De origem indígena e africana, a panela de barro é uma das maiores riquezas culturais do Espírito Santo. Ela depende do trabalho artesanal das paneleiras, que modelam o barro sobre as margens do manguezal de Goiabeiras, Vitória. O utensílio é a peça-chave para o sucessos dos pratos típicos do Espírito Santo, que são a moqueca e a queridinha da Semana Santa, a Torta Capixaba.
A panela de barro não apenas pelas características únicas do utensílio, mas por todo histórico que fica por trás da produção. Confeccionada por famílias de paneleiras que ensinam a técnica de geração em geração, ela sustenta muita gente. A presidente da Associação das Paneleiras de Goiabeiras, Berenicia Corrêa Nascimento, tem 43 anos de experiência na modelagem da panela de barro e contou que foi sua bisavó que ensinou as gerações até chegar a ela. Berenicia garante que já modela desde criança e começou com pequenos cinzeiros, jarrinhos e bonequinhos de barro. “A confecção das panelas é tradicionalmente um trabalho familiar, e ele depende de muitas etapas para chegar ao produto final que vai para as cozinhas das casas capixabas”.
A representante das paneleiras conta que a primeira etapa do processo é a retirada do barro do Vale do Mulembá, que fica a cerca de 20 minutos do Galpão de Goiabeiras. Lá o barro é pisado para tirar as impurezas e, depois, vendido em bolas aos artesãos, que trabalham durante todo o dia no galpão. No espaço, além da confecção também acontecem as vendas. “A gente molha a cuia para conseguir moldar o barro no formato certo e, depois disso, levamos a panela para uma bancada para secar. Em seguida nós tiramos o excesso de barro no fundo e voltamos para a bancada para secar a parte de baixo”, explicou. Não acaba por aí: tem as mãos que dão acabamento, polimento e a queima – com fogueira ao ar livre.
Antonina Gomes trabalha nesse processo há mais de oito anos, e diz que cada etapa é importante. “Eu faço o polimento da panela antes de ir para o fogo. Um trabalho feito com a pedra do rio, que é mais lisinha, senão arranha na panela deixando riscos”, explicou.
O sustento vem do barro
Mais de mil panelas de barros por semana que saem do Galpão das Paneleiras. Elas são feitas dos mais variados tamanhos e formatos. A confecção, além de dar sabor e valorizar a cultura do Espírito Santo, também dá o sustento a muitas famílias capixabas. Como a de Lucineia de Jesus, que é paneleira há 23 anos, que criou seus filhos com o dinheiro conquistado no ofício. “As panelas foram um meio de sustentar meus filhos, e hoje nós vivemos só disso. Eu e meu marido trabalhamos na confecção da panela de barro, e minha filha já faz artesanatos com o barro. São muitas pessoas que eu conheço que o maior sustento delas sai daqui. Principalmente agora na época da Semana Santa as vendas aumentam bastante, nos dando uma segurança para o resto do ano”.
A história, o artesanato, a cultura e a gastronomia unem o povo capixaba através das panelas de barro, seja na queima, no preparo, distribuição e até no preparo dos pratos, a panela capixaba conta a história de muitas gerações que já passaram e virão a fazer parte da nossa cultura.
Da produção ao sabor: turistas querem tudo
O processo com que a panela de barro capixaba é feito é tão detalhado e tradicional, que é valorizado por pessoas de todo Brasil e mundo afora. Os turistas passam pelo galpão para ver de perto toda produção. Assista o vídeo e veja como todos se encantam com ela.
https://www.youtube.com/watch?v=ifxO4lGo_MA
