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Novas “mães de leite” doam amor no frasco

A cultura das mães de leite – mulheres que “dão peito” para o filho de outras mulheres – foi uma verdadeira dádiva para o desenvolvimento de muitos recém-nascidos que não tiveram acesso ao leite materno, seja pela impossibilidade da mãe biológica em produzir o alimento – considerado o mais completo para o bebê – ou por outros motivos. A sentença está no passado porque, hoje, a recomendação é outra: a doação aos bancos de leite.

A prática das mães de leite ainda é comum em cidades do interior e em comunidades com acesso mais difícil aos bancos de leite. Mas especialistas alertam para os riscos da amamentação direta aos bebês de outras pessoas. “O risco de contaminação de vírus, fungos e bactérias é alto”, afirma a pediatra e responsável técnica pelo banco de leite humano do Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), Angélica Carvalho.

Sou do interior de Minas Gerais, a partir da segunda semana de vida os médicos identificaram uma infecção na minha mãe, e ela não pôde mais me amamentar. Como na cidade não havia acesso e nem informações sobre os bancos de leite, ela bateu de porta em porta à procura das mulheres que considero carinhosamente minhas “mães de leite”. Apesar de reconhecer a importância delas na minha vida, hoje o risco de contaminação poderia ser evitado.

Pasteurização

Se a mãe tem dificuldade para amamentar, a orientação da médica é que procure o banco de leite ou profissionais de saúde mais próximos para receber o auxílio necessário. “Os motivos de a mãe ter dificuldade para amamentar são muitos e podem ser emocionais ou físicos. Porém, o leite de outras pessoas não pode ser dado diretamente ao bebê. Tanto elas quanto os bebês correm o risco de pegar doenças como resfriados, hepatite e HIV. As doadoras precisam ter o leite pasteurizado antes para eliminar possíveis fontes de infecção”, explica a pediatra.

Dany Simonassi é moradora da Serra e contou que não pôde amamentar seu primeiro filho. “Tive depressão pós-parto, tive que tomar medicação forte e jogava o leite fora na pia do banheiro. Com os outros filhos, além de conseguir amamentar, o leite sobrava e então passei a doar. Minha maior motivação foi poder ajudar outras crianças. Muitas mulheres têm medo de sentir dor, mas os profissionais nos bancos de leite estão lá para ajudar”, conta.

Segundo a pediatra, bebês que nascem doentes ou prematuros são os que mais precisam das doações. “Muitos deles são entubados, e a amamentação direta fica impossibilitada. Algumas mães até conseguem recolher e dar seu próprio leite através do copinho próprio, mas como muitas têm dificuldade de fornecer o leite, a necessidade da doação é alta”, explica.

“Me coloquei no lugar daquelas mães”, diz doadora

A professora Carliani Dal Piero, 35, precisou passar pela dor para reconhecer a necessidade da doação. “Na minha primeira gestação eu produzia muito leite. Mas mesmo com as recomendações da minha mãe para doar, eu achava que ia acabar faltando para o meu filho. Isso mudou na segunda gravidez, quando, com 15 dias, meu filho foi para a Utin e foi lá que vi quantos bebês precisavam”.

A história da professora teve um final feliz, ainda melhor do que ela esperava. “Meu bebê ficou internado durante 11 dias, e nesse tempo meu peito jorrava leite. Quando comentei com as profissionais de saúde que atendiam meu filho, elas ficaram desesperadas com o desperdício e logo me orientaram e me passaram o contato do banco de leite do Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo (HPM)”.

A partir de agora, além de ter o filho saudável de volta em casa, Carliani fornece leite para muitos bebês que necessitam dessa nutrição. “É muito gratificante poder doar. Agradeço a Deus por ser capaz de amamentar meus filhos, depois que conheci o ambiente da UTI pré-natal eu me coloquei no lugar daquelas mães. E mudei meu pensamento, descobri que quanto mais eu doo, mas leite eu produzo”.

A mãe reforça ainda que pretende amamentar até os dois anos. “Acredito muito na força do leite materno. Eu mamei até depois dos dois anos, e fiquei doente poucas vezes na minha vida, acredito nessa relação de saúde. Além de ser um vínculo muito gostoso com meus filhos”, conta.

Artesã doou para filho de amiga

A artesã Jaqueline Gomes, 39, passou por uma experiência parecida em sua segunda gestação. “Meu bebê nasceu prematuro com apenas seis meses, e não podia mamar. Eu tirava meu leite e os enfermeiros davam a ele em um potinho. Enquanto estava entubado, passei a doar meu leite para o HPM, com o auxílio dos profissionais”, relata.

Para Jaqueline, a emoção foi ainda maior, pois um dos bebês receptores era o filho de uma amiga. “É muito bonito uma mãe poder ajudar outras que estão passando por dificuldades, pois sei como é difícil ter um bebê internado. Minha amiga ficou muito feliz que eu pude ajudar, e me agradeceu bastante. Hoje sei que a filha dela cresceu saudável, assim como o meu. E isso é gratificante”.

Volume de doações recebidas não é suficiente

No Espírito Santo existem 81 leitos de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin), que são contemplados com leite humano pasteurizado. No entanto, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o volume de doações recebidas não é suficiente para atender a demanda. Até julho deste ano, no Estado, foram coletados 2.301,2 litros de leite humano.

Para doar aos bancos de leite, as candidatas passam por uma entrevista, são solicitados exames dos últimos seis meses. Para, só assim, serem aptas a doar. “Nós buscamos o leite doado na casa dessas pessoas, e fornecemos o frasco e demais materiais esterilizados. O armazenamento deve ser feito em um frasco de vidro com tampa plástica e deve ser congelado por até 10 dias. A coleta do leite deve ser feita de máscara, touca e com as mãos higienizadas”, explica a pediatra.

Cuidados para doar o leite na pandemia

Durante a pandemia os cuidados são os mesmos, alerta a especialista. “A Covid-19 não pode ser transmitida através da amamentação, porém, pode ser transmitida através do contato com o bebê. Portanto, caso a mãe esteja contaminada a recomendação é que a extração do leite seja feita de máscara, as mãos lavadas durante 20 segundos e o berço da criança deve ficar a, no mínimo, dois metros de distância da cama. Um cuidador saudável deve apoiar um copo para que o bebê coloque a língua no copo. Desta forma, prevenimos a confusão de bico e ele voltará a poder mamar novamente sem dificuldade”.

Leite de fórmula é última opção (Box)

“É importante ressaltar que a mãe que não consegue amamentar não é menos mãe”, reforça a pediatra Angélica Carvalho. Mas, segundo ela, os leites de fórmula devem ser a última alternativa. “O leite humano é infinitamente superior nas vantagens ao bebê. O leite vindo da mesma espécie ajuda no desenvolvimento da criança”.

Portanto, de acordo com a pediatra a primeira escolha deve ser o leite da própria mãe. Caso o bebê esteja impossibilitado de mamar, a segunda opção é dar o leite da mãe pasteurizado. Se a mãe não puder fornecer o leite, é hora de recorrer às doações do leite pasteurizado. Apenas em último caso busca-se o recurso da fórmula.

Agosto Dourado: mês do leite materno (box)

O “Agosto Dourado” é uma campanha dedicada à intensificação das ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) o leite materno “sacia a fome, impulsiona o viver e constrói uma saúde sólida”, sendo indispensável nos primeiros momentos da existência. “Assim é o leite materno: a base da vida. A recomendação mundial é de que o aleitamento deve ser exclusivo até os seis meses e complementado com adição de alimentos variados até os dois anos ou mais. Afinal, amamentar é um ato de amor sem limites”, informa a SBP.

BANCOS DE LEITE DO ES

Hospital Estadual Infantil e Maternidade de Vila Velha (Himaba)
Horário de funcionamento: 08 às 17 horas, de segunda a sexta-feira. Endereço: Avenida Ministro Salgado Filho, 918, Soteco, Vila Velha.
Contato: 3636-3151

Hospital Estadual Dório Silva
Horário de funcionamento: 08 às 17 horas, de segunda a sexta-feira.
Endereço: Avenida Eudes Scherrer de Souza, s/n, Laranjeiras, Serra.
Contato: 3138-8905

Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo (HPM)
Endereço: Bento Ferreira, em Vitória.
Contato: 3636-6568

Hospital das Clínicas (referência do Estado)
Horário de funcionamento: 08 às 21 horas, de segunda a sexta-feira.
Endereço: Avenida Marechal Campos, s.nº, Maruípe.
Contato: 3335-7424 – 3335-7377

Santa Casa de Misericórdia
Endereço: Rua Dr. João dos Santos Neves, 143, Vila Rubim, Vitória.
Contato: 3212-7246

Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim
Horário de funcionamento: 07 às 17 horas, de segunda a sexta-feira.
Endereço: Rua Anacleto Ramos, 55, Bairro Ferroviários
Contato: (28) 3521-7045

Hospital e Maternidade São José, Colatina
Horário de funcionamento: das 07 às 17h20, de segunda a sexta-feira.
Endereço: Ladeira Cristo Rei, Centro de Colatina.
Contato: (27) 2102-2100

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