Uma pesquisa, realizada no hospital público de referência terciário por trauma – Jayme dos Santos Neves, no Espírito Santo, analisou os prontuários eletrônicos de 62 mulheres entre 17 e 60 anos, de 2013 a 2018, e revelou que o trauma facial pode ser considerado um importante marcador de tentativa de feminicídio. O objetivo do estudo, que acaba de ser publicado na revista científica Craniomaxillofacial Trauma & Reconstruction, foi realizar um levantamento epidemiológico de trauma facial em mulheres que sofreram agressão física por parceiro íntimo.
A idade média das pacientes mais atingidas por trauma de face foi entre 20 e 29 anos (33,9%) e 50% das pacientes eram de raça mista. Quando separados por dias da semana, o trauma facial foi mais comumente infligido aos domingos (24,2%) e aos sábados (22,6%).
Das 62 mulheres incluídas no estudo, 47 tiveram fraturas faciais e sete tiveram mais de uma fratura. 40 fraturas (72,7%) estavam no terço médio e superior da face, enquanto 15 fraturas (27,3%) estavam no terço inferior da face.
Segundo a cirurgiã Buco-Maxilo-Facial e coordenadora do Capítulo do Espírito Santo do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, Gabriela Mayrink, que é uma das autoras do estudo, o terço médio é mais fácil de fraturar que o inferior e normalmente está relacionado a traumas de baixa energia, como agressões físicas, com a mão, por exemplo. Fraturas de mandíbula normalmente requerem uma energia maior do trauma.
Os sinais e sintomas mais observados foram edema (56,5%); equimose periorbital (35,5%) – sintoma semelhante a um hematoma, que se forma ao redor dos olhos apos um trauma na região superior da face; dorso nasal desviado (22,6%) e hematoma (16,1%).
A especialista reforça que os profissionais de saúde devem estar atentos a essa correlação, pois muitos casos de tentativa de feminicídio passam despercebidos ou são atribuídos a outra etiologia. “A violência contra as mulheres é um desafio para a saúde pública. Envolve mulheres de todas as idades, status socioeconômico, culturas e religiões. Precisamos estar atentos aos primeiros sinais de violência para evitar que incidentes de maiores proporções aconteçam”, conclui Gabriela Mayrink.