A santidade não começa no mosteiro, mas na segunda-feira.
Na mesa de trabalho, no trânsito lento, na conversa breve com quem precisa de paciência. O chão da eternidade é o mesmo da rotina — gasto, comum, cheio de pequenas distrações. É ali, no território comum das repetições, que Deus costuma passar despercebido.
É um grande engano imaginar que a vida espiritual se alimenta apenas de experiências sublimes. O Céu gosta de coisas pequenas. Um olhar manso, uma tarefa bem-feita, uma promessa cumprida sem alarde. É nas repetições que a alma se afina, que o coração se educa para amar sem espetáculo, como quem rega o jardim sabendo que as flores não nascem por decreto.
Há quem espere grandes ocasiões para ser bom. Mas o bem verdadeiro é quase sempre desinteressante aos olhos do mundo. Ninguém faz manchete por ter lavado os pratos com alegria, por ter ouvido sem interromper, por ter deixado o último pedaço de bolo. E, no entanto, é dessas miudezas que se constrói o edifício da virtude.
A rotina é uma escola de humildade. É nela que somos obrigados a recomeçar sempre, mesmo sem aplausos. Todo dia, as mesmas lutas, os mesmos tropeços, os mesmos esforços discretos. É uma espécie de martírio voluntário, silencioso e fecundo, capaz de moer o egoísmo e reduzir a soberba com o trabalho bem acabado. Aliás, dizia-me um amigo que o trabalho bem feito vale tanto quanto a oração. Talvez valha mais — porque é oração feita com o corpo, com o cansaço, com o suor que santifica o mundo. O cotidiano é o altar invisível da vida cristã.
Passar o café, apertar parafusos, corrigir provas, trocar fraldas, responder e-mails, tudo pode ser lugar de oração. É fazer o comum como gente comum. E para gente comum. Sem firulas.
No fim das contas, a questão do cotidiano é a questão da eternidade.
Porque o tempo envolve a alma, e cada instante pode ser o momento fecundo para um gesto ordinário mas cheio de delicadeza, desses capazes de mudar a história do mundo para sempre.
Até breve!










