Dólar Em baixa
4,985
28 de março de 2024
quinta-feira, 28 de março de 2024

Vitória
28ºC

Dólar Em baixa
4,985

Ingestão de álcool por adolescentes cresce na pandemia

Estudos realizados após o início da pandemia da Covid-19 em diferentes lugares do mundo, incluindo o estado do Espírito Santo, reforçam um alerta sobre a saúde mental e física de adolescentes e jovens. O consumo precoce e excessivo de álcool, que já preocupava profissionais de saúde, intensificou-se durante o período.

De acordo com o psiquiatra e coordenador do Núcleo de Álcool e Drogas do Hospital Sírio-Libanês, Arthur Guerra, a realidade pode ser facilmente percebida no Brasil, onde quase 40% das crianças têm o primeiro contato com as bebidas desse tipo aos 13 anos, como aponta o Manual de Orientação sobre Bebidas Alcoólicas. “A frequência [do consumo de álcool] tem crescido em uma idade tão precoce”, destaca o profissional de saúde.

De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) no Canadá, por exemplo, o percentual de jovens que consumiram álcool dentro de casa passou de 20,6% para 30,1% no período da pandemia, indicando uma mudança de hábitos nociva especialmente na fase de desenvolvimento.

A professora Marluce Siqueira, titular do departamento de Enfermagem da UFES e coordenadora de pesquisa do Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Álcool e outras Drogas: Interconexões (CEPADi), explicou que o isolamento social foi um fator que impactou no aumento do padrão de ingestão de álcool por adolescentes no período pandêmico.

Ingestão de álcool por adolescentes cresce na pandemia

“Num primeiro momento, as pessoas ficaram no confinamento nos domicílios, se afastando das redes sociais humanas e fortalecendo o vínculo em casa. O álcool, por ser substância lícita e com acesso dentro e fora de casa, vimos um aumento no padrão de ingestão nos adolescentes e dos pais dos adolescentes que levaram a uma modificação do uso, que era feito fora de casa. O padrão foi aumentado, mas numa condição diferente, no domicílio. Evidentemente, isso fez com que o acesso ao álcool pelos adolescentes ficasse mais facilitado ainda. Isso interferiu”, explicou Marluce.

Permissividade

A permissividade dentro do contexto familiar associada à suscetibilidade à ansiedade e à depressão influenciaram diretamente no aumento deste padrão de consumo.

“O sim e o não dentro do domicílio e a facilidade de comprar álcool, inclusive por delivery, até sem pai e mãe saberem… Isso contribuiu. O indivíduo ainda poderia ter um sinal de ansiedade e depressão que não foi detectado anteriormente nem pelos pais, nem na escola, e com o isolamento na pandemia isso se agudizou. O adolescente nesta situação que vai fazer a experimentação do álcool tende a aumentar a frequência dessa experimentação”, pontua a professora.

Danos à saúde mental

O psiquiatra Arthur Guerra destaca que os efeitos – mesmo os imediatos – do álcool são prejudiciais à saúde mental, especialmente durante a pandemia. “Apesar de a maioria das pessoas atribuírem a sensação de relaxamento ao consumo de álcool, ele intensifica sentimentos como medo e ansiedade, além da depressão. Isso contribui de forma negativa para a saúde mental daqueles que estão cumprindo o distanciamento social, tornando tudo mais difícil”, destaca.

Ingestão de álcool por adolescentes cresce na pandemia
Foto: Reprodução/Instagram

Uma das consequências para os adolescentes da ingestão e uso precoce do álcool é justamente o risco do abuso. “Uma dose baixa de álcool é capaz de ter efeito relaxante, mas se passar disso não tem alternativa, porque o efeito do álcool no organismo é depressão do Sistema Nervoso Central. O álcool em um organismo em franco desenvolvimento vai trazer uma série de alterações comprometedoras para a faixa etária, trazendo dano físico simples, depois pode gerar uma depressão, impacto no rendimento escolar”, completa Marluce Siqueira.

Para ela, o maior risco, no final das contas é a chegada precoce da experimentação das substâncias ilícitas. “A coisa mais danosa é ele descobrir que está com uma droga depressora, não gostar da sensação de depressão quando para de beber e ali começar a fumar cigarro e depois partir para as drogas ilícitas. Os riscos para ele são muitos, mas para mim, o maior é a chegada da experimentação das drogas ilícitas”.

Consumo é influenciado pela família

As pesquisadoras Leila Garcia, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Zila Sanchez, da Escola Paulista de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ressaltaram que “há que se considerar que pais que aumentaram seu consumo de álcool dentro de casa durante a quarentena, bebendo em maior frequência ou quantidade, contribuem para a alteração das crenças normativas de seus filhos, que podem passar a interpretar o beber como algo cotidiano”.

Na prática, essa alteração de crenças normativas “está associada a padrões mais danosos de uso de álcool na adolescência e deve ser evitada”.

Para a professora Marluce Siqueira, a fim de evitar problemas com álcool na adolescência dentro de casa, primeiro é preciso um ambiente de diálogo dentro de casa, com amor e pensando em que tipo de modelo familiar e de sociedade é a ideal na concepção familiar.

Você por dentro

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Escolha onde deseja receber nossas notícias em primeira mão e fique por dentro de tudo que está acontecendo!

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais Lidas

Notícias Relacionadas