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Futebol SA: mercado, financiamento e inovação

O ambiente do futebol brasileiro está passando por profundas transformações. A criação da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) integra o nosso mercado aos negócios internacionais, atraindo investimentos estrangeiros e gerando empregos, inovações e múltiplas oportunidades. É um novo ciclo de desenvolvimento que se abre e tem fortes impactos em toda cadeia produtiva do esporte, da formação de atletas ao streaming.

O novo marco legal, aprovado no Congresso Nacional, tem como princípio fundamental a liberdade econômica. Um mercado mais livre potencializa mais a atividade empresarial e o movimento de profissionalização. É a oportunidade de descolar a gestão do futebol dos seus tradicionais modelos associativos. Os regimes de associações autárquicas já provaram ser inadequados à competição global.

Note-se que essa mudança regulatória no futebol é similar ao que ocorre em outros setores da economia como ferrovias, portos e telecomunicações. Os resultados verificados têm sido os mesmos: abertura de mercado, atração de investimentos, modernização e desenvolvimento de produtos e processos.

Uma breve síntese de resultados das mudanças que aprovamos no Congresso: As ferrovias têm mais de R$ 133 bilhões em investimentos previstos; as concessões rodoviárias garantiram R$ 37 bilhões em investimentos para mais de 6 mil quilômetros de construção, duplicação e recuperação de rodovias; com aeroportos, foram arrecadados R$ 5,5 bilhões na privatização de 34 terminais; em 33 arrendamentos portuários já há R$ 1,4 bilhão em investimentos contratados; só no último mês de dezembro, o Pix movimentou mais de R$ 716 bilhões, desintermediação do sistema bancário.

O torcedor pode pensar que essas coisas não tenham relação com o futebol. Mas são mudanças no ambiente de negócios que afetam as decisões de investimentos. Na final do mundial de clubes, o clássico Palmeiras e Chelsea deu uma dimensão do desequilíbrio de forças no espetáculo. O time inglês, medindo atleta por atleta, nos parâmetros de transferências de mercado, valia 5 vezes mais que a equipe paulista. Então, é preciso recordar, que a Inglaterra é o berço do futebol e das reformas liberais que potencializam investimentos privados.

Não só na Inglaterra, mas nas outras grandes Ligas da Europa – Espanha, França, Alemanha e Itália, quase todos os clubes são entidades privadas, no modelo de clube-empresa. As sociedades anônimas centralizaram o capital, criaram poderosos grupos de investidores e ampliaram escalas de atuação com renovadas capacidades de gestão. A abertura de capital cria seus próprios controles e formas de regulação na administração do futebol.

O negócio do futebol vive acentuados processos de concentração monopolista. A ascensão do capitalismo no jogo ultrapassou o simples estágio das artes e habilidades técnicas. A televisão, nos últimos anos, combinando exposição de marcas, valorização de patrocínios e direitos de transmissão, exacerbou vantagens financeiras absolutas de alguns poucos clubes contra a quase falência de muitos.

As diferenças cumulativas, tendem a ficar inigualáveis e matar o próprio princípio da competição. As descontinuidades ficaram tão exageradas que não podem mais ser igualadas por melhorias incrementais de gestão. Criamos, internamente, diferenças ainda maiores do que aquelas observadas nas comparações internacionais.

Associado ao desequilíbrio financeiro, vieram a inflação de custos e contratos e a explosão do endividamento. A dívida de 20 clubes, entre os maiores do país, alcançou mais de R$ 10 bilhões no ano passado. Um clube como o Botafogo com faturamento de R$ 156 milhões (2020), jamais poderia equacionar uma dívida de R$ 950 milhões. No regime de centralização de passivos, os 20% de receita não cobririam nem os juros da dívida.

Ficamos presos num modelo de cessão temporária de direitos. Foram 3 anos de buscas por um modelo de negócios que efetivamente não evoluiu porque a magnitude das dívidas e da necessidade de investimento exigia um tipo de relacionamento com mais garantias para os investidores. O Cruzeiro foi rebaixado dentro e fora do campo, com receitas encolhendo 2/3, caindo de R$ 363,8 milhões em 2015 para R$ 123 milhões em 2020.

Os debates, tantos nos clubes quanto na imprensa, eram pouco produtivos. A discussão entre valores e preços não tinha o menor fundamento. Estimava-se o capital circulante líquido, a diferença entre ativos e passivos de curto prazo, para medir a necessidade de financiamento. Ocorre que os negócios não projetavam capacidade de retorno para pagar esse financiamento.

Todavia, a importância da abertura de capital vai muito além do financiamento e gestão. A questão fundamental está nas possibilidades de inovação. Na criação de novos mercados em audiência global, novos processos de trabalho com inteligência de dados, novas formas de organização das competições. O esporte é uma parte do desenvolvimento, que se conecta com cultura, comunicações, saúde, varejo e muito mais.

Assim, as sociedades anônimas de futebol se apresentam num contexto de mudanças regulatórias no Brasil. Só com mudanças radicais no modelo de gestão haverá mais financiamento e capacidade de inovação. Vamos virar esse jogo e garantir a sobrevivência de instituições centenárias, que mobilizam paixões de milhões de brasileiros. Que o Vasco da Gama seja o próximo a romper com as amarras do amadorismo, em benefício das multidões.

Neucimar Fraga
Deputado federal do Espírito Santo pelo Progressistas

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