– Mamãe, mamãe, seu gato morreu!
Dona Venezuela quase infartou com a notícia. Tinha imenso apego pelo animalzinho.
– Inacinho, meu filho, não é assim que se dá uma notícia dessas. Você tem que me preparar. Primeiro você diz: “Mamãe, seu gato subiu no telhado”. Depois você diz: “Mamãe, seu gato caiu do telhado”. E só depois você diz: “Mamãe, seu gato morreu”.
No dia seguinte Inacinho entra correndo pela casa aos gritos:
– Mamãe, mamãe, vovô subiu no telhado!
A prisão do senador Delcídio Amaral é o fato mais emblemático da nova República Democrática Brasileira.
Não tira a crise ética e moral brasileira do colo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, mas a leva para dentro do gabinete da presidente Dilma Rousseff.
Emblemática porque se trata ao líder do governo no Senado Federal. É primeiro senador brasileiro com mandato a ser preso. E ainda porque leva junto o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, um dos cinco homens mais ricos do País.
De fato, a elite branca começa a ficar assustada.
O Supremo Tribunal Federal, aliado ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal, passam a ocupar um vazio deixado pela omissão e pela incompetência dos poderes Executivo e Legislativo.
Muita gente de rabo preso, muita gente imobilizada, paralisada pelo temor de ser o próximo alvo.
Curioso é que em pouco mais de uma hora a notícia já era comemorada nas ruas como um gol do Vasco da Gama em sua luta contra o rebaixamento.
As prisões de José Carlos Bumlai (amigo de cama, mesa e banho de Lula da Silva) e André Esteves fazem renascer a esperança do povo brasileiro num poder Judiciário forte e independente (colocação absolutamente relativa, é claro) que, ao contrário do governantes e parlamentares, têm escutado os clamores das ruas.
Azar de Delcídio Amaral, porque o Palácio do Planalto está muito mais preocupado com a prisão do banqueiro do que com a prisão do senador.
Pois é: Lula subiu no telhado.
