BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) — O Banco Central decretou, nesta terça-feira (18), a liquidação do Banco Master após meses de dificuldades financeiras da instituição. No mesmo dia, a Polícia Federal prendeu o controlador do grupo, o banqueiro Daniel Vorcaro.
Em nota, o BC afirmou que a decisão foi motivada pela grave crise de liquidez do conglomerado e pelo comprometimento significativo da situação econômico-financeira, além de graves violações às normas do sistema financeiro.
A liquidação deve resultar na maior operação de resgate da história do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que terá de desembolsar cerca de R$ 41 bilhões para atender aproximadamente 1,6 milhão de credores com depósitos e investimentos cobertos pela garantia. Apesar do volume, o BC avalia que não há risco para o sistema financeiro, já que o FGC possui R$ 122 bilhões em caixa.
Além da liquidação do Banco Master, o BC colocou o Banco Master Múltiplo sob regime de administração especial temporária por até 120 dias. Apenas o Will Bank foi preservado, devido ao interesse de investidores na aquisição do banco digital. A administração especial será conduzida pela EFB Regimes Especiais de Empresas.
A decisão ocorre no contexto da Operação Compliance Zero, da Polícia Federal, que investiga uma fraude estimada em R$ 12 bilhões. O sócio de Vorcaro, Augusto Lima, também foi preso. De acordo com a PF, havia indícios de que Vorcaro poderia deixar o país; ele foi detido quando se preparava para embarcar para o exterior. A defesa nega tentativa de fuga e afirma que ele viajava a Dubai para tratar da venda do banco.
O anúncio da liquidação ocorre menos de 24 horas após a Fictor Holding Financeira apresentar uma proposta de compra do Banco Master — operação que incluía investidores dos Emirados Árabes Unidos. Esses investidores, porém, não tiveram os nomes divulgados, e interlocutores do mercado afirmam que havia desconfiança sobre a negociação.
Segundo o BC, a adoção do regime especial no Banco Master Múltiplo foi a alternativa mais adequada para preservar o funcionamento da Will Financeira, controlada pelo conglomerado. A liquidação também abrange o Banco Master de Investimento, o Banco Letsbank e a Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários. Juntas, as instituições representam 0,57% dos ativos e 0,55% das captações do sistema financeiro nacional.
Como funciona a liquidação
A liquidação é adotada quando o BC considera que a situação da instituição é irrecuperável. Nesse regime:
* as atividades são interrompidas;
* os administradores são afastados automaticamente;
* um liquidante nomeado pelo BC assume a condução dos trabalhos;
* os bens de ex-administradores (dos últimos 12 meses) e controladores ficam indisponíveis até a apuração das responsabilidades.
A liquidação, porém, não significa falência imediata. O liquidante poderá solicitar a falência à Justiça, caso obtenha autorização do BC.
Crise e investigações
O Banco Master enfrentava problemas de liquidez e se tornou alvo de investigações por suspeita de irregularidades. O banco ofertava CDBs com remuneração muito acima das práticas de mercado — chegando a 140% do CDI — utilizando a garantia do FGC como estratégia de marketing.
O Master ainda mantinha uma linha de empréstimo de R$ 4 bilhões com o FGC, inicialmente válida até setembro, mas prorrogada até novembro.
Em outubro, ocorreram as últimas reuniões entre dirigentes do Banco Central e representantes do Master e do BRB (Banco de Brasília), que chegou a negociar a compra do banco, mas teve a operação rejeitada pela autoridade monetária.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a pasta está à disposição para colaborar com o BC, caso seja necessário. Ele evitou comentar detalhes, mas disse ter “certeza de que, para ter chegado a esse ponto, o processo deve estar muito robusto”.
NATHALIA GARCIA E ADRIANA FERNANDES











