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Seis mil internados por AVC no ES

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), ou derrame cerebral, acontece quando há uma paralisia da área cerebral causada por falta de circulação sanguínea adequada. As principais causas são relacionadas a fatores de risco, entre elas o sedentarismo, obesidade, tabagismo, diabetes e pressão alta.

O Dia Mundial do Combate à Doença é em 29 de outubro. O neurologista e coordenador da Unidade de AVC do Hospital Estadual Central, Antônio Fiorot Jr., explica que os casos em pessoas mais jovens é uma tendência no mundo todo.

“Nos últimos 10 a 15 anos, a maioria dos casos aconteceu em pessoas de 40 e 45 anos. Antes, a ocorrência era maior entre pessoas idosas (+60). O índice de sedentarismo entre jovens e adolescentes de 15 a 20 anos aumentou bastante, o que fez com que os casos crescessem entre essa faixa etária”.

Seis mil internados por AVC no ES
Foto: arquivo pessoal

O capixaba Alonso Filho, 22, passou por dois tipos de AVC quando tinha apenas 20 anos de idade. “Sou estudante de medicina veterinária, mas também músico. Estava no ensaio para um casamento quando minha memória, a partir desse momento, passou a ser apenas fragmentos”, contou.

Alonso Filho conta que estava cantando uma canção durante o ensaio, quando teve o AVC. “O que sei sobre os dias seguintes é baseado em relatos de amigos e das pessoas que me acompanharam. Eles disseram que eu estava cantando uma música que gosto muito e que me emocionei. Eu fiquei surpreendido quando me disseram, porque não sou de chorar. Em seguida, caí no chão, em convulsão, e chamaram a ambulância”.

Atendimento imediato

O especialista alerta que é importante reconhecer os sintomas e procurar atendimento imediato. “Na suspeita de um AVC, ligue para o Samu 192. Nele, os profissionais são treinados para fazer uma triagem e saber para qual hospital levar. Não adianta ir para o hospital errado aonde não tenha o tratamento adequado, senão essa pessoa estará perdendo tempo. E isso pode ser fatal”, explica.

Alonso Filho disse que só se lembra de acordar no hospital, onde ficou internado durante mais de 30 dias. “Parecia que eu estava me observando de fora do meu corpo. Eu estava fora de controle, parecia outra pessoa. Cuspia os medicamentos que me davam e só queria ir embora. Mas acho que tudo isso era efeito das fortes dores que estava sentindo. O que eu tive naquele momento foi o AVC hemorrágico”.

De acordo com o neurologista, o AVC hemorrágico acontece em 20% dos casos. “Quando uma artéria se rompe e vaza sangue dentro do cérebro”. No caso do Alonso Filho, a causa foi uma má formação da artéria venosa.

“Afetou minha memória. Discuti com a menina que eu namorava porque não lembrava que tínhamos retomado o relacionamento. Foi perturbador! Da primeira crise, não me lembro de praticamente nada”, contou.

Por volta de 15 dias internado, o estudante teve outra surpresa. “Lembro que estava jantando e, em certo momento, percebi que não conseguia levar a colher até a boca. Tentei pedir ajuda, mas não conseguia falar. Minha língua parecia se embolar e isso foi desesperador. Comecei a chorar e chegou ajuda. Eles aumentaram meus medicamentos, acredito que para me dopar. Foi o segundo AVC, desta vez o tipo mais comum”, relatou o estudante.

Um em cada quatro terão AVC

Seis mil internados por AVC no ES
Foto: Sesa

O neurologista Antônio Fioroti Jr. explica que, na maioria das vezes, os casos são fáceis de identificar. “A pessoa tem a boca torta, dificuldade de movimentar o braço/perna de um lado do corpo ou dificuldade pra falar. Se uma dessas coisas acontece de uma hora pra outra, há 90% de chances de ser um AVC”, alerta. Segundo ele, no Espírito Santo, a média de tempo de atendimento para pacientes vítimas de AVC é de três horas.

O neurologista explica ainda que 80% dos casos são de AVC Isquêmico. “Acontece quando ocorre o entupimento da artéria. O trombo entope a artéria, fazendo com que o sangue não passe e o cérebro morre”. De acordo com o médico, a gravidade do AVC depende de diversos fatores, entre eles o tamanho do trombo, a quantidade da hemorragia e a localização no cérebro.

O médico explica que uma em cada quatro pessoas vão ter um AVC durante a vida. E, segundo ele, a prevenção e o controle são os maiores aliados contra a doença. “Os principais pilares da prevenção ao AVC são: em primeiro lugar, tratar os fatores de risco, entre eles, não fumar, controlar a diabetes e a pressão alta e combater a obesidade. Em segundo, tratar as doenças do coração (arritmia) com medicamentos que possam dissolver melhor o sangue. E, em terceiro, é reconhecer o AVC imediatamente, para saber o que fazer na hora”.

“Experimentei um verdadeiro milagre”

Alonso Filho conta que experimentou um milagre. Após a segunda crise, ele continuou internado por 15 dias. Em certo momento, foi convidado por uma tia que o acompanhava para cantar com ela. “Eu não conseguia falar. Sentia minha língua embolando e achei estranho o pedido dela. Sou evangélico e ela começou a cantar um hino que gosto muito”.

’Se a doença vier, Ele é Deus. Se curado for, Ele é Deus’, ela cantou o trecho e me pediu para acompanhar. ‘Se tudo der certo, Ele é Deus. Mas se não der, continua sendo Deus’, foi nesse momento que experimentei um verdadeiro milagre. Consegui cantar perfeitamente junto com ela e, no dia seguinte, eu já estava falando normal”, relatou, emocionado.

Com o tempo, Alonso foi recuperando a coordenação motora gradativamente e retomando a rotina. “Não me deixaram voltar à rotina sobrecarregada de antes, mas, aos poucos voltei com meus estudos. Tive alguns problemas de raciocínio lógico, por um tempo, mas hoje já não tenho nenhum sangue na cabeça. Hoje nem posso dizer que estou 100%, na verdade, estou 200% melhor”.

Para Alonso Filho, a experiência difícil veio com um aprendizado. “Acredito que tudo tem um propósito. Hoje, mudei minha filosofia de vida e melhorei a relação com a minha família. Estamos muito mais próximos”, contou o estudante, que continua o tratamento, sem mais riscos.

ES é referência em tratamento

O Hospital Estadual Central é um dos quatro únicos hospitais públicos do Brasil que disponibilizam os dois tipos de tratamento para o AVC. De acordo com o coordenador da Unidade de AVC, Antônio Fiorot Jr., mais de 10 mil pacientes já receberam os tratamentos.

“O Espírito Santo é um dos poucos estados que oferecem o tratamento de trombólise venosa na fase aguda da doença pelo SUS, além da trombectomia mecânica”, conta.

Segundo ele, além dos tratamentos, o que faz com que o Espírito Santo tenha uma incidência melhor de número de casos em relação à média nacional são as políticas de prevenção primária, investindo no tratamento dos fatores de risco.

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