Nesta terça-feira, 19 de novembro, o mundo celebra o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, uma iniciativa global da ONU para reconhecer a contribuição econômica, social e cultural das mulheres que criam, inovam, lideram e transformam.
No Brasil — e aqui no Espírito Santo — cada vez mais mulheres estão à frente de negócios, seja por vocação, seja por necessidade, seja por oportunidade. Elas lideram equipes, administram recursos, geram empregos, sustentam famílias e enfrentam desafios que vão além da dupla jornada.
Mas para quem olha o mundo a partir do Evangelho de Cristo, surge uma pergunta essencial: como a Bíblia e a fé cristã enxergam o empreendedorismo feminino? O trabalho das mulheres, seus papéis no lar, sua liderança e sua atuação econômica têm, afinal, respaldo nas Escrituras? Ou seria esse um movimento contemporâneo que tensiona os chamados “papéis bíblicos”?
A resposta sincera, honesta e bíblico-reformada pode surpreender alguns: sim, há respaldo — claro, robusto e antigo — para o trabalho, a liderança e até o empreendedorismo feminino. E mais do que respaldo: há celebração.
A mulher virtuosa empreende e é elogiada por isso
A narrativa mais famosa sobre o papel da mulher no trabalho não está num tratado moderno: está em Provérbios 31, texto escrito há quase 3 mil anos.
Lá, a chamada “mulher virtuosa”: investe em propriedades (v. 16), administra negócios com sabedoria (v. 18), gera lucro (v. 24), mantém negociações comerciais (v. 24), planeja, produz, vende e lidera.
É, na prática, uma empreendedora.
E longe de ser repreendida, ela é: louvada pelo marido, admirada pelos filhos, exaltada pelas Escrituras.
O sábio não diz que ela “abandona o lar”, mas que fortalece o lar com seu trabalho. Para a Bíblia, trabalho e família não são forças concorrentes, mas realidades que podem, e devem, caminhar juntas com sabedoria.

Empreendedorismo feminino: E quanto ao homem? E quanto ao lar?
A fé reformada, desde Calvino até autores contemporâneos, se identifica majoritariamente com o complementarismo: homens e mulheres têm a mesma dignidade, os mesmos direitos diante de Deus, mas papéis diferentes e complementares na família e na igreja.
Porém, é fundamental entender o que o complementarismo não diz.
Complementarismo não significa que mulher deve ficar presa ao lar; que homem não pode cuidar de filhos; que trabalhar fora é pecado para a mulher; que o homem deve ser o “provedor exclusivo”. Esses conceitos são mais culturais do que bíblicos.
Herman Bavinck, gigante da teologia reformada, afirma:
“As Escrituras não distribuem tarefas domésticas de maneira rígida entre homens e mulheres”
Tim Keller, também reformado, lembra:
“Papéis bíblicos são posturas de coração, não listas de tarefas”
O complementarismo bíblico reforça: o marido como líder sacrificial (Ef 5.25); a esposa como auxiliadora forte (Gn 2.18); a corresponsabilidade no cuidado dos filhos (Ef 6.4; Pv 1.8); a parceria no sustento e na administração do lar.
Na Bíblia, o pai e a mãe ensinam, cuidam, disciplinam, orientam e formam. Calvino chega a repreender pais que se contentam em “apenas sustentar financeiramente” a família, chamando isso de irresponsabilidade espiritual.
Portanto, se ambos trabalham, como é a realidade da maioria das famílias capixabas e brasileira, ambos também devem compartilhar o cuidado do lar à luz do amor cristão.
Mas quem fica mais tempo “batalhando o pão”?
A Bíblia não determina essa divisão. Ela não dá um cronograma. Ela dá princípios.
Os princípios são: mútua submissão (Ef 5.21); amor sacrificial masculino, sabedoria feminina, corresponsabilidade, discernimento vocacional, ajuste conforme os dons e as estações da vida.
Para a fé reformada, baseada na doutrina da vocação (Lutero e Calvino), cada pessoa deve atuar segundo os dons que Deus lhe deu.
Dessa forma: há mulheres vocacionadas para empreender, liderar e atuar no mercado; há mulheres vocacionadas a se dedicar mais ao lar; há homens vocacionados para liderar negócios; há homens vocacionados para ser mais presentes no cuidado doméstico.
E nenhum desses cenários fere a Bíblia.
O lar cristão não é um campo de batalha de funções, mas um ecossistema de amor, parceria e serviço mútuo.

Mas afinal, a mulher pode ser provedora? Pode liderar empresa? Pode empreender?
À luz da Bíblia e da fé reformada: Sim, pode! Pode com liberdade. Pode com vocação. Pode com respaldo bíblico.
Ela não usurpa o papel do homem. Ela não desordena a criação. Ela não desonra a Palavra.
Pelo contrário, quando exerce seus dons para o bem da família, da sociedade e da glória de Deus, ela está respondendo ao chamado divino.
Como afirma Keller:
“Todo trabalho — de homens e de mulheres — é um chamado de Deus para servir o mundo”
E como diz Provérbios:
“Que suas obras a louvem às portas da cidade.” (Pv 31.31)
Empreender, para a mulher cristã, pode ser uma forma de adorar o Criador.
Aplicação para famílias capixabas
Vivemos tempos em que trabalhar fora não é mais escolha, mas necessidade para muitas famílias do Espírito Santo. Outras vezes, é vocação. Outras vezes, oportunidade. Em qualquer caso:
1. Conversem
Casais cristãos precisam discernir juntos o que é melhor para sua realidade, sem peso de tradições humanas.
2. Distribuam tarefas com justiça
Não se trata de “quem ajuda”, mas de quem participa. Ambos são responsáveis pelo lar e pelos filhos.
3. Honrem as vocações um do outro
Se Deus deu à esposa dons para empreender, o marido deve apoiar. Se Deus deu ao marido dons fortes para o cuidado, a esposa deve reconhecer.
4. Cuidado dos filhos é missão conjunta
Ambos discipulam, ambos orientam, ambos formam.
5. Lembrem-se: liderança bíblica nunca é tirania
É serviço, sacrifício, entrega.
6. A família é mais forte quando ambos caminham na luz do Evangelho
Não há competição; há comunhão.
Quando ela lidera, Deus também é glorificado
O Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino nos convida a enxergar aquilo que a Bíblia já afirmava muito antes: o trabalho da mulher é precioso, digno, necessário e pode ser profundamente espiritual.
Empreender não rivaliza com o lar. Trabalhar não rivaliza com ser esposa e mãe. Liderar não rivaliza com ser serva de Cristo.
Na lógica do Reino de Deus, tudo é vocação. Tudo é serviço. Tudo é graça.
E quando uma mulher cristã empreende com sabedoria, integridade e fé, ela não apenas sustenta sua casa — ela testemunha.
Testemunha que: Deus dá dons; Deus chama; Deus envia; Deus usa mulheres para transformar o mundo — inclusive o mercado.
No fim, a pergunta não é “ela pode?”.
A pergunta é: “O que Deus está chamando ela para fazer?”
E a resposta, muitas vezes, é justamente esta: empreender, liderar, criar, inovar — para a glória de Deus e o bem de todos.











