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Suicídios diminuem no Espírito Santo

O índice de suicídios vem diminuindo a cada ano no Espírito Santo. Segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), de 2018 para 2019, houve uma diminuição na ordem de 9,2% no número de pessoas que tiraram a própria vida no Estado e, no ano de 2020, mesmo em meio à pandemia, tudo leva a crer que até o fim do ano, essa estatística felizmente continuará em queda.

Até o mês de agosto, a Sesa registrou 63 casos de pessoas que tiraram a própria vida no Estado e atitudes tomadas pelos governos e pela sociedade têm contribuído para que esta triste estatística possa continuar em queda. Uma dessas iniciativas é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que mantém, desde 2015, uma linha gratuita 24 horas, através do número 188, que visa a prevenção do suicídio a partir do apoio emocional dado pelos voluntários.

Suicídios diminuem no Espírito Santo
Nilson Aliprandi. Foto: Arquivo Pessoal

Em 2019, foram mais de três milhões de atendimentos em todo o Brasil através da linha telefônica, chat, e-mail e presencialmente, nos mais de 120 postos de atendimento espalhados pelo País. Atualmente, o CVV conta com 3.400 voluntários e o capixaba Nilson Aliprandi, 39, é um deles.

Ele está há quatro anos como voluntário e desenvolve o trabalho como plantonista. “Acredito nessa doação de calor humano, de se disponibilizar para auxiliar uma pessoa que está vivendo um momento tão difícil. As pessoas nos ligam com vários sentimentos e sensações, de sofrimento, perda, solidão, e nós oferecemos o nosso tempo, nossa atenção e amizade, de forma que possibilite que a pessoa consiga um alívio, uma luz, tire um pouco do peso que está carregando”, explica Nilson.

Ele conta que não é somente a pessoa atendida que ganha neste processo. “Cada história que ouvimos nos toca de uma forma diferente e nos possibilita uma conexão, nos permite auxiliar e, ao mesmo tempo, produz em nós aprendizado. É uma troca na qual todos ganham. Ganha a pessoa atendida, o voluntário e a sociedade de forma geral”.

Manejo da crise

Psicóloga com experiência em manejo de crise suicida, Keli Lopes atesta que o CVV é uma excelente ferramenta social para a prevenção do suicídio. Ela lembra também que as pessoas em sofrimento, em risco de suicídio, são público prioritário do Serviço Único de Saúde (SUS), seja através das unidades de saúde, dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) ou dos programas de saúde mental dos municípios de governos estaduais.

Ela explica que, apesar de haver várias linhas teóricas para o tratamento de crises suicidas na psicologia, é consenso entre os profissionais que a pessoa em questão precisa ser acolhida e ouvida em seu sofrimento.

“Isso é o comum a todas as abordagens. A postura de acolher pessoas em seu sofrimento impacta do ponto de vista do fator de proteção, para uma perspectiva de melhora. A ferramenta inclui escuta e acolhimento. E aí a progressão do tratamento vai depender, caso a caso, dentro da realidade do paciente. É importante que essas pessoas não tenham vergonha de perceber que não estão conseguindo dar conta sozinhos. É normal precisar de ajuda em algum momento da vida, não é motivo de vergonha. Nós, psicólogos, estamos à disposição para acolher as pessoas em sofrimento”, afirma Keli Lopes.

Atenção aos fatores de risco e de proteção

A psicóloga lembra que é preciso diferenciar a ideação suicida do plano suicida. Segundo ela, a ideação é o primeiro sinal de um sofrimento psíquico intenso, que precisa ser cuidado. “Se a pessoa já tem um plano traçado, diz como vai fazer, tem acesso aos meios, está em plano suicida e possui risco alto para o ato. Portanto, é necessária uma intervenção de urgência para que não venha a intentar contra a própria vida”.

Sobretudo em tempos de pandemia, Keli Lopes chama atenção a fatores de risco como transtornos mentais (sejam prévios ou presentes), histórico de suicídio na família ou tentativa pregressa, ausência de apoio social, desemprego, pouca flexibilidade para lidar com adversidade e acesso a meios leitais. “É importante restringir acesso aos meios letais para se tirar a própria vida. Qualquer ação que restringe o acesso já ajuda, porque isola o fator da impulsividade, que também está associada ao risco de suicídio. Isso reduz as tentativas”.

Além da procura de ajuda especializada com psicólogos e psiquiatras, que durante a pandemia estão atendendo tanto virtual quanto presencialmente (segundo os protocolos de biossegurança) ela explica que, mesmo com as regras de distanciamento social, o isolamento total não é recomendado. “Distanciamento social sim, mas restrição do convívio social, isolamento total, não. Pessoas do grupo de risco precisam ser bastante criativas para construir ferramentas para o convívio social neste momento, e não se isolar completamente, porque o isolamento total não é recomendado em termos de saúde psíquica. Usar as ferramentas digitais, telefone, webconferência é bom, além do convívio com familiares próximos”.

Disciplina, boa alimentação e atividade física

A pandemia do novo coronavírus ligou sinal de alerta quanto a possibilidade de agravamento de quadros depressivos. O psiquiatra Jovino Araújo explicou que o próprio medo de ser infectado ou receio de que alguma pessoa próxima adoeça ou morra por causa da doença pode ser um agravante. A realidade socioeconômica e o afastamento afetivo provocado pelo isolamento também podem ser fatores para o surgimento de problemas psicológicos.

O psiquiatra enfatiza que uma das maneiras de prevenir o surgimento ou agravamento de problemas psicológicos, em decorrência da pandemia, é a criação de uma rotina doméstica com novas formas de expressão de afeto, disciplina de horários de sono e alimentação e, se possível, associado à atividade física. “A quebra da rotina anterior à pandemia nos impõe uma nova adaptação. A prevenção de crises emocionais depende muito desta nova adaptação”, pontua.

De acordo com o psiquiatra, familiares e amigos também devem ficar atentos aos sinais demonstrados pela pessoa com depressão. “Ela pode se queixar diretamente da depressão, ou pode indicar nas entrelinhas de sua fala, ou na alteração do comportamento, que está adoecida”, afirma.

O contato pessoal, uma conversa e o ato de ouvir o outro é importante para que a pessoa reflita e busque ajuda. “Costumo dizer que o melhor remédio para uma pessoa é outra pessoa. E alguém de fora pode, além de ouvir e dar apoio, fazer a sugestão do atendimento médico especializado. Toda depressão tem tratamento”, conclui.

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