Dólar Em baixa
5,148
25 de abril de 2024
quinta-feira, 25 de abril de 2024

Vitória
27ºC

Dólar Em baixa
5,148

ES não estará em vantagem na retomada econômica e no crescimento pós-pandemia

Com mais de 475 mil casos registrados da Covid-19 e o número de mortes pela doença acima das 10 mil, o Espírito Santo, na avaliação de economistas e entidades que representam trabalhadores e associações comerciais e empresariais, está no mesmo barco que o restante do país em relação a retomada econômica e criação de novos postos de trabalho.

Na avaliação de especialistas, é possível que ocorra uma retomada mais rápida de crescimento pós-pandemia. Porém, com as mudanças diárias geradas pelo coronavírus, não é possível cravar expectativas concretas.

Leia também: Mesmo sob impacto da 2ª onda, contratações superaram demissões no ES em abril

Para o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes) e diretor executivo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Estado (Ideies), Marcelo Saintive, o principal componente para a melhoria da política econômica, diante da pandemia, é a vacinação. De acordo com Saintive, a experiência internacional, com campanhas de imunização em massa, exemplificam essa constatação.

“Os países que, com um programa de vacinação em massa, têm mais de 50% da população vacinada tiveram uma queda brusca na relação de mortos, como, por exemplo, Israel, Reino Unido e Estados Unidos. A gente depende muito da vacinação para enxergar um futuro melhor da economia do Brasil e, consequentemente, do Espírito Santo”, pontua.

Problemas e consequências

O Plano Nacional de Vacinação (PNI) se vê diante de problemas que fizeram o Governo Federal correr para dar conta da imunização, tal qual a escassez de doses de vacinas, como no caso da CoronaVac, a falta de insumos básicos para a produção de imunizantes por conta de conflitos diplomáticos, apostas em poucas vacinas e a falta de foco na logística.

Como resultado, diante dessas questões, segundo o economista Felipe Storch, “as empresas vão quebrando e não voltam. Os investimentos deixam de ser feitos e perde-se o timing de geração de empregos, o que é difícil de ser revertido”, em especial, no caso das pequenas empresas. O economista destaca ainda o risco de terceira onda da pandemia no país e em território capixaba, o que pode “bagunçar” ainda mais a economia.

No comparativo com outros estados, o Espírito Santo está entre os que mais aplicaram a 1ª dose da vacina (944.990) com mais de 20% da população do estado imunizada. Entretanto, em relação ao total de vacinados que receberam a 2ª dose, pouco mais de 9% da população capixaba concluiu o ciclo vacinal contra a Covid-19 (401.512).

“O Espírito Santo tem vacinado bem e tem a população, e o grosso da economia, concentrados em alguns polos, como é o caso da Grande Vitória que vacina muito. Isso gera um pouco mais de tranquilidade e perspectiva melhor. Tudo é uma questão de velocidade [da vacinação]. Mesmo assim, o estado está inserido dentro do contexto nacional de poucas vacinas. Talvez o Espírito Santo seja mais rápido para essa abertura consciente do que outros estados”, pondera Storch, que ainda destaca que “descolar completamente da situação nacional não dá”.

O custo de uma vacinação lenta

Segundo a presidente da Central Única dos Trabalhadores no Espírito Santo (CUT-ES), Clemilde Cortes, por conta da vacinação lenta em território brasileiro, motivada pelas problemáticas elencadas anteriormente, “a gente vai pagar e está pagando um preço muito alto”.

“Aqui [em comparação com outros países] a gente vai ter muita dificuldade, porque muitos pequenos negócios acabaram, porque não teve nenhum suporte governamental, e o auxílio que teve foi insuficiente. E é aquilo: ‘o governo ajuda, mas daqui a pouco você deve o rim para pagar a dívida’. Da mesma forma, os trabalhadores que perderam emprego”, ressalta Clemilde.

Leia também: Percentual de desocupados supera 14%, diz IBGE

Ao todo, 269 mil capixabas estavam desempregadas nos primeiros três meses do ano, com uma taxa de 12,9%, — a mais alta para o período desde 2017, mesmo tendo apresentado recuo em comparação com os últimos três meses de 2020. As informações são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) Trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Trabalhadores informais e o setor de serviços

ES não estará em vantagem na retomada econômica e no crescimento pós-pandemia
“O maior desafio vai ser a retomada do setor de serviços”, aponta Marcelo Saintive, economista-chefe da Findes — (Foto: Reprodução/iStock)

Nesse sentido, o presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Espirito Santo (Faciapes), Arthur Avellar, diz que a população irá sofrer diante do processo de retomada do emprego. Contudo, Avellar, ao citar o escritor e dramaturgo brasileiro Ariano Suassuna, acredita que as problemáticas irão se acertar, mesmo que com “sequelas”.

“Estamos no mesmo barco [Espírito Santo e Brasil]. A nossa proximidade [enquanto estado] com Minas Gerais, por exemplo, é grande. Então, se formos considerar os estados vizinhos, vamos ter que aguardar um pouco mais, já que temos um fluxo migratório muito grande. Na hora que o Brasil sofre, isso acontece como um todo”, fala o presidente da Faciapes, destacando que o necessário, neste momento, é a retomada dos empregos, em especial entre os micro e pequenos empresários, e os trabalhadores informais.

Leia também: Economista prevê queda do desemprego com aumento da vacinação

Do mesmo modo, o economista-chefe da Findes destaca que é preciso primeiro resolver a situação nacional para o Espírito Santo avançar. Juntamente com isso, Saintive destaca a gestão fiscal do Espírito Santo, com um histórico positivo de quase dez anos seguidos, o que pode fazer com que o estado se destaque diante da retomada, mesmo com as consequências.

Nesse sentido, o economista Rafael Storch complementa que a estrutura fiscal capixaba também tende a gerar investimentos. Porém, o economista pontua que o estado ainda apresenta problemas, como, por exemplo, o da infraestrutura.

“Temos um porto, mas as estradas são muito ruins. Não temos uma ferrovia até esse porto, por exemplo. E o calado do porto poderia ser mais profundo. Esses problemas de infraestrutura acabam sendo empecilhos para o crescimento. São desafios para gerar uma alta mais sólido a longo prazo”, explica Storch, exemplificando com as obras que vão contemplar a Reta do Aeroporto, trecho serrano até o acesso à Rodovia do Contorno e acesso aos bairros, iniciadas no último dia 22 de maio.

Esse trajeto é considerado um gargalo na mobilidade urbana da Grande Vitória. Com esses investimentos, porém, espera-se uma amenização da situação. A obra tem investimento de mais de R$ 76 milhões com prazo de até dois anos para finalização.

Desafios antigos e atuais

Ligado a isso, o economista-chefe da Findes e diretor executivo do Ideies diz ainda que o maior desafio será a retomada no setor de serviços, que corresponde a mais de 50% da economia capixaba. “É um setor muito afetado pela pandemia, mas também o que mais emprega gente. Quanto mais rápido a gente tiver um retomada da atividade econômica, da vacinação, melhor se recuperará esse setor importante, o que ajudará na queda do desemprego, que é muito alto”.

Além do alto índice de desocupados, o economista Felipe Storch lembra de quem já desistiu de procurar emprego, o que deixa a situação ainda pior. “Se a gente não vacina, a gente perde. Então, é preciso agir rápido com a vacinação, por as reformas para andar… Gerar um ambiente de negócios. Se não melhora a gente fica para trás”.

Essa situação, lembra a presidente da CUT-ES, não se resume apenas a pandemia. Segundo Clemilde, reformas, como a da previdência e trabalhista, prejudicaram os desempregados no contexto atual com agravos.

Retorno sem frutos em 2021

Além disso, a presidente da CUT-ES critica ações do Governo do Estado, como a quarentena decretada pelo governador Renato Casagrande (PSB) em março deste ano. Para ela, o Espírito Santo perdeu a oportunidade de sair na frente, por conta de ações, segundo Clemilde, que “não tiveram efeitos necessários”.

“A pandemia potencializou uma crise que já existia. Na minha perspectiva, esses postos de trabalho que acreditam que serão repostos, vai demorar um tanto. O Espírito Santo não vai ter essa recuperação”, avalia a presidente da CUT-ES, que ainda reafirma a importância de um suporte governamental, principalmente, para os pequenos negócios.

Leia também: Taxa de informalidade chega a 40,6% no Espírito Santo

Por outro lado, o presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Espirito Santo (Faciapes), Arthur Avellar, acredita que os micro e pequenos negócios terão menos impactos por conta de amparos e assistências oferecidos por órgãos e instituições.

Mesmo assim, Avellar acredita que o retorno irá acontecer a média e longo prazo com pouco sucesso e sem colher frutos em 2021. “Tem a variante indiana e a gente não sabe como fica. A vacinação é a esperança que temos. Ou seja, é um momento de avaliar. Qualquer diagnóstico seria uma esperança que não reflete a realidade ou estudos”.

Foto de capa: OSORIOartist/Shutterstock – Montagem: Matheus Passos/ESHOJE

Matheus Passos
Matheus Passos
Graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário Faesa, atua como repórter multimídia no ESHoje desde abril de 2021. Atualmente também apresenta e produz o podcast ESOuVe. Ingressou como estagiário em junho de 2019. Antes atuou na Unidade de Comunicação Integrada da Federação das Indústrias do Estado (Findes).

Você por dentro

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Escolha onde deseja receber nossas notícias em primeira mão e fique por dentro de tudo que está acontecendo!

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais Lidas

Notícias Relacionadas