Muitas vezes, quando vamos escrever uma coluna, em especial uma semanal, somos atravessados por acontecimentos que nos desviam. Mas, tenho me perguntado, como retomar o que se projetou escrever nas próximas semanas e, ao mesmo tempo, não perder acontecimentos relevantes para a cultura e a arte capixabas? De fato, este é um desafio.
Me programei para escrever sobre mulheres artistas agora em março, por um motivo obvio nesse mês. Ai, nessa quarta passada, dia 28, foi apresentado formalmente ao público a segunda etapa do Parque de Esculturas da Casa do Governador, em Vila Velha. São 15 novas obras de artistas capixabas e nacionais. Essa nova exposição reuni os artistas: Hugo Bello, Jaíne Muniz, Renato Ren, Carla Désirée, Barbara Mattos Carnielli, Paulo Vivacqua, Bruno Cabús, Renan Grisoni, Cleuber da Silva Júnior, João Wesley de Souza e Castiel Vitorino Brasileiro (todos do Espírito Santo); Anabel Antinori, Rodrigo Sassi e Siwaju (SP); Maré de Matos e Geovanni Lima (MG); Washington Silvera, do Paraná. Este espaço, agora aberto a visitação pública, tem se tornado um espaço de compartilhamento de artistas nacionais e capixabas, em um projeto amplo desenvolvido com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura). Segundo o Secretário de Estado da Cultura.
Esse novo conjunto de obras, que acabamos de inaugurar, reúne o trabalho de 17 talentosos artistas que expressam vozes e visões diversas. Uma representatividade plural e abrangente, contemplando trajetórias de nomes já consagrados e também artistas em ascensão, algo primordial ao nosso compromisso com a valorização da cultura e da diversidade no Espírito Santo. Com toda sua potência artística, ambiental e histórica, o Parque Cultural Casa do Governador é um espaço vibrante, que irradia arte e vida. É ponto de múltiplos encontros e lugar propício ao lazer, à imaginação, à criatividade e à reflexão.
Interessante pensar que esta iniciativa, coordenada pelo Secretário Estadual de Cultura, Fabricio Noronha, está em sintonia com outras localidades no país, como Inhotim, ou com a Mata do Fontelo, em Viseu (Portugal).

Me interessa, particularmente, ver as aproximações ou distanciamentos das com meus parceiros portugueses. Afinal, me interessa discutir arte pública fora do contexto anglo-saxão. Assim, o que diferencia as duas propostas é seu ponto de origem. No caso capixaba, a Secretaria de Cultura do estado se responsabiliza por toda sua gestão, o que traz facilidades, mas, ao mesmo tempo, os limites impostos à máquina pública em virtude dos entraves da Lei de responsabilidade fiscal a que o estado é submetido pelas agências de controle. Do outro, a flexibilidade do Projeto POLDRA, que coordena a ocupação do espaço português, em parceria com a municipalidade, mas não submissa a ela. São duas experiências distintas, ambas relevantes, que buscam ampliar o conceito de obra no e para o espaço público.
Somente esses dois modelos são possíveis? Somente em espaços de reserva ambiental é viável intervenções de arte pública? Eu diria que não. Estamos presenciando em Venda Nova do Imigrante uma iniciativa muito interessante.

Aqui, volto a minha ideia original para essa primeira coluna de março: uma artista mulher. Rosana Paste, artista e professora da UFES, em sua mediação com sua cidade natal, é um exemplo de a escultura pode ser pensada dentro do contexto de se habitar afetivamente a cidade. José Guilherme Abreu, um teórico português, afirma que a arte pública se efetiva com tal, na medida que se interconectam a esfera pessoal e criativa do artista, com o espaço público e com a esfera pública (relações políticas e estruturais das cidades). Ai sim, segundo este autor, temos uma obra de arte pública e não uma escultura em espaço público.
O Monumento ao Imigrante, de Rosana Paste, em construção, é mais que um monumento no espaço urbano, juntamente com a prefeitura, se estrutura todo um contexto afetivo-imersivo no qual à figura abstrata da família, se incorporam espaços de convivência compartilhada da cidade. É um projeto ousado que evidencia que a escultura pública pode ter um papel fundamental na reflexão sobre nossa memória e história, mas pode edificar um futuro compartilhado, em tempos de excessos de individualidades. Este projeto, quando terminado será uma outra opção nos modos de pensar o acesso público à arte e uma evidência de como a escultura constrói práticas culturais na cidade contemporânea.
Vistas da Rua do Lazer – Venda nova do Imigrante. Projeto do Monumento ao Imigrante. Rosana Paste (2023/24). Projeto da rua de lazer: Emilio Caliman
Finalizo minha coluna de hoje com a fala dessa grande jovem artista: “migrante aqui é pensar em todas as raças que habitaram esse território”.
Sejamos plurais e inclusivos.