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Especialistas da Ufes e da Saúde Pública esclarecem surto de infecção no Hospital Santa Rita

O surto de infecções respiratórias registrado no Hospital Santa Rita, em Vitória, segue mobilizando autoridades e pesquisadores da área da saúde. Ao menos 34 pessoas foram contaminadas, entre funcionários, pacientes e acompanhantes, e amostras estão sendo analisadas por um laboratório de São Paulo. Uma das principais hipóteses é que se trate de Legionelose, também conhecida como Doença dos Legionários, uma forma grave de pneumonia causada pela bactéria Legionella pneumophila.

Para compreender o cenário e suas implicações, o Jornal ES Hoje ouviu duas referências nacionais na saúde pública capixaba: a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, e o médico sanitarista e ex-secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes. Ambos convergem em um ponto essencial, o momento exige respostas técnicas, protocolos rigorosos e comunicação responsável.

“É uma doença bacteriana que pode evoluir rapidamente”, alerta Ethel Maciel

A professora Ethel Maciel classifica a Legionelose como uma infecção “potencialmente grave, sobretudo para pessoas com comorbidades ou imunossupressão”. Segundo ela, trata-se de uma bactéria presente em sistemas de água e ar-condicionado, que pode se multiplicar quando há falhas de manutenção e higienização.

“A Legionella pneumophila é encontrada em água contaminada, em aparelhos de ar-condicionado central e em filtros que não são limpos adequadamente. Esses locais, quando negligenciados, se tornam ambientes ideais para a proliferação da bactéria”, explicou a epidemiologista.

Maciel alerta também para os profissionais de saúde que permanecem longos períodos em ambientes potencialmente contaminados, podendo se infectar mesmo com o uso de máscaras:“Esses trabalhadores, expostos continuamente, podem contrair a bactéria se o ambiente não for devidamente desinfetado.”

Os sintomas, de acordo com ela, “inicialmente se confundem com os de uma síndrome respiratória comum — coriza, tosse e febre —, mas evoluem com febre alta e fadiga intensa”. O sinal de alerta, destaca, é o cansaço extremo ao realizar pequenos esforços: “Quando a pessoa levanta da cama e já se sente exausta, deve procurar um serviço de saúde imediatamente.”

A especialista afirma que há protocolos claros de desinfecção e que hospitais devem redobrar a atenção neste momento. “O caso reforça a necessidade de limpeza rigorosa de ambientes e superfícies, especialmente em tempos de crise climática. As mudanças nas temperaturas e a umidade favorecem a proliferação de microrganismos. Isso não é apenas um episódio isolado — é um alerta para todo o sistema de saúde.”

“Não há espaço para opinião — a resposta deve ser técnica”, enfatiza Nésio Fernandes

O médico Nésio Fernandes, referência em saúde pública e vigilância sanitária, classificou o episódio como um surto localizado e de origem ainda desconhecida, reforçando não haver indícios de transmissão entre pessoas.

“Do ponto de vista epidemiológico, o evento é um surto, ou seja, restrito a um território e de natureza controlável. O hospital é o foco, não a comunidade. Apesar de o número de casos ser pequeno, a proporção de internações é o que chama atenção: três pacientes em UTI entre 30 suspeitos indicam uma taxa de 10% de evolução grave.”

Segundo Nésio, a condução do caso deve seguir um protocolo sindrômico e técnico, com base em sinais clínicos e características ambientais.

“Minha experiência me ensinou a não opinar sem dados completos do evento. Não há espaço para achismos nem expressões políticas. A abordagem deve ser técnica, baseada em evidências e conduzida por profissionais com experiência em vigilância epidemiológica.”

O sanitarista destacou que as hipóteses ambientais são as mais prováveis, citando possíveis agentes biológicos em água, ar ou superfícies hospitalares. A presença de aves, como pombos, foi considerada apenas “plausível, mas pouco provável”.

“Doenças como criptococose e psitacose, relacionadas a aves, têm padrões de evolução distintos e não se enquadram no quadro observado”, esclareceu.

Fernandes reforça que, embora o hospital seja o epicentro, a população não está sob risco ampliado: “Os ônibus são seguros, as escolas são seguras, as casas são seguras. O surto é localizado. O hospital continua sendo um ambiente seguro desde que as medidas de segurança e higiene sejam cumpridas.”

Ambos os especialistas defendem que a resposta a eventos infecciosos deve unir agilidade, transparência e rigor científico.

“A notificação oportuna, a investigação rigorosa e a comunicação clara são essenciais para evitar pânico e garantir confiança da sociedade”, destaca Nésio Fernandes.

Ethel Maciel complementa que o caso do Santa Rita deve servir como chamada de atenção nacional: “As mudanças climáticas estão alterando o comportamento de vírus e bactérias. O Brasil precisa reforçar seus sistemas de vigilância hospitalar e ambiental. Não somente  uma questão de controle local, mas de saúde pública global.”

O surto no Hospital Santa Rita acendeu um alerta no sistema de saúde capixaba, mas também trouxe uma oportunidade de aprendizado. Para os especialistas, não há espaço para improviso ou especulação, e sim para investigação criteriosa, protocolos atualizados e comunicação responsável.No centro da crise, as falas de Ethel Maciel e Nésio Fernandes apontam o mesmo caminho: agir com ciência, técnica e serenidade — os pilares que sustentam a saúde pública em tempos de incerteza.

Thauane Lima
Thauane Lima
Bacharel em Jornalismo pela UFES

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