A influência das redes sociais, com vídeos que exibem rotinas intensas de treino ainda de madrugada, tem levantado uma dúvida recorrente: existe um momento ideal do dia para se exercitar? Embora a ideia de um “horário perfeito” seja tentadora, a ciência mostra que essa resposta depende de diversos fatores, incluindo os objetivos pessoais, o tipo de exercício, o relógio biológico e o estilo de vida de cada indivíduo.
Pesquisas com atletas, por exemplo, apontam que o desempenho físico pode ser melhor no fim da tarde. Uma análise das Olimpíadas de 2004 a 2016 revelou que nadadores tendem a obter melhores resultados por volta das 17h, em sintonia com o ritmo circadiano — o relógio biológico que regula funções como sono, apetite e performance física ao longo do dia. Outros estudos indicam que esportes de resistência alcançam pico de desempenho entre 16h e 20h.
Conforme explica a professora de Educação Física Bárbara Gomes, em geral, os treinos noturnos favorecem maior ganho muscular, enquanto os matinais auxiliam na queima de gordura corporal.
“Mas isso depende do cronotipo, ou seja, a tendência natural de cada pessoa ser mais ativa pela manhã (madrugadores) ou à noite (notívagos). Respeitar esse ritmo biológico e alinhar os exercícios a ele pode melhorar a performance e facilitar a adaptação”, afirma a profissional.
Ainda segundo Bárbara, treinar sempre no mesmo horário ajuda o corpo a se ajustar. “Não é preciso mudar a rotina drasticamente — o mais importante é manter uma prática regular de se exercitar”, garante.
Vantagens e desvantagens de cada horário
Manhã: o corpo está mais descansado e com níveis hormonais elevados, favorecendo treinos de força e aeróbicos. Também pode aumentar a disposição ao longo do dia. Por outro lado, o desempenho pode ser prejudicado pelo jejum e pela temperatura corporal mais baixa.
Tarde: o corpo atinge um equilíbrio fisiológico ideal, com temperatura elevada e maior liberação de adrenalina. É uma boa opção para quem gosta de modalidades de curta duração e que envolvam esforços intensos, ou que necessitam de mais velocidade. No entanto, a queda de energia após o almoço pode afetar o rendimento, se a alimentação não for adequada.
Noite: o organismo ainda mantém boa resistência e coordenação, e os treinos podem ajudar a relaxar. Em alguns casos, até melhoram o sono. O ponto de atenção é para pessoas mais sensíveis: exercícios intensos à noite podem dificultar o adormecer. Nesses casos, vale adotar medidas de higiene do sono, como tomar um banho quente, evitar telas digitais, fazer refeições leves e utilizar técnicas de relaxamento antes de se deitar.
“No final das contas, não existe um horário universalmente melhor para treinar. O ideal é respeitar o próprio ritmo, adaptar os treinos à rotina e manter a constância: esse, sim, é o fator que mais influencia os resultados a longo prazo”, conclui Bárbara Gomes.