Juscelino Kubitschek foi o presidente que levou os brasileiros do litoral, onde estavam acomodados desde o século XVI, para o interior do país. Foi eleito em um país acanhado e saiu após nos ensinar a pensar grande.
Estudante de medicina em Belo Horizonte, França e Alemanha, o “presidente Bossa-Nova” apreciou o progresso europeu anterior à Segunda Guerra. Morou lá nos anos 1930/31.
Talvez influenciado pelos primeiros anos de estudo num seminário, tinha excelente formação humanista e bom caráter. Em sua face o sorriso era constante. Vejamos algumas de suas frases famosas, que podem inspirar nossos governantes e a oposição:
- “Costumo voltar atrás, sim. Não tenho compromisso com o erro.”
- “O otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando.”
- “Sei que a paz é mais difícil que a guerra.”
- “Não nasci para ter ódio, nem rancores, nasci para construir.”
Eleito Juscelino pelo voto popular, sua posse esteve por um fio, mas foi garantida pelo Marechal Lott. Enfrentou a tentativa de levante da Aeronáutica com a guerrilha de Jacareacanga: anistiou todos os envolvidos, os quais, inclusive, tiveram as promoções normais na carreira militar. Estudantes insuflados por Carlos Lacerda, líder da UDN, promoveram greve e quebra-quebra no Rio, protestando contra o aumento das passagens dos bondes. Juscelino convidou os lideres estudantis para irem ao palácio e, em longa conversa, os convenceu da impropriedade daquele movimento. A greve, que tinha o apoio dos deputados da UDN, foi encerrada em uma semana.
Há poucos anos, o governo anistiou de forma ampla e irrestrita os envolvidos em violências, dos dois lados, durante o regime militar no Brasil.
Recentemente o fraco governo Temer enfrentou e resolveu a ampla e complexa greve nacional dos caminhoneiros, durante uma semana. A “greve” regional da polícia no ES, com consequências desastrosas para nós todos, levou quase um mês para ser resolvida, por um governo em terceiro mandato.
A avaliação política correta da impropriedade e consequências de um procedimento vingativo, para mascarar a incompetência administrativa do executivo autoritário, que não assume seus erros, felizmente foi percebida e contornada pelo legislativo, que anistiou os policiais. Esses não saíram às ruas alegando estarem impedidos por suas esposas que bloquearam a entrada dos quartéis.
Um valor fundamental de um governo é a sua capacidade de se antecipar aos problemas e principalmente saber, sem autoritarismo, conduzir o diálogo e o entendimento com as diversas categorias.
É fato que greves são vedadas para militares, mas a constituição prevê remuneração adequada para a categoria, que enfrenta situações de extremo estresse, haja vista, o alto número de desentendimentos em suas famílias, de afastamento das funções por problemas de saúde, de policiais assassinados e suicidas. Quanto mais injusto com o povo é o procedimento do governo, mais será exigido da sua polícia e, consequentemente, pior será seu comportamento, qualificação e reputação.
O novo executivo, desprovido de complexo de culpa, com espírito leve e construtivo acertou ao assinar a lei de anistia aos nossos policiais, aprovada pela Assembleia Legislativa.
Quando o autoritarismo se impõe ao caminhar da humanidade, desvanece a boa vontade, o dever. Assim, geralmente, toma-se o atalho do conflito, que conduz à violência.
Kleber Galvêas, pintor