Não importa a situação. Não importa o momento. Para Flávia Novaes Pires Estevão, que é cega, a superação das adversidades e barreiras do seu dia-a-dia é uma constante em sua vida. “Flavinha”, como é conhecida por todos os seus amigos e colegas de Prefeitura, trabalha há 31 anos atendendo ao público e às comunidades.
Quando iniciou a sua carreira de servidora municipal foi telefonista geral por muitos anos. Há nove, graduou-se em Serviço Social e, por ser funcionária efetiva da área administrativa, hoje atua na recepção da Secretaria Municipal de Assistência Social fazendo a triagem dos encaminhamentos das pessoas para o PSB – Proteção Social Básica – PSE – Proteção Social Especial – e de tantos outros programas sociais da secretaria.
Adoro este trabalho, afirma. “É uma atividade que tem o meu perfil. As pessoas que nos procuram aqui neste setor às vezes chegam sem a mínima informação dos seus direitos. É neste momento que eu e os meus colegas atuamos informando e encaminhando para os diversos programas sociais”.
Quando o amor acontece
Mas os grandes acontecimentos na vida de Flavinha não são os relativos ao trabalho, “isto é mole”! Diz ela, em respeito à sua vida particular. Tudo aconteceu quando ainda era telefonista e conheceu o seu marido. “Na verdade eu estava cansada de tantos namorados que não me despertavam a confiança, interesse, segurança e a paixão em dizer que este era o grande amor da minha vida. Era 1999 e a minha ginecologista foi a pombo correio da história. Ela conhecia um rapaz que também era cego e telefonista na Prefeitura de Cariacica e, em nome da nossa amizade tinha dado o meu número de telefone pra ele me ligar.
Não dei muita importância porque sempre tive resistência em me relacionar com cegos, por acreditar que eles não poderiam me proporcionar o carinho e a segurança que tanto procurava. Eu sempre tive muitos namorados e todos enxergavam. Mas nenhum tinha aquela pegada para ser para sempre! E para complicar a situação, uma noite sonhei com um rapaz que me dizia que me amava e queria casar comigo. E aquela voz ficou marcada na minha memória.
Um belo dia estava trabalhando e Daniel Estevão me ligou dizendo que era amigo da minha médica, servidor público em Cariacica, cego e que estava interessado em me conhecer. Ao ouvir aquela voz, a terra tremeu! Era a voz do meu sonho. Primeiro ficamos amigos e após oito anos de namoro, casamos em janeiro de 2008. E este ano foi de muitas conquistas para mim porque em julho colei grau e em seguida, engravidei em outubro.
A fé que move montanhas
Em junho de 2009, meu filho nasceu. Nasceu cego com o diagnóstico médico, dos melhores especialistas, de que nunca iria enxergar. Com três meses de vida ele já tinha passado por três cirurgias que os médicos afirmavam sempre a mesma realidade. Foram tempos difíceis, mas tanto eu quanto o meu marido acreditávamos na fé divina e, não medíamos esforços para o nosso filho.
Quando ele completou cinco meses pedimos que ele fosse submetido a um teste com um psicopedagogo especialista em baixa visão e cegueira. O teste foi um sucesso, pois estava enxergando. A equipe médica ficou muito surpresa e admitiram que era um grande milagre. O milagre da vida. Um milagre de Deus! Hoje, com sete anos, Samuel Novaes Estevão, é uma criança normal. Feliz como qualquer outra criança de sua idade”, finalizou Flavinha.