Falávamos dos poderosos, lembra-se? Daqueles que confundem-se com a cadeira em que se sentam e, por loucura ou vaidade, imaginam-se insculpidos em mármores. Eternos e inquebráveis. Únicos e insubstituíveis. Uma paixão irrefletida por si mesmos, ao extremo de considerarem-se donos daquela cadeira vistosa e de tudo que se vê à frente, inclusive das pessoas.
Sim. Das pessoas.
Essas são as almas que me preocupam por agora. Das pessoas que convivem diariamente com os rudes. Acordam e se deitam imaginando o semblante que terão que enfrentar novamente e o esforço emocional que deverão dispor para não morrerem mais um pouco. Os que padecem desse mal, antes morrerem de vez, desidratam lentamente sob o sol escaldante da loucura.
Desanimam de tudo. Da família, da vida profissional, da autoestima. Perdem a alma. Aliás, desanimus é mesmo isso: sem alma. E esse é o grande atrativo do mal. Desanimar você até convencê-la de que não existe razão para reagir. É que o mal existe, lamento te dizer. Existe, está por perto e não desiste de você.
Para piorar: o mal é mais forte do que você. Não adianta confrontá-lo, exatamente porque subir ao topo é muito mais difícil que jogar você morro a baixo. Um gesto muito sábio frente ao mal é fugir. Sair correndo. Morro a cima, sem nem olhar por sobre os ombros. Corra, ganhe fôlego e corra novamente, sempre para o alto.
Esse é o bem que o mal faz.
O ânimo recobra-se no caminho. No novo caminho. Existe certa soberba em imaginar que você poderá renovar as forças convivendo com o inimigo. Isso não vai acontecer. Virá sempre o desânimo, o vício preferido do agressor. Você vai querer ficar no chão, sentada com os ombros arqueados e a cerviz endurecida, enquanto passará por você muita gente correndo, fugindo alegremente do inimigo e esperando encontrar um horizonte novo.
Não desanime. Corra! O sol não se põe para os humildes.
Até breve!
