No mês de incentivo à doação de órgãos, uma das propostas da campanha Setembro Verde é mobilizar famílias para a importância dessa ação. No Espírito Santo, cerca de 1300 pessoas estão na lista de espera para o transplante de órgãos e tecidos, de acordo com dados colhidos pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) no dia 11 de setembro.
Um dos empecilhos para a doação é a desinformação que ainda existe em torno do tema.
Em 2020, 27 doações efetivas já foram realizadas no Espírito Santo. Os dados se referem ao período correspondente entre janeiro e o dia 11 de setembro. No mesmo período de 2019, foram 32 doações e, em 2018, o estado registrou 25.
José Carlos de Oliveira sabe bem a importância da doação. Há cerca de dois anos, o aposentado, de 63, ganhou um coração novo. Por causa de um problema cardíaco, ele ficou internado por três meses, totalmente paralisado. “Meus órgãos não funcionavam porque o coração estava dilatado e não irrigava mais o sangue”, conta.
Após uma crise, José Carlos conseguiu o transplante do coração de uma jovem de 23 anos, que teve morte encefálica. Cinco dias depois da cirurgia, o aposentado já estava recuperado da anestesia e, após um mês, teve alta hospitalar. “Eu acordei e vi que o coração tinha voltado a bater e tudo tinha voltado a funcionar”, conta.
Hoje, José Carlos possui uma rotina ativa de exercícios e faz exames de rotina para monitorar a própria saúde. O aposentado também ministra palestras falando da importância da doação dos órgãos. “Se não fosse essa doação, eu teria morrido”, destaca.
Os órgãos e tecidos que lideram a lista de espera no Espírito Santo são os rins, com 993 pacientes na lista de espera pelo transplante, seguido por córneas (316) e fígado (26). Os dados foram coletados no dia 11 de setembro.
O cirurgião cardiovascular Melchior Luiz Lima afirma que o maior obstáculo para o transplante é a escassez de órgãos. De acordo com ele, o problema é causado pela falta de informação. “Tem pacientes que morrem na fila de espera porque muitas famílias de possíveis doadores têm dúvidas sobre a morte encefálica e acreditam que o familiar ainda pode se recuperar”, destaca.
Para o profissional, a chave para resolver o problema é a divulgação de mais informações sobre a doação. “Existem estudos solidificados comprovando a impossibilidade de vida após a morte encefálica. Esse diagnóstico é feito por dois neurologistas, não só clinicamente, mas por meio de exames também”, destacou.
Mesmo com o panorama de escassez de órgãos, ainda existem bons exemplos. Entendendo a importância da ação, Maura Mendes Leôncio decidiu doar um dos rins há 15 anos.
A receptora foi Ieda, uma colega da comunidade religiosa que Maura frequenta. “Ela já estava desenganada. Não podia fazer hemodiálise. Então, senti no coração o desejo de doar”, afirmou.
Após exames, o transplante foi feito. Hoje, as duas são amigas e mantêm contato constante. Maura conta que a doação de órgãos é um tema muito presente nas discussões da família. “Aqui todo mundo é doador. Sempre conversamos sobre isso, porque todo dia a gente vê pessoas precisando”, conta.