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Kauã e Joaquim: dois anos depois, relembre as mortes que chocaram o ES

Kauã e Joaquim: dois anos depois, relembre as mortes que chocaram o ES
Foto: Reprodução/Facebook

Na próxima terça-feira (21) completa-se dois anos das mortes que chocaram a população de Linhares e do Espírito Santo. Os corpos dos irmãos Joaquim Alves Salles, de 3 anos, e Kauã Salles Butkovsky, 6, foram encontrados carbonizados, dentro de um quarto da residência onde eles moravam. A mãe deles, Juliana Salles, estavam em viagem fora do estado.

Inicialmente, Georgeval Alves, pai Joaquim e padrasto de Kauão, contou que acordou com o choro dos dois pela babá eletrônica e percebeu que o quarto em que as crianças dormiam estava em chamas. Ele disse que foi até o cômodo e tentou salvá-las, mas acabou queimando os pés e sendo empurrado para fora pela força do fogo.

No entanto, chamou a atenção às informações dadas por Georgeval Alves à polícia e publicamente. As lesões pelo fogo do incêndio causaram apenas machucados simples nas mãos dele, o que o levou a ser investigado. A prisão dele aconteceu no dia 28 de abril.

A conclusão do inquérito foi apresentada pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), na manhã do dia 23 de maio do mesmo ano, em Vitória. Durante a perícia, foi identificado que o cenário era incompatível com um incêndio acidental e que a cena do crime mostrou que o investigado inicialmente molestou as duas crianças, as agrediu após abusos sexuais e ateou fogo nas vítimas, com o propósito de ocultar os estupros. Na ocasião, a polícia descartou a possível participação da esposa do pastor, Juliana Salles.

A Justiça do Espírito Santo recebeu, no dia 18 de junho, a denúncia feita pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça de Linhares, contra Georgeval Alves e Juliana Sales. O MPES também pediu a prisão preventiva deles, por prazo indeterminado, pelos crimes de duplo homicídio, estupros de vulneráveis e fraude processual. Georgeval Alves responderá ainda pelo crime de tortura.

Juliana Sales foi presa no dia 20 de junho, no município de Teófilo Otoni. O MPES, responsável pela prisão, afirmou ter provas contundentes de que a mulher conhecia o desvio de conduta do marido, assim como os problemas com sua sexualidade e mesmo assim deixou os filhos com ele. “A omissão de uma mãe nesse caso tem valor equivalente ao crime”, explicou a promotora Raquel Tannenbaum. Por conta disso, Juliana foi acusada de homicídio qualificado, estupro de vulnerável e fraude processual.

No dia 10 de outubro, foi realizada a primeira etapa da audiência de instrução do caso, na 1ª Vara Criminal, no Centro da capital. Na ocasião, foram ouvidos o comerciante Rainy Butkovsky, de 31 anos, pai de Kauã, e a avó, Marlúcia Butkovsky. Também foram ouvidos peritos da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros, responsáveis pela investigação das causas do incêndio.

No dia 8 de dezembro de 2018, Juliana Sales conseguiu liberdade provisória. Porém, uma semana depois, no dia 13 de dezembro, ela foi novamente detida. A prisão da mãe dos meninos não durou muito e no dia 30 de janeiro deste ano ela foi solta pela segunda vez e permanece em liberdade.

A última audiência da primeira fase de julgamento do caso aconteceu no dia 19 de fevereiro, no Fórum de Linhares, onde foram ouvidos os réus Juliana Sales e Georgeval Alves. Do lado de fora do local, a família de uma das vitimas estava realizando um protesto e no fim da audiência o pai de Kauã, Rainy Butkovsky foi detido por desacato a um juiz, mas solto um dia depois.

Em maio de 2019, o juiz André Bijos Dadalto, da 1ª Vara Criminal de Linhares, decidiu que Georgeval Alves Gonçalves, o pastor George, irá a júri popular pela morte dos irmãos Kauã Sales Butkovsky, de 6 anos, e Joaquim Sales Alves, 3. Juliana Sales, que é mãe das vítimas, foi absolvida.

Na decisão, que tem 27 páginas, o juiz afirma que na noite do dia 21 de abril de 2018, por volta das 2h, na casa situada na Av. Augusto Calmon, Bairro Centro, em Linhares, Georgeval Alves Gonçalves, de forma consciente, ateou fogo em Joaquim Alves Sales (filho) e Kauã Sales Butkovsky (enteado) vivos após estupro e tortura.

Segundo o juiz, Georgeval Alves colocou as crianças desacordadas em uma cama do quarto onde dormiam. “Os crimes foram praticados por motivo torpe, na medida em que o denunciado, visando uma ascensão na Igreja Ministério Batista Vida e Paz e uma maior arrecadação de valores por fiéis nos cultos, diante da dificuldade financeira enfrentada pela unidade da Igreja em Linhares e, consequentemente, pelo denunciado e sua família, matou Kauã e Joaquim para utilizar a ‘tragédia’ em seu favor”, afirma o juiz na sentença.

Na decisão, André Bijos Dadalto afirma que Juliana Sales tinha pleno conhecimento do sério desvio de caráter de Georgeval Alves. Por diversas vezes, ela reclamou da indiferença com o que o marido tratava Kauã e Joaquim

“Apurou-se que o denunciado deixava faltar às crianças comida, medicamentos e atendimento médico, mesmo sendo elementos indispensáveis à sobrevivência delas. As condutas do denunciado Georgeval eram voltadas a angariar fiéis aos seus cultos em detrimento da família, especialmente das crianças, Kauã, Joaquim e João”, diz o juiz.

Cinco dias antes das mortes dos irmãos, Juliana teria enviado a seguinte mensagem a Georgeval Alves: “Só toma cuidado pra você não ganhar o mundo e perder os seus filhos”. Ela viajou no dia 20 de abril de 2018 para um encontro evangélico, deixando os filhos aos cuidados do marido. O crime aconteceu no dia seguinte. Para o juiz, Juliana “devia e, efetivamente, podia agir para evitar as mortes das crianças”, o que foi considerado omissão.

“No dia dos fatos e nos dias seguintes, na mesma residência, o denunciado Georgeval e a denunciada Juliana, de forma livre e consciente, inovaram artificiosamente, em processo penal, o estado de lugar e de coisas, com o fim de induzir em erro o juiz. Apurou-se que, no banheiro social, foram encontradas manchas de sangue da vítima Joaquim; de acordo com a perícia, houve uma tentativa de Georgeval em limpá-las para esconder os vestígios. Após o incêndio, os denunciados lançaram diversos objetos no quarto das crianças, bem como retiraram quase todos os objetos da casa, inclusive os lençóis e demais roupas de cama foram entregues a terceiros para serem lavados. […]”

O juiz decidiu que Georgeval Alves praticou e vai responder por homicídio duplamente qualificado, estupros de vulneráveis e tortura. Já Juliana Sales foi absolvida porque não há indícios da participação dela nesses crimes. “Quanto ao crime de fraude processual, verifico que não restou comprovado que ambos os acusados concorreram para a sua prática, inclusive sequer foi comprovada a sua existência”, absolvendo, dessa forma, ambos dessa acusação.

O sigilo do processo foi retirado. Georgeval Alves permanecerá preso, sem possibilidade de recorrer da sentença em liberdade e o julgamento ainda não term data para acontecer. As decisões que restringiam a liberdade de Juliana (entre elas sair de casa somente até as 22h), foram revogadas.

 

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