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Exclusivo: Lucas Arruda grita liberdade e volta às raízes em quarto disco

Quando lançou seu primeiro álbum, “Sambadi”, em 2013, o músico e compositor Lucas Arruda recebeu elogio de Ed Motta. Não só um ou qualquer um: Ed, por exemplo, o chamou de gênio e arrematou num post em suas redes sociais: “Olha esse cara, bicho!”, divulgando o link da obra.

De lá para cá, Lucas chega agora em seu quarto disco, “Ominira”, coletânia de nove faixas já lançada no exterior e que vai ao ar para o Brasil e para o mundo nesta sexta-feira, 19, em todas as plataformas digitais. Mais abaixo, leia a entrevista exclusiva de Lucas Arruda para a coluna.

A maturidade e a qualidade, presentes desde o primeiro trabalho, continuam nestes tempos, em jornada de narrativas sonoras que passou pela bossa eletrônica (Sambadi), homenageou o soul e o mundo AOR (Solar, 2015), trouxe uma pegada oitentista e pop (Onda Nova, 2019) e volta às raízes do primeiro álbum em “Ominira”, numa fusão da música norte-americana com a brasileira – e referências à música africana.

Exclusivo: Lucas Arruda grita liberdade e volta às raízes em quarto disco“Ominira”, palavra de origem Iorubá, da África Ocidental, significa liberdade. E o título veio por três motivos: pelo fato de o artista nunca ter produzido seus álbuns com a ansiedade de responder a determinado mercado; de as composições terem começado no período de pandemia, momento que tensionou o processo; e de o caminho criativo ter remetido à ancestralidade desde o princípio.

Todo esse contexto registrado até então dá alguns indicativos sobre a preferência pela música de Lucas em países da Europa e no Japão, lugares onde ele teve e tem muita abertura, a partir da parceria com a gravadora francesa Favorite Records.

Parece contraditória tal preferência. Como um brasileiro, capixaba de Guaçuí, com dois discos que trazem elementos da música brasileira, tem recepção mais calorosa no exterior?

A explicação se dá pela maneira como ele construiu seu universo sonoro. O próprio autor conta fazer parte de uma linhagem de compositores que primeiro mergulhou na música norte-americana e depois, em caminho inverso, “desembarcou” no Brasil. Assim foi o trajeto de algumas de suas principais influências, como a dupla Robson Jorge e Lincoln Olivetti, a banda Black Rio, entre outras.

“Todas essas bandas têm de forma muito clara essa fusão do funk e do soul com a música brasileira. É aí que eu me encaixo, nessa mistura. Esse lugar que, talvez, fez com que os meus discos se destacassem lá fora. Acho que o Brasil ainda não absorveu de forma completa essa proposta”, observa Lucas.

A característica, claro, não inviabiliza o álbum para o público brasileiro. Há fãs do estilo aqui, talvez não o suficiente para uma empreitada de vendas – tanto que os discos físicos só serão disponibilizados em outros países.

De qualquer forma, a faixa (com letra) “Outras Dimensões”, quarta da coletânea, é uma belíssima do álbum que acolhe nas primeiras notas. Ela já começa com o canto e tem a parceria da cantora Flávia K.

As outras duas com letra, todas do disco escritas por Fabrício Di Monaco, parceiro de Lucas desde Sambadi, são “Novos Planos” (3) e “Projeções” (9). Esta última vem cheia de participações. Dialogam nos vocais com o autor a mesma Flávia K e André Motta. E há ainda dois belos solos: de Roger Rocha, no saxofone, e de Thiago Arruda, irmão de Lucas, na guitarra. Essas camadas estão perfeitamente encaixadas na mixagem, numa sensação de continuidade a cada transição.

As baterias de “Ominira” foram gravadas por Ítalo Ferreira. E o restante pelo próprio Lucas: teclados, guitarras, baixo e voz. O multi-instrumentista é também o produtor musical de seus trabalhos.

Nas outras cinco instrumentais, destacam-se como lead os sintetizadores, sons sempre marcantes na carreira do autor. E os baixos e baterias estão perfeitamente suingados. São elas as músicas, além de uma primeira faixa introdutória: “The Bravest Heart (2)”; “4:28 am” (6); “The Mountain” (7); e “Ominira” (8).

Faltou uma, a quinta do disco, que se chama “Abraço Pro Ed”, homenagem ao gênio que reverenciou Lucas lá em 2013.

Abaixo, leia a entrevista completa com Lucas Arruda.

Felipe Izar: Como buscou esse contexto do disco de liberdade e ancestralidade?
Lucas Arruda: “Ominira” é uma palavra de origem Iorubá que significa liberdade. Neste ponto, musicalmente foi uma coisa que eu sempre fiz em todos os meus discos. Eu nunca fiz um álbum pensando em ter um hit, na estrutura (engessada) das canções ou no formato que vai caber dentro de alguma coisa. Eu nunca me preocupei com isso, com o tamanho das faixas ou se tem um refrão de tal forma. E tem a ver também com o momento em que o disco foi feito. Eu comecei a compor ali na pandemia e foi acontecendo, gradativamente, conforme esse período foi terminando. Quando eu consegui finalizar, eu precisava também de um nome que remetesse à sensação que eu estava tendo de, finalmente, concluir. É um disco que, na minha visão, é um pouco mais africano, mesmo que musicalmente não transpareça tanto nas canções. Mas minha intenção inicial, nas primeiras composições, no meu norte, tinha um pouco dessa coisa da ancestralidade. Então, eu tentei juntar esses três elementos para encontrar o nome.

O que te fez voltar agora a raízes mais brasileiras? Após uma empreitada no terceiro disco, por exemplo, que trouxe mais o universo da ombreira, oitentista?
Quando eu comecei a compor esse disco, eu estava com um pouco de saudade daquela sonoridade do primeiro, o “Sambadi”, que tem muito desse conceito da bossa eletrônica. O segundo álbum é totalmente cru (orgânico) e o terceiro mais pop, mais anos 80. Neste quarto disco, na verdade, eu tentei trazer um pouco desses elementos dos três, talvez um pouco menos do terceiro. Mas acabou sendo um caminho bem natural: me sentar no piano e as músicas começarem a sair com esse sabor mais brasileiro. De certa forma é um retorno, sim, a essa sonoridade do primeiro disco.

Que lugar é esse da sua composição na música brasileira?
Eu sempre falo que é quase como o olhar de quem ouviu música norte-americana a vida inteira para depois descobrir a música brasileira. Um dos discos que mais me influencia é de George Duke, que se chama “A Brazilian Love Affair”. Um americano tocando música brasileira. Robson Jorge e Lincoln Olivetti passam, como eu,  por esse mesmo lugar, de lá pra cá. O Azumuth, que é outra banda que me influencia muito, também. Banda Black Rio. Todas essas bandas têm de forma muito clara essa fusão do funk e do soul com a música brasileira. É aí que eu me encaixo, nessa fusão, nessa mistura. Esse lugar que, talvez, fez com que os meus discos se destacassem lá fora. Quando eu lancei o meu primeiro álbum, o Sambadi, acho que tinha muito tempo que não vinha algo com esse conceito do Brasil. Conceito, eu ainda acho, que o país ainda não descobriu completamente, está muito mais nas mãos dos gringos do que aqui. Esse viés que mescla a música instrumental com a música cantada.

Exclusivo: Lucas Arruda grita liberdade e volta às raízes em quarto discoMesmo voltando às raízes, paradoxalmente não é um disco para o mercado brasileiro…
É exatamente por isso, um olhar muito gringo. De alguém que descobriu essa música (brasileira) depois. Realmente não é uma música para o mercado brasileiro porque ela passa por momentos instrumentais e, mesmo lá fora, ela atinge um público muito específico. Na Europa, no Japão existem milhares de DJs, radialistas e fãs de música que apreciam esse estilo, um que nunca vai ser mainstream.

Vi esses dias, num post do Instagram, que você pretende entrar no universo de composições, digamos, mais palatáveis para o país. Sente falta de fazer um lançamento focado para o Brasil?
Eu realmente tenho feito coisas diferentes agora, tenho composto coisas diferentes, o que também não é uma intenção, tem sido natural. De dois anos para cá eu tenho ouvido muita coisa nova, de soul, black music. E começaram a aparecer músicas um pouco mais pop. Tenho sentido mais saudade de cantar também, em português e com letras mais populares. E tenho a intenção de lançar no final do ano um trabalho com uma sonoridade mais moderna, voltada para o Brasil. Eu sinto falta, sim, de lançar um trabalho que se adeque mais ao Brasil. Eu acho os meus discos complicados de explicar. Acho difícil de rotular, colocar numa bandeja.

Felipe Izar
Felipe Izar
Felipe Izar é jornalista músico e pós-graduado em marketing digital. São mais de 15 anos de experiência como profissional de comunicação: passou por redações de jornal, blogs, portais, assessorias de imprensa e escritório de marketing nas áreas de música, empresarial, política, de esportes e mais. Como compositor, lançou dois discos, um em 2018, “O Amor, A Escuridão E A Esperança”, e outro em 2022, “Fantástica Realidade”. Em 2023, disponibilizou no mercado curso online de assessoria de imprensa para artistas e profissionais da cultura, chamado Assessoria Autoral.

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