Thaís Rossi – [email protected]
Horários especiais, abertura a meia porta e medo. Assim estão agindo os comerciantes que resolveram abrir as lojas na Grande Vitória, mesmo sem policiamento nas ruas. Algo que virou rotina nos últimos dias. Em uma volta pela capital, é possível perceber que pelo menos 90% do comércio ainda está fechado após seis dias com as portas abaixadas.
Manoel Romero é dono de um restaurante no Centro de Vitória. Essa foi a primeira vez que ele abriu nos últimos três dias. Mesmo assim, somente para receber mercadorias e tentar reverter o prejuízo de R$ 10 mil causado por roubos.
“Os bandidos me visitaram de sábado para domingo. Roubaram meu computador com todas as informações contábeis. E de domingo para segunda, 15 pessoas, entre mulheres e crianças, fizeram um arrastão. Arrancaram uma porta enorme e levaram panelas e utensílios. Me deram um prejuízo danado. Não estou podendo nem trabalhar, porque não tem ônibus. Estou machucado, porque me atraquei com um bandido. Meus funcionários moram em bairro de periferia. Enquanto a polícia não voltar para a rua, eu não abro”.
Já o aposentado Aloísio Matos de Souza, abriu a ótica na Av. Maruípe no lugar do filho. Funcionando em horário especial, às 12h ele baixou as portas. “Meu filho não veio porque não pode, e eu estou no lugar dele. Vou fechar 12h com medo da violência. Ontem também foi assim. E se continuar, amanhã não vai abrir. Deixo de ganhar uns R$ 2 mil por dia”.
Elemilton Miguel Coelho é dono de uma loja de roupas na mesma Avenida. Abrir o comércio é de acordo com o dia. E com as contas vencendo, está cada vez mais difícil. “Nos não estamos seguros, está um caos. Temos medo desses arrastões que estão acontecendo. A gente decidiu abrir, mas é de acordo com o decorrer do dia. Na segunda abrimos, mas um boato de arrastão na Av. Marechal Campos nos fez fechar. Ontem foi atípico, porque não teve ônibus, ficou deserto, e nos fechamos de novo. E hoje estamos aqui, porque não podemos entregar. É pela necessidade. Outros comércios abertos ao lado nos encorajam a abrir. Fora que nos temos despesas, encargados. E se você não paga, é reajustado. O governo deveria ver isso. Cheques foram dados, duplicatas, estão vencendo. Estamos encurralados, cada dia que passa é pior. E as pessoas não estão vindo para rua comprar o que precisam”.
Já o gerente administrativo de um kilão em Jardim Camburi, que preferiu não mostrar o rosto, tenta se sentir um pouco mais seguro com a passagem do exército na frente do local.
“A gente esta funcionando em horário reduzido. Para garantir a segurança, estamos buscando os funcionários em casa. Temos acompanhando a movimentação de militantes ao lado de fora da loja, com seguranças externos. Estamos tentando fazer o possível para garantir a segurança do cliente, e atender as necessidades de urgência”.
Lotérica lotada
Na Avenida Serafim Derenzi, que fica um pouco mais a frente, a dificuldade foi para quem precisa pagar as contas. A fila em uma lotérica era enorme, e a espera era de até 2h30. Quem estava na fila afirmava que era a única lotérica aberta. Por funcionar próxima ao Quartel da Polícia Militar, muita gente se sentiu segura para sair de casa.
“Ta meio caótico, a fila só vai crescendo. Só tem essa para atendimento, está tudo fechado e eu preciso pagar as contas que estão vencendo, vem os juros. As pessoas precisam receber. Não tem jeito, ficamos a mercê. Hoje está melhor, porque ontem virou a esquina!”, afirmou o gerente de restaurante, Luiz Phelipe dos Anjos.
A auxiliar de serviços gerais Maria da Glória Gomes chegou as 9h30. 1h30 depois, ainda não tinha sido atendida. “Está muito difícil. Não vou conseguir pagar a conta de luz, porque a caixa não recebe. Só mesmo a de água e alguns boletos. Só Deus que horas eu vou sair daqui”.
Já o porteiro Renato Correia mora próximo, mas relatou que muitas pessoas vieram de longe para conseguir pagar as contas. “Essa greve esta gerando dificuldade. Esta chovendo, tem gente a mais de 1h30 aqui. Espero que o governo resolva logo, porque tem quem venha de longe pra pagar contas. Isso porque as lotéricas mais distantes não estão abrindo com medo da violência”.