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20 de maio de 2024
segunda-feira, 20 de maio de 2024
Homero Junger Mafra
Homero Junger Mafra
Advogado, ex-presidente da OAB-ES por 3 mandatos, professor de Processo Penal, marido da Ligia Mafra e pai da Laura.

Ditadura? Nunca mais

“A natureza, como a história,
segrega memória e vida
e cedo ou tarde desova
a verdade sobre a aurora.
Não há cova funda
que sepulte
– a rasa covardia.
Não há túmulo que oculte
os frutos da rebeldia.
Cai um dia em desgraça
a mais torpe ditadura
quando os vivos saem à praça
e os mortos da sepultura.” (Affonso Romano de Sant’Anna)

Nesse 31 de março comemora-se 60 anos do golpe militar que derrubou o Presidente João Goulart e salvou o país da ameaça comunista. Triste colunista.

Quantos erros numa frase só.
Em primeiro lugar não havia, nem nunca houve, qualquer “ameaça comunista” em marcha naqueles idos de 64. Ali, como hoje, o que existia era uma grande manipulação da mídia (na época imprensa escrita e falada, os grandes meios de comunicação, hoje redes sociais) para criar a falsa idéia da ameaça comunista ou, como se dizia antes, da criação de uma república anarco-sindicalista.

Assim, as reformas de base propostas por Jango (João Goulart) e apontadas como um passo para o comunismo não passavam de um conjunto de ideias para fazer o país avançar, rompendo as estruturas seculares de atraso, eram o grande mal.

Comemorar a ditadura?

Comemorar tortura, censura e morte?
Qual o saldo que nos deixou a ditadura.

Imprensa silenciada e amordaçada por anos de tortura, impedida de noticiar até mesmo a epidemia de meningite em 1971 (com a imprensa impedida de noticiar, a população não tinha acesso sequer as informações sobre a doença, sintomas e formas de prevenção).

Comemorar a ditadura, significa comemorar a tortura e morte de opositores políticos, seja dos que pegaram em armas contra a ditadura, seja contra opositores que faziam a batalha das idéias, como o jornalista Vladimir Herzog.

Num e noutro caso a tortura como regra, o crime contra a humanidade como padrão.

A jornalista Hildegard Angel descreveu cena grotesca: “No julgamento de meu irmão, Stuart Angel Jones, à revelia, já morto, no Tribunal Militar, houve um momento em que ele foi descrito como de cor parda e medindo um metro e sessenta e poucos. Minha mãe, Zuzu Angel, vestida de luto, com um anjo pendurado no pescoço, aflita, passou um torpedo para o então jovem advogado de defesa, Nilo Batista, assistente do professor Heleno Fragoso, que ali ele representava. O bilhete dizia: “Meu filho era louro, olhos verdes, e tinha mais de um metro e 80 de altura”. Nilo o leu em voz alta, dizendo antes disso: “Vejam, senhores juízes, esta mãe aflita quebra a incomunicabilidade deste júri e me envia estas palavras”.

Celebrar a ditadura é celebrar a tortura e morte de Stuart Angel Jones: “Ele foi amarrado a um carro e arrastado por todo o pátio do quartel. Em alguns momentos entre os risos, as perguntas e as chacotas feitas pelos militares, ele era obrigado a colocar a boca no escapamento do veículo aspirando todos os gases tóxicos por ele emitido.”

Celebrar 64 e a ditadura é perpetuar a Casa da Morte em Petrópolis, usada como máquina de tortura e morte, é celebrar tantos e tantos desaparecidos. “Obrigaram-no a ingerir uma grande quantidade de sal (…). Durante muitas horas, eu o ouvi suplicando por um pouco d’água”. Até hoje, o corpo de Paulo de Tarso não foi localizado.” (depoimento de Inês Ettiene Romeu, a única pessoa que sobreviveu à Casa da Morte).

Não há o que celebrar, nunca houve, nunca haverá.

Temos sim, que relembrar para que não caia nunca no esquecimento o triste tempo de dor, tortura, censura e corrupção.

Relembrar sempre, comemorar nunca.

Censura, mortos, tortura, desaparecidos.

Nesse 31 de março, digo e repito: DITADURA NUNCA MAIS.

Repito agora, reconquistada a democracia, o que disse o então Senador Arthur Virgilio, em 02 de abril de 1964: “Vou dizer aquilo que penso, indiferente à força que atualmente nos cerca, a força que pode tudo, menos esmagar ideias, menos esmagar a liberdade, menos esmagar a democracia. Força que aparentemente pode prevalecer, força que tem prevalecido em algumas oportunidades, mas que tem sido varrida, pelo mundo afora, pela liberdade, que finalmente vence sempre”, (Agência Senado).

Homero Junger Mafra
Homero Junger Mafra
Advogado, ex-presidente da OAB-ES por 3 mandatos, professor de Processo Penal, marido da Ligia Mafra e pai da Laura.

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