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30 de abril de 2024
terça-feira, 30 de abril de 2024
Fernando Carreiro
Fernando Carreiro
Há 18 anos, Fernando Carreiro vive no meio do poder e dos poderosos. Jornalista, é consultor de comunicação especializado em crises de imagem, estratégia política e comportamento humano.

O direito legítimo à expressão

O direito legítimo à expressão“Como você é capaz de trabalhar para quem pensa diferente de você? Como é possível defender políticos que mentem e que são péssimos representantes?” Essas interpelações pululam quase sempre em diálogos com aqueles que pouco conhecem sobre política e sobre o meu ofício no marketing político. E minha resposta é a mesma, em um diálogo muito saudável – ao menos de minha parte.

– Alto lá! Um vendedor de chup-chup ou um comerciante de uma bodega qualquer pergunta para que time torce seu cliente, a fim de decidir se ele presta ou não serviço a ele? Essa também não deve ser uma questão para mim.

– Ahhhh, mas são coisas distintas, muito diferentes – costuma devolver meu interlocutor.

– Considero que sim, são diferentes, e ainda bem, pois a segunda tem a capacidade de mudar as primeiras. A política é a grande promotora do desenvolvimento social.

– Mas, e então?

– E então que eu não procuro saber se meu cliente pensa como eu. Minha função é tornar público como ele pensa.

– Como é possível, então, defender essa corja de homens e mulheres pouco probos? – devolve-me, estendendo-se para a segunda questão.

– Alto lá! A política tem, sim, figuras pouco éticas e até amorais, mas elas são uma parte da política e não “a própria política”. Sobre a defesa, tenho uma outra alusão a fazer.

– Qual?

– Você acha que toda pessoa tem direito a um advogado para preservar seus direitos?

– Mas é claro que sim, esse é um direito constitucional.

– Pois todos, inclusive as figuras públicas, têm direito a voz, a ter propagadas suas ideias e sua própria verdade. Como se sabe, a verdade não está sempre de um lado só. Ademais, a verdade absoluta sequer existe; ela fruto de visões, perspectivas e culturas distintas.

– Não concordo com você, mas respeito.

– Você não precisa concordar, precisa compreender que a sua verdade não é toda a verdade. Há outras pululando por aí…

Esse diálogo, por exemplo, é uma verdade condicionada. Não existiu ipsis litteris, mas é uma realidade no dia a dia da minha profissão. Já fui apostrofado diversas vezes com essas narrativas. E minha resposta é sempre essa, com pequenos ajustes na linguagem – ora mais subjetiva, ora ainda mais direta.

A verdade – essa, incondicional – é que todos nós temos direito a expressar nossa opinião, nossas ideias, nossos projetos. Mesmo que o outro não faça questão de ouvir, pois não lhes é conferido certo dever –  é apenas, e tão somente, um direito de quem deseja falar. E a liberdade para essa prática também está tipificada na Carta Magna.

Logo, a atuação de um profissional de relações públicas, de propaganda ou de marketing político se assemelha à de um defensor dos direitos legais – até por ser este, o da expressão, um direito similar. Um “marqueteiro” – alcunha que refuto, embora não seja a verdade absoluta para outros colegas de ofício, que a adoram – tem por missão realçar a beleza de projetos, produtos e pessoas; vender suas qualidades. E quanto aos defeitos? Ah… você gosta de propagar os seus? Ninguém gosta. Nem mesmo os políticos. Essa parte deixamos para nossos detratores, aqueles que pouco ou nada se simpatizam conosco. Eles farão esse trabalho com muita eficiência também.

E por que estou trazendo esse assunto agora? Porque se aproxima o período eleitoral, e esses interpeladores, com ar de juízes, chegam, sem medo, com suas questões que mais se equivalem a sentenças. Direito deles. Verdade deles. Direito meu defender o trabalho sério da minha profissão de acordo com a minha verdade, que, embora não seja absoluta, se respalda em outros direitos: os dos meus clientes em se expressar.

Esta coluna, a propósito, pareceu um recado. Não é. Não sou dado a recados. Sou dado a mensagens. E você, caro leitor, pode concordar com elas ou… não. Faz parte do seu direito. E tem a ver com o meu, também.

Fernando Carreiro
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Há 18 anos, Fernando Carreiro vive no meio do poder e dos poderosos. Jornalista, é consultor de comunicação especializado em crises de imagem, estratégia política e comportamento humano.

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