Danieleh Coutinho – danihcoutinho@eshoje.com.br
Você já ouviu falar de tracoma? Pois esta doença que o Brasil julgou estar radicada assombra a população. E o município de Vitória identificou, desde o ano passado, que 3,5% de sua população educacional infantil pode estar contaminada. Doença desconhecida até mesmo pela classe médica, a tracoma é uma infecção que pode ocasionar a cegueira.Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a tracoma é a doença evitável que mais cega em todo o mundo. O médico referência técnica em Tracoma da Secretaria Municipal de Saúde (Semus), Adenilton Pedro Cruzeiro, até o ano passado o Espírito Santo não dava a atenção que esta doença merece, porque já fora considerada erradicada no passado. A minha geração e as anteriores na medicina mal ouviram falar dela na sala de aula, mas entre 2002 e 2008 o Ministério da Saúde, por meio de pesquisa, descobriu notificações. Ano passado identificamos em 15 escolas da região de São Pedro”, explicou.
A infecção é confundida facilmente com a conjuntivite, pois as reações que ela traz são parecidas, como olhos vermelhos, coceira e sensação de “areia nos olhos”. Contudo, muito mais silenciosa, a tracoma vai e volta e cura espontaneamente.
“O grande diferencial é que ela é silenciosa, e quando descoberta pode ser tarde demais. Ela não tem sintomas, mas causa uma cicatriz na pálpebra, deixando-a dura e invertida a ponto de os cílios encostarem no globo ocular. Após identificarmos em Vitória, ano passado, passamos a treinar os profissionais de saúde para identificar”, disse o médico. Para realizar o diagnóstico da doença é preciso analisar as pálpebras. O tratamento é simples, sendo necessária apenas uma única dosagem de medicamento.
Quando identificada, a tracoma, que é uma doença cujo nicho de contaminação são locais de aglomeração, o paciente é tratado, bem como os que com ele convivem em casa e na escola ou trabalho. “Na escola, se um aluno estiver com a doença, tratamos ele, os colegas de sala, professores e a família do doente. Esta é uma doença, também relacionada à pobreza”.
A doença é consequência da falta de práticas higiênicas e costuma acontecer em pequenas comunidades carentes. Com o ambiente escolar essa infecção pode se propagar com uma maior facilidade. “Nas escolas o contato entre as crianças é mais estreito. Pesquisas feitas em algumas escolas no interior do estado revelaram uma porcentagem de até 20% de crianças infectadas com o quadro de tracoma”, comentou o doutor Ângelo Ferreira Passos, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Ação conjunta contra hanseniase
A prefeitura municipal de Vitória iniciou, na última segunda-feira (17), ações preventivas de tratamento e diagnóstico de hanseníase e tracoma em escolas da rede pública da cidade. Atendendo alunos com idades entre 5 e 14 anos, a iniciativa pretende visitar 52 escolas até o final de setembro. Esta é uma medida em apoio à campanha nacional de combate a hanseníase, geo-helmintíases e tracoma realizado pelo Ministério da Saúde neste mês.
No ano passado, só na cidade de Vitória, foram diagnosticados 46 novos casos de hanseníase, sendo a maior incidência nos bairros de Maruípe, São Pedro e na região Continental. Esse número é considerado de alta endemicidade, já que a doença é infecciosa e de fácil contágio, acontecendo, principalmente, através da fala, espirro ou tosse. Caso as os infectados não busquem tratamento as consequências podem ser graves incapacidades físicas.
“Um fato importante é a detecção de casos em menores de 15 anos, o que caracteriza que a doença está ativa e recente. Em 2013, notificamos seis casos em crianças e, este ano, um caso”, declarou o doutor Lucienne Venturim Caldas, referência em tuberculose e hanseníase. (com informações de Cláudio Vervloet)











