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Usuários de cloroquina no ES sofrem para encontrar remédio

Pouco se ouvia falar sobre o medicamento hidroxicloroquina antes da pandemia do coronavírus. Mas para quem sofre de doença autoimune, o remédio, também conhecido como cloroquina, já fazia parte da rotina. Com as divulgações sobre a possível eficácia – sem comprovação científica – para o tratamento da Covid-19, quem precisa do remédio está encontrando dificuldade.

Apenas após uma publicação nas redes sociais, Josenildo Oliveira, 53, conseguiu ter acesso ao medicamento para a irmã. “Ela fazia o uso da cloroquina há dois anos. Com a pandemia, ficou cada vez mais difícil encontrar o remédio pra ela. Por isso, precisei me mobilizar fisicamente e também pelas redes sociais para procurar ajuda”.

Usuários de cloroquina no ES sofrem para encontrar remédio
Josenildo precisou recorrer às redes sociais para encontrar o remédio para a irmã, Jane Foto: Arquivo Pessoal

A irmã dele, Jane Oliveira, 48, tem lúpus. Sem o medicamento, ela tem a imunidade mais baixa. Sintomas como dor de cabeça, mucosa, dores e queda de cabelo reaparecem.

“Restam apenas dois comprimidos pra ela. Antes de pandemia, além do acesso ao remédio, ele era vendido por um preço mais justo. Hoje é mais fácil encontrar em farmácias manipuladas, mas além de mais caro, não confio na eficácia”, contou o irmão, preocupado.

Com a divulgação pelas redes sociais, Josenildo Oliveira encontrou apoio. “Muita gente me ajudou. Ainda não chegou às minhas mãos, mas consegui uma caixa de Belo Horizonte e uma pessoa de Cariacica, que perdeu o pai que fazia uso, me forneceu também o medicamento. Estou muito grato e aliviado pela minha irmã”.

Apesar da ajuda, ele faz um apelo. “Não sou médico. Portanto, não sei dizer se a cloroquina é eficaz no tratamento contra a Covid-19. Pode ser que seja futuramente. Mas ainda não existe comprovação científica sobre o uso. Acho que o assunto ficou muito político. As pessoas não podem ser contrárias às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é o maior órgão responsável. A cloroquina não deve ser usada como política enquanto as pessoas que precisam ficam sem o remédio”, desabafou.

A professora Adila Damiani sofre de artrite reumatóide – doença inflamatória crônica que afeta as articulações – e conta que ficou um mês sem o uso da cloroquina, após a pandemia.

“Só descobri a doença após 10 anos de tratamento para dor na coluna, entre outros tratamentos. Há dois anos, comecei a sentir uma dor intensa que o tratamento não fazia mais efeito. Foi quando um reumatologista reconheceu a doença e me passou a cloroquina”.

O tratamento, segundo ela, só passou a surtir efeito onde as dores começaram a ser aliviadas após um ano. “Dia 20 de março foi quando eu comecei a ter dificuldade de encontrar o remédio. Com a divulgação dele, não só esgotava, como o preço teve um aumento assustador. Nas farmácias onde o medicamento era vendido em média por R$ 77, me diziam que não estava disponível. Mas com minha insistência, chegaram a me oferecer, ‘debaixo dos panos’, por até R$ 230”.

Usuários de cloroquina no ES sofrem para encontrar remédio
Adila ficou sem tomar o medicamento durante um mês por conta dos valores abusivos Foto: Arquivo Pessoal

A falta de empatia para Adila é o fator que mais assusta. “Tive que começar a economizar o remédio, alternando dia sim, dia não. Depois tomava um por semana, até passar um mês sem tomar. O que, além de retardar o tratamento e voltar a sentir os sintomas, surgiram ainda novas dores. É muito egoísmo de quem está estocando o remédio para um possível futuro tratamento para a Covid-19 enquanto tem gente de fato sofrendo sem ele”.

Para a professora, o que ajudou foi encontrar grupos de apoio nas redes sociais com outras pessoas que sofrem de doenças autoimunes, usuárias do medicamento.

“Em um desses grupos consegui duas caixas do medicamento em São Paulo. Mas o que pode facilitar também para encontrar o remédio é ligando para a ouvidoria da Apsen através do 0800 026 2395“.

Um apelo também foi feito pela usuária da cloroquina. “É muito importante valorizar a ciência. No momento que se nega a importância da ciência, as pessoas estão negando a importância da cura de doenças. Existe um mito que deve ser quebrado, Muita gente acredita que quem usa a cloroquina está imune ao vírus. Mas, pelo contrário, o que vejo é a maioria dessas pessoas que pegaram o vírus ficarem em situação grave. É um risco tomar esse medicamento. Até nós, que fazemos o uso recorrente, temos fortes efeitos colaterais, entre eles perda de visão, queda de cabelo, enjoo e diarreia”.

Para ela, existe uma ambiguidade na forma como o governo age, de acordo com o interesse político. “Muitos medicamentos necessários não são distribuídos pelo SUS por falta de comprovação científica, entre eles remédios para o tratamento de câncer, e o canabidiol. E sem a mesma comprovação, contrariam a OMS para fornecer a cloroquina como tratamento para a Covid-19“.

Remédio está em falta

Assim como apontado pelos usuários do medicamento, após uma pesquisa da reportagem do ESHOJE, foi possível observar que a hidroxicloroquina está esgotada na maioria das farmácias. Na Drogasil, um funcionário informou que há alta procura do remédio, mas que o produto estaria esgotado.

Na farmácia de manipulação FarmaDerm também estava em falta. A RedeFarmes também não tinha a cloroquina disponível.  De acordo com um funcionário, até mesmo para quem já fazia o uso antes da pandemia não é possível encontrar o remédio.

A farmácia de manipulação Magistral informou que tem o medicamento disponível para a venda apenas com receita médica. A funcionária afirmou que existem, sim, médicos que receitam a cloroquina para o tratamento da Covid-19.

A Farmácia Alquimia informou, em nota, que sempre comercializou cloroquina e hidroxicloroquina. “Sempre tivemos demanda dos pacientes reumáticos e autoimunes. Por enquanto, temos estoque para atender as demandas. Mas, quando acabar, não há previsão de reposição, pois os importadores não têm prazo para trazer novo lote para o Brasil. No caso da cloroquina difosfato, nosso estoque ainda é maior e podemos oferecer por um pouco mais de tempo. Em ambos os casos, a venda só é feita mediante a apresentação de receituário carbonado, em duas vias, com retenção de uma delas conforme portaria da Anvisa”, explicou a farmacêutica Raigna Vasconcelos.

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