O uso de um soro com prazo de validade vencido durante o tratamento de quimioterapia de um menino de oito anos no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória, pode ter prejudicado duplamente a saúde da criança. É o que dizem o médico e a farmacêutica consultados pela reportagem do Jornal ESHOJE após receberem a denúncia da mãe do jovem.
De acordo com a farmacêutica Karina Biancardi, o câncer, por si só, debilita a pessoa e a inserção de um produto vencido pode piorar o quadro. “O paciente em tratamento já possui a imunidade baixa e o soro, assim como todo produto que possui água em excesso, se torna uma fonte de microorganismos ao passar do prazo”, explicou.
Além disso, a suspensão do remédio por uma das enfermeiras do corpo clínico do hospital diminui a eficácia da quimio. “Provavelmente vai ter perda do benefício clínico. Ao realizarmos um tratamento temos que saber previamente que este regime foi testado por estudos clínicos com doses, intervalos e duração estabelecidas para funcionar positivamente”, explicou o oncologista Marcos Ceccato.
Entenda o caso
Na tarde da última quarta-feira (25), a economista Deltiane Pereira Dantas verificou que o soro utilizado na quimioterapia de seu filho de oito anos, que trata uma leucemia havia vencido desde fevereiro.
A mãe então acionou uma das enfermeiras, de quem ouviu que a quimioterapia não podia parar de jeito nenhum, porque o risco seria ainda maior. Mais tarde, segundo Deltiane, outra enfermeira esteve no local e suspendeu o procedimento, dizendo que seria compensado posteriormente.
É a segunda vez que o garoto faz tratamento contra leucemia no Hospital Infantil. A primeira foi de março de 2015 até abril de 2017, mas infelizmente a doença voltou. “Foi indicado ao transplante de medula óssea. Estou com o coração na mão e ainda acontece este tipo de coisa. É muito triste”, lamentou Deltiane.
Palavra do hospital
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, responsável pelo Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, a direção do hospital advertiu a equipe que estava no plantão no setor de oncologia na quarta-feira. Em nota, a Sesa diz que a direção da instituição reconhece que isso não pode ocorrer e que “foi feita uma vistoria no almoxarifado da farmácia e em todas as enfermarias do hospital onde ficam os insumos e não foi localizado nenhum frasco de soro com data vencida”.