Essa semana, a vida me colocou diante de um daqueles momentos em que tudo se estreita e se concentra em uma única pergunta: “Vai dar certo?”. Minha mãe precisou passar por uma cirurgia de urgência, e, enquanto os médicos trabalhavam para restaurar sua saúde, eu me ocupei de arrumar as coisas dela. Não era apenas um gesto prático; era como se, em cada dobra de roupa e em cada objeto guardado, eu tentasse manter viva a presença dela na Terra, como quem cuida de um altar silencioso.
Entre fotos antigas, trabalhinhos de infância guardados com carinho, lembranças do casamento dela com meu pai, fui atravessada por um turbilhão de memórias. Percebi que ali estava condensada não só a história dela, mas também a minha e a da nossa família. Era impossível não sentir, com uma força quase física, a importância dos pais na vida de um filho. Eles são a raiz e, ao mesmo tempo, o abrigo.
Na iminência da perda, tudo o mais se torna rarefeito. Preocupações cotidianas, ambições, pequenas irritações… tudo perde cor e peso. O que restava em mim era um desejo simples e absoluto: ter minha mãe de volta, saudável, tomando café conosco nos domingos preguiçosos.
A cirurgia foi um sucesso. Ela agora se recupera, e nós, como família, também nos refazemos. Mas algo mudou. Momentos assim solidificam o que já estava lá, mas que o barulho da rotina nos impede de perceber: a essência de quem somos juntos. É como se, ao vislumbrarmos a possibilidade da ausência, aprendêssemos novamente a saborear a presença.
Aprendi, mais uma vez, que saúde é o bem mais precioso — e que não basta dizê-lo; é preciso senti-lo na carne, no medo, na espera, na alegria do reencontro. A vida, às vezes, nos dá esses choques para que possamos alinhar o compasso, reorganizar o que realmente importa e devolver ao afeto o lugar central que ele merece.
Quando penso naquele dia, vejo que arrumar as coisas da minha mãe não foi apenas arrumar. Foi um ato de amor, um diálogo silencioso com a história que compartilhamos, e uma promessa: a de continuar valorizando cada instante, porque, no fim, é isso que nos sustenta quando tudo o mais se desfaz.










