooperação ficava por conta das lideranças comprometidas em divulgar e defender a estratégia da Qualidade, como Dorothéa Werneck e Jorge Gerdau Johannpeter.
Em 10 anos, 20 mil empresas brasileiras implantaram as normas ISO 9000 de gestão da qualidade. Muitas não conseguiram e saíram do mercado e muitas outras surgiram nas oportunidades que se abriram. Ainda hoje o PBQP é um exemplo para desafios estruturais complexos, como a agenda das mudanças climáticas e da ESG.
Em 2005, criamos o projeto Qualicidades. Um convênio entre o BNDES, a UFES e o BANDES patrocinou um projeto de pesquisa aplicada sobre poder local e gestão de qualidade. Pesquisas, estudos e seminários foram realizados pela equipe em 2005 e 2006, resultando em um relatório de mais de duas mil páginas e um livro publicado pela editora Qualitymark, lançado em setembro de 2006.
Ainda hoje, o livro Qualicidades** serve de referência para estudiosos e políticos que desejam compreender, com uma abordagem multidisciplinar, a dinâmica socioeconômica dos aglomerados humanos e empreender, numa cidade, um projeto de transformação econômica e social orientado pelos conceitos da Qualidade.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT divulgou recentemente as normas ISO 18091 de Sistemas de Gestão da Qualidade em Prefeituras. Essa nova ferramenta metodológica cruza 39 indicadores de desempenho da administração municipal com os 17 ODS’s (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU.
A Academia Brasileira da Qualidade (ABQ), da qual tenho a honra de participar como acadêmico desde novembro de 2023, vem realizando seminários para divulgar a nova norma neste ano de eleições municipais.
Qualidade é autoexplicativa. Satisfação do cliente. Uma abordagem mais técnica define qualidade como sendo conformidade em relação a uma especificação ou procedimento. Não conformidade, ou não qualidade, é tudo que precisa ser eliminado na rotina das organizações.
O desperdício de tempo e de dinheiro, o abandono de ativos naturais, ambientais, de patrimônio, históricos e culturais de uma cidade são “não conformidades” que precisam ser mapeadas e trabalhadas para serem eliminadas gradualmente.
Quando assumi a Prefeitura de Vitória em 1997, minha primeira atividade logo na manhã do dia 2 de janeiro foi uma palestra para toda a minha equipe da Prefeitura do Engenheiro Antônio Maciel Neto, sobre Qualidade e Sucesso nas organizações.
Maciel foi meu colega na UFRJ, é certificado pela ASQ (American Society for Quality) e foi o principal responsável pela formulação e implantação do PBQP nos anos 90. Depois de uma carreira de sucesso como CEO de grandes empresas (Cecrisa, Grupo Itamaraty, FORD, Hyundai e Suzano) criou a Academia CEO no YouTube para ajudar na formação e no aperfeiçoamento contínuo dos executivos e gestores brasileiros.
Sua receita é simples. É preciso trabalhar a qualidade em três dimensões: conceito, método e ambiente saudável. Em primeiro lugar conceito, conhecimento organizado, diagnósticos e análises técnicas, planejamento estratégico. Em segundo lugar método, procedimentos, rotinas pactuadas, agendas programadas, reuniões eficazes, processo decisório eficaz, fluxos e normas. Em terceiro lugar ambiente saudável, cooperação e trabalho em equipe, liderança e alegria no trabalho, vida pessoal de cada um sendo valorizada e integrada ao “team work”.
O livro Qualicidades já está precisando de uma nova edição atualizada depois de 18 anos. Será preciso que as eleições municipais consagrem projetos de administrações municipais transformadoras como exemplo de que Qualidade é bom e dá voto.
vivenciamos toda esta magnífica trajetória do Luiz Paulo. Exemplo para todo o nosso Brasil. Parabéns e sucesso nos novos projetos!