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8 de maio de 2024
quarta-feira, 8 de maio de 2024
João Gualberto Vasconcellos
João Gualberto Vasconcellos
João Gualberto Vasconcellos é mestre e professor emérito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Doutor em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciência Política de Paris, na França, Pós-doutorado em Gestão e Cultura. Foi secretário de Cultura no Espírito Santo entre 2015 e 2018.

O coronelismo capixaba

Tenho trabalhado a ideia de que os capixabas são muito empreendedores. Abordei aqui as evidências disso em nossa fase colonial, sobretudo nas fazendas jesuíticas que eram muito prósperas. Não existe qualquer razão concreta para afirmarmos que houve um marasmo colonial, como fazem alguns autores. Tão pouco podemos dizer que uma barreira verde entre a costa do Espírito Santo e as Minas Gerais foi motivo de não nos desenvolvermos. São mitos. Não se sustentam nos fatos.

Quero lembrar outro dado que mostra como o Espírito Santo tem, em sua trajetória histórica, elementos que evidenciam os papéis importantes que tivemos no contexto brasileiro. No século XIX fizemos a passagem para a produção daquele que seria o grande responsável pela transformação da economia brasileira: o café. Vamos para uma breve contextualização. Com a independência, o novo país ganha maior dinâmica econômica e social. Aliás, desde a chegada da Família Real em 1808, a então colônia vislumbra novos momentos de crescimento econômico. O Espírito Santo, talvez por sua proximidade com a sede do vice-reinado, no Rio de Janeiro, recebe o plantio de seus primeiros pés de café antes ainda do país tornar-se independente.

Logo nos anos 1810 plantamos aqui os primeiros pés de café.  Nesse momento, a história do nosso estado entra em uma nova fase. Primeiro, assistiríamos à implantação das grandes fazendas escravocratas no Sul, gerando muita riqueza no Vale do Itapemirim. Cachoeiro de Itapemirim, como cidade polo desse processo, transforma-se no lugar do progresso: ferrovias, bondes, luz elétrica, cinemas, enfim todos os ícones da modernidade no início da era republicana. Mais tarde o café chegaria a todo o estado.

A estrutura política que deu sustentação a esse processo foi a do coronelismo. O novo personagem é o coronel republicano. A Fazenda Monte Líbano em Cachoeiro foi o berço do poder nessa época. Fez três presidentes, hoje governadores, do Estado: os irmãos Jerônimo e Bernardino Monteiro, e o cunhado de ambos Florentino Avidos. A república dos coronéis se implantaria entre nós com nuances de atraso e modernidade. Ela conduziria, entretanto, o Espírito Santo a outros patamares econômicos, políticos e sociais.

Como o terceiro maior produtor brasileiro de café, tivemos potência para construir ao tempo da política dos coronéis uma elite dirigente equiparada às dos grandes estados brasileiros. Para ficarmos com alguns nomes, lembremos de Jerônimo Monteiro ou de Florentino Avidos. Criamos uma identidade republicana forte nos moldes da primeira república, muito elitista, mas também muito vinculada aos ideais de progresso.

Tenho estudado os coronéis desde os anos 1980, quando comecei a escrever minha tese de doutorado. Ela acabou se transformando em livro com o nome A Invenção do Coronel: raízes do imaginário político brasileiro, editado pela EDUFES. Nele, afirmo que os coronéis representaram violência e progresso. Violência porque portavam todo o imaginário social brasileiro de machismo, nepotismo e dominação sobre os mais fracos. Progresso porque foram a face possível do capitalismo brasileiro. No caso do Espírito Santo, deram sustentação a uma república cheia de fraudes e falcatruas, mas trouxeram as inovações que o início do século XX tanto propagava.

Personagem político ambíguo, como convém às elites brasileiras, o coronel capixaba em nada ficava devendo aos demais de todo o Brasil. Em mais uma volta da história, estávamos emparelhados ao que se passava no restante do Brasil. Foram os responsáveis pelos avanços que tivemos em relação ao desprezo que o império teve para questões como educação e saúde dos brasileiros. Eram empreendedores e campeões dos melhoramentos urbanos, como bem lembrou Vitor Nunes Leal em Coronelismo, Enxada e Voto. Suas eleições dependiam das melhorias que faziam. Assim moveram nossa história.

João Gualberto Vasconcellos
João Gualberto Vasconcellos
João Gualberto Vasconcellos é mestre e professor emérito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Doutor em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciência Política de Paris, na França, Pós-doutorado em Gestão e Cultura. Foi secretário de Cultura no Espírito Santo entre 2015 e 2018.

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