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Socioeducador, uma profissão que transforma vidas

Há 12 anos comemora-se, no dia 19 de setembro, o Dia do Educador Social. A profissão, que, apesar de reconhecida pela data comemorativa, ainda não é regulamentada, tem importância no combate à exclusão social.

O educador social tem o papel de atender pessoas em situação de vulnerabilidade, com a criação de oficinas para incentivar competências, entre elas arte, dança, música e outras. Mas, diferente da educação formal, a função se estende para além de passar conhecimento aos alunos.

Edcarlos Rodrigues, 36, é educador social há cinco anos e explica a missão. “Nosso trabalho é construído a partir da empatia, com o papel de transmitir conhecimento com transformação social. Quando se tem um atendimento mais humanizado, o aluno tem mais resultado. E isso é feito através do relacionamento e não por uma abordagem punitiva. Não ensinamos para um número de alunos, olhamos o indivíduo”, explica.

Geralmente a profissão é exercida por pedagogos, assistentes sociais, psicólogos e líderes comunitários. Para atuar na área não é necessário ter uma formação específica. Para Edinho Missão, como é conhecido, é comum que moradores de comunidades sem formação também atuem como voluntários. “As pessoas reconhecem nosso trabalho, mas falta informação e capacitação para aperfeiçoar a prática. Trabalho com adolescentes que cometeram atos infracionais, dando a eles uma ressignificação para a vida”.

Regulamentação

A proposta da PL 5346/09, que regulamenta a profissão, considera educador social todos aqueles que trabalham com vítimas de violência, exploração física e psicológica. Além de trabalhar com segmentos sociais submetidos a algum tipo de exclusão, entre eles jovens envolvidos em atos infracionais; população carcerária; pessoas com deficiência e dependentes químicos.

Para quem cresceu baseado na formação, é difícil compreender que, em alguns casos, a teoria das aulas é o menos importante para quem procura apoio. Foi assim com o professor de música Filipe Barcelos, 32, que aprendeu a atuar como socioeducador na prática. “Após me formar na faculdade de música, surgiu uma vaga na prefeitura de Vitória como educador social para dar aula de música. No início foi difícil me adaptar, pois eu queria passar um modelo de educação que conhecia”.

Com a ajuda dos colegas do projeto Cajun (Caminhando Juntos), Filipe Barcelos conseguiu compreender a função do educador social. “Nosso principal objetivo é inserir aos alunos um convívio social acolhedor e seguro. Quando comecei a trabalhar com as crianças, já consegui observar a necessidade delas em ter com quem conversar. Isso é o mais importante”.

“A faculdade não me preparou para esse tipo de educação”, explicou. Filipe hoje reconhece a importância da regulamentação da sua profissão. “Nosso trabalho é ainda muito sem chão. Falta um planejamento geral. Nós acabamos aprendendo com os erros e acertos. A profissão de socioeducador é muito importante para criar um laço familiar com esses jovens que, muitas vezes, não encontram oportunidade de diálogo em casa. São realidades diferentes”.

O professor de música conta que hoje, vê que os frutos que colhe são muito mais gratificantes do que seria com uma sala de aula formal. “Vemos muitos talentos o tempo todo, através da música eles conseguem se expressar. Hoje não estou mais lá pela música, mas pelo ser humano”. É essa transformação que o educador social busca em sua atuação.

Desafio de sensibilizar a sociedade

Pedagoga e educadora social há 10 anos, Andressa de Souza, 32, trabalha na rede de Atendimento Integrado a Criança e ao Adolescente (AICA) no município da Serra. “Nosso maior desafio é sensibilizar a sociedade. As escolas pecam por não ter esse olhar de vivência que essas crianças têm pela ausência de políticas públicas essenciais”.

No setembro amarelo, a educadora conta que reforçou o trabalho socioemocional com as crianças. “A maioria tem um histórico familiar complicado e crescem com muita dificuldade de lidar com as emoções. Portanto, resolvemos criar a oficina do afeto. Após a atividade, uma das crianças, ao chegar em casa, tentou abraçar a mãe e foi afastado. Como nosso trabalho é alinhado com a família, em outro momento, a mãe percebeu o trabalho que foi desenvolvido e reconheceu o erro com um pedido de desculpas ao filho”.

Pequenas atividades como essa fazem a diferença na relação familiar. Por isso, o educador social é um trabalho tão transformador. É o caso de Jeremias Reis, vencedor do programa The Voice Brasil Kids em 2019. “Ele começou a trabalhar o talento através de uma das oficinas da rede AICA. O vídeo que foi enviado para o programa foi gravado por socioeducadores que trabalham no Coral Som da Vida, na sala de música do projeto”.

Socioeducador, uma profissão que transforma vidas
Jeremias Reis, vencedor do The Voice Brasil Kids, começou a trabalhar o talento nas oficinas de educação social. Foto: divulgação

Músico e poeta fruto da socioeducação

Thiago Ferreira Gomes, 30, é um dos frutos do trabalho socioeducativo. Hoje, músico, poeta, MC, pedagogo e educador social, ele assume o papel que foi passado ainda criança. “Participo de projetos sociais desde criança e cresci com boas referências por conta disso. Na época, não tinha noção do papel do educador social na minha vida, até me tornar um”.

O jovem destaca que é necessário ter um perfil social para trabalhar na área, pois é uma responsabilidade muito grande, que impacta diretamente outras vidas.

“Eu me lembro de muitas falas deles pra mim e hoje consigo perceber que tudo o que me foi passado e cada conversa fez parte de um processo educativo. Cada projeto tem um objetivo, seja de mudar o ponto de vista da sociedade em relação às comunidades, seja na afirmação e defesa dos direitos dessas pessoas e no estímulo da identidade de cada um através do acolhimento, diálogo e a arte”.

Socioeducação com idosos

A artista plástica Sandra Sad Assaf trabalha como educadora social há quase 10 anos e costumava trabalhar com jovens, até passar a dar oficinas para grupos de convivência da 3ª idade. “No início fiquei apreensiva. Nunca tinha trabalhado com idosos. Mas meu primeiro planejamento foi baseado em observar o grupo e me basear em como eu gostaria de ser recebida quando idosa”.

Surpresa, Sandra encontrou uma turma ativa e com muita vontade de aprender. “A maior diferença entre o trabalho com idosos é que ao contrário dos jovens, que queremos tirá-lo das ruas e reforçar o convívio familiar, no caso dos idosos queremos trazê-los pra rua, para evitar a solidão. Eles sofrem muito com a síndrome do ninho vazio. Os filhos se casam, saem de casa ou trabalham fora o dia todo e eles se sentem muito sozinhos. O centro de convivência incentiva a sociabilização com outros idosos e atividades que ativam a memória e a criatividade”.

Entre as atividades praticadas pelos grupos estão oficinas de jogos, bordado, pintura, informática, resgate histórico, fotografia e reaproveitamento de materiais. “É um trabalho muito gratificante. Meu maior foco é trabalhar a arte como terapia, uma das maiores causas da depressão entre eles é por se sentirem sozinhos. De certo modo, o objetivo principal do educador social, independente da idade, é socializar e acolher essas pessoas”.

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