“É importante criar uma cultura de solidariedade”, afirma a empreendedora Alexandra Reis, 37. É com pessoas como ela, que desde criança via a mãe distribuir alimentos para pessoas em situação de rua semanalmente, que é possível comprovar que uma boa ação pode inspirar outras pessoas, criando uma corrente de caridade.
Durante a pandemia do Covid-19, a situação dessas pessoas que não tem onde se isolar agrava ainda mais a fome, solidão e o risco de contaminação.
Alexandra é “vizinha” de muitas dessas pessoas que vivem em situação de rua, e após as medidas de isolamento social terem sido aplicadas no Espírito Santo, ela pôde ver o desespero deles de perto.
“Eu sempre tive esse costume de distribuir alimentos para as pessoas que vivem nas ruas, mas agora vi ainda mais necessidade de ajudá-los. Alguns amigos se mobilizaram para ajudar nessas ações, ficam responsáveis por arrecadar as doações. Eu e minha irmã preparamos as marmitas e os kits de lanche, e as pessoas se revezam em nos dar carona para fazer a distribuição. Na páscoa fizemos uma ação especial com o kit completo com almoço, lanche, sobremesa e kits de higiene”, contou.
Para ela, é importante se doar sem julgamentos, pois a fome não vê política ou classe social.
“Fazemos a divulgação do nosso trabalho através das redes sociais, para inspirar outras pessoas. Já ouvi de amigos que eu ajudei a perceber que não precisamos esperar a atitude de ajudar de outras pessoas, mas que podemos fazer nossa parte e assim descobriram um lado melhor deles mesmos. Infelizmente, em uma dessas situações, recebemos o julgamento de uma pessoa que disse ter reconhecido um assaltante entre as pessoas que estávamos ajudando. Fiquei muito triste pois a ação solidária não é seletiva, não peço antecedente para ajudar quem passa fome. e ao contrário do que imaginava, recebi muito apoio e aumentaram as doações após esse episódio”.
A empreendedora Rossana Viana, 41, começou a praticar a caridade dentro de um contexto religioso, nas casas espíritas que frequenta. Mas a prática de se doar passou a fazer parte da vida dela.
“Com a pandemia, além das pessoas em situação de rua, passamos a receber muitos pedidos de ajuda de famílias com crianças passando fome dentro de casa e aumentamos as doações. É um trabalho coletivo. As pessoas fazem as doações e eu preparo e levo”.
Rossana transformou a caridade em um modo de vida e está sempre procurando grupos e ações para participar e ajudar de alguma forma.
“Distribuo cerca de 50 marmitas e lanches por dia. Fazemos questão de reforçar os cuidados de higiene, com máscaras que são confeccionadas e doadas por um amigo. Juntos somos mais fortes”.
Se puder tirar um lado bom da situação que o mundo está passando, é na quantidade de pessoas que a procuram para ajudar.
“As pessoas estão mais caridosas. Tem muita gente se mobilizando. E recebemos doações de todo tipo, desde alimentos, a roupas, brinquedos, cobertores e kits de higiene e de proteção. Também trabalhamos com a conscientização dessas pessoas. Não adianta ir pra rua para levar um problema, e ao mesmo tempo, não podemos virar as costas para eles agora. As pessoas estão precisando de ajuda, e espero poder inspirar outras a fazerem o mesmo”.