Dólar Em baixa
5,700
1 de abril de 2025
terça-feira, 1 de abril de 2025
Vitória
24ºC
Dólar Em baixa
5,700

Mais de 4 mil autistas esperam por tratamento no ES

O amor de uma mãe por seu filho transcende qualquer barreira, e quando esse filho vive no seu ‘mundinho particular’, com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), esse amor se revela em sua forma mais pura e resiliente. Aliás, resiliência é uma palavra constante na vida de mães que esperam, às vezes mais de um ano, por tratamento para os filhos com o transtorno.

Nas duas principais instituições de referência para tratamento da TEA no Estado, a Associação dos Amigos Autistas (Amaes) e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), são mais de 4 mil filhos autistas na fila de espera por um tratamento, quando somada a demanda reprimida das associações.

Também por isso, para muitas mães, a jornada é marcada por desafios, descobertas e, acima de tudo, um amor incondicional que se manifesta na paciência, na aceitação e na busca por uma melhor qualidade de vida para seus filhos.

Leia mais notícias de Saúde no portal ES Hoje

A maternidade atípica é um aprendizado constante. Como revela Heloisa Moraes, mãe de Willian Moraes, 14 anos, e tesoureira da Associação dos Amigos Autistas (Amaes), a falta de informação foi um dos maiores desafios quando recebeu o diagnóstico do filho. “Ser mãe já é um desafio, e na maternidade atípica, os obstáculos se multiplicam. O diagnóstico de autismo do Willian aos 2 anos e 7 meses trouxe muitas incertezas, especialmente há 12 anos, quando a informação era escassa. Além das terapias e da rotina adaptada, enfrentei julgamentos e falta de compreensão, ouvindo comentários como ‘não parece autista’ ou ‘falta de limites'”, relembra.

Mais de 4 mil autistas esperam por tratamento no ES
Heloísa é mãe de William, de 14 anos: falta de informação foi o grande desafio na descoberta do TEA

Determinada a proporcionar uma vida melhor ao filho, Heloisa superou obstáculos e preconceitos por meio da busca incansável por conhecimento e terapias. “A busca por conhecimento e tratamentos foi árdua, mas crucial para o desenvolvimento do Willian. O acesso precoce às terapias, inicialmente pelo plano de saúde e depois pela Amaes, foi fundamental. Hoje, o Willian, que não era verbal, se comunica e supera barreiras. Meu maior desejo é que mais famílias tenham acesso à informação e que a sociedade acolha o autismo com respeito e empatia”.

Tratamentos e terapias

A busca por tratamentos adequados, especialmente terapias, é essencial para o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas com TEA. Embora o autismo não tenha cura, terapias específicas podem ajudar significativamente no desenvolvimento de habilidades sociais, de comunicação e comportamentais, promovendo mais autonomia e bem-estar.

Atualmente, a Amaes oferece atendimentos em seis municípios da Grande Vitória (Vitória, Serra, Cariacica, Viana, Vila Velha e Aracruz), mas enfrenta uma fila de espera de aproximadamente 1.300 pessoas, enquanto realiza cerca de 1.400 atendimentos. “Então, quando iniciamos um projeto sob acordo, temos pré-requisitos. Esses acordos, firmados com as prefeituras, são específicos para os moradores do local. Por exemplo, em Cariacica, atendemos apenas os munícipes de Cariacica, e assim por diante. Também temos acordos com o Estado, através das Secretarias de Saúde, Educação e Assistência Social. As parcerias com o estado nos permitem atender moradores de outros municípios”, explica a tesoureira da Amaes.

3 mil famílias na fila de espera da Apae

Outra entidade filantrópica que auxilia no atendimento gratuito a crianças com TEA e outras deficiências intelectuais é a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), que atualmente tem 3 mil famílias na fila de espera. O Diretor Social da Federação das Apaes do Espírito Santo, Vanderson Gaburo, destaca que a demanda por atendimento é crescente.

autista tratamento
Vanderson Gaburo é diretor social da Feapaes

“A demanda de fila de espera nas Apaes é muito dinâmica, mas hoje temos uma demanda reprimida de mais de 3 mil pessoas aguardando vaga em uma das nossas 40 Apaes, dentre pessoas com autismo e deficiência intelectual”, afirma.

Gaburo ressalta que a responsabilidade pelo atendimento às pessoas com deficiência é do poder público, mas que as Apaes continuam atuando com parcerias e doações para ampliar sua capacidade de atendimento. “Temos limitações de estrutura física e financiamento das atividades. Esse financiamento pode ser público, por meio de parcerias, ou privado, com doações da sociedade e empresas parceiras. O desafio é como ampliar essa capacidade no tempo e da forma que gostaríamos para atender a todos. Estamos lutando constantemente para isso”, enfatiza.

Uma das soluções para reduzir a espera foi a criação do programa “Apae Apoia”, que oferece suporte às famílias que ainda aguardam uma vaga. “Nos preocupamos muito com essas famílias que não conseguem atendimento. Criamos e estamos implantando o Programa Apae Apoia, que visa acolher todas as famílias que estão na fila de espera das Apaes. O objetivo é oferecer escuta, rodas de conversa e informações de qualidade para essas famílias. Mesmo sem conseguir ofertar a vaga, podemos dar amparo e apoio. Já iniciamos na Apae de Cariacica e o depoimento das mães tem sido fantástico. A acolhida faz a diferença nesse percurso de vivência da deficiência. Vamos ampliar para todas as Apaes”, pontua Gaburo.

Além do acolhimento presencial, uma alternativa criada foi o teleatendimento.”Há dois anos temos nosso serviço de teleatendimento para famílias de pessoas com deficiência, através do NAF – Núcleo de Acolhimento à Família. O objetivo é dar escuta e informação para as famílias. São estratégias que criamos para dar alguma resposta a essa crescente demanda por atendimento”, explica.

A importância do diagnóstico precoce na infância

 O diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é fundamental para o desenvolvimento neurocognitivo e socioemocional das crianças, garantindo melhores condições de adaptação e aprendizado ao longo da vida. Segundo a neurologista Mariana Grenfell, da Rede Meridional, a identificação antecipada do TEA possibilita intervenções especializadas que potencializam a plasticidade neural, especialmente nos primeiros anos de vida, quando o cérebro tem maior capacidade adaptativa.

Mais de 4 mil autistas esperam por tratamento no ES
Neurologista Mariana Grenfell: diagnóstico precoce melhora a eficiência do tratamento

“O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits persistentes na comunicação e interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento. Estudos demonstram que crianças diagnosticadas antes dos 2,5 anos apresentam melhorias significativas nos sintomas sociais em comparação com aquelas diagnosticadas mais tarde”, explica a especialista.

Além de possibilitar um desenvolvimento mais equilibrado, a detecção precoce do autismo está associada a melhores resultados cognitivos e comportamentais na idade escolar. Crianças diagnosticadas e acompanhadas desde cedo têm maior probabilidade de desenvolver habilidades verbais, apresentar melhor desempenho acadêmico e necessitar de menos suporte contínuo.

Segundo Mariana Grenfell, a introdução de terapias precoces baseadas em evidências científicas, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), a terapia ocupacional e a fonoaudiologia, é essencial para aprimorar a comunicação, a cognição e a regulação comportamental. “O diagnóstico precoce não apenas facilita o acesso a essas intervenções, como também reduz impactos secundários, como dificuldades acadêmicas e o risco de isolamento social”, destaca.

A neurologista também ressalta que a ausência de um diagnóstico precoce pode levar a desafios sem o suporte adequado, aumentando o risco de comorbidades psiquiátricas, como ansiedade e depressão. Além disso, o conhecimento do quadro permite que as famílias adotem estratégias eficazes para estimular a autonomia e melhorar a qualidade de vida do indivíduo com TEA.

Thauane Lima
Thauane Lima
Bacharel em Jornalismo pela UFES

Você por dentro

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Escolha onde deseja receber nossas notícias em primeira mão e fique por dentro de tudo que está acontecendo!

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais Lidas

Notícias Relacionadas