Moradores dos quatro principais municípios da Grande Vitória — Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra — têm registrado a constante presença de fios soltos ou caídos nas ruas, próximos a calçadas, veículos e residências. As imagens enviadas à redação do Jornal ES Hoje evidenciam a desorganização da infraestrutura aérea de cabos, que vem preocupando a população e levantando discussões sobre segurança e responsabilidades técnicas.

Israel Scardua, morador da Praia do Canto, em Vitória, relata que a situação é recorrente em sua região e que tem buscado apoio do poder público. “Desde o ano passado converso com os vereadores. Mas intensifiquei neste ano porque eu acho que a situação piorou bastante. Mandei para Armandinho, Leonardo Monjardim, Juscelino, Aylton Dadalto, Davi Esmael. Desses, Armandinho, Ayrton e Juscelino me responderam dizendo verificar as responsabilidades e acionar a prefeitura”, contou. Ele também alerta para os riscos que os fios representam à população: “Os fios apresentam total risco. Os que estão no chão a pessoa pode se enroscar neles, tropeçar, sobretudo adultos, crianças e deficientes. Eu posso desviar deles, mas uma pessoa com deficiência visual não poderia”.
Em nota, a EDP, concessionária de energia elétrica no Espírito Santo, afirmou que os fios mencionados são de telecomunicações, não pertencendo à rede elétrica da empresa. “A EDP informa que os cabeamentos mencionados são de telecomunicação e que notificará as empresas responsáveis sobre a necessidade de reparo dos fios o mais rápido possível”, destacou a distribuidora.
A empresa também explicou que atua sistematicamente com notificações às operadoras, responsáveis pela manutenção dos cabos, e alertou para os riscos de intervenções indevidas nesses sistemas, que podem afetar serviços essenciais como internet, hospitais e repartições públicas.
O engenheiro eletricista Sergio Costa, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), alerta que a situação representa uma irregularidade técnica e normativa, infringindo padrões estabelecidos pela ABNT e pelo próprio conselho. “Fios soltos e cabos caídos comprometem a segurança elétrica e estrutural das vias urbanas. Além do risco de curto-circuito e choques elétricos, há perigo real de queda de postes sobrecarregados com instalações desorganizadas”, afirmou.
O especialista ressaltou que, mesmo em casos onde os fios não pertencem à rede elétrica, a falta de padronização e fiscalização impacta diretamente a vida urbana. Segundo ele, o Crea-ES realiza fiscalizações, impõe sanções quando necessário. Ele também recomendou que, ao identificar cabos soltos, a população entre em contato com os órgãos responsáveis conforme a natureza do fio — energia elétrica (EDP), telecomunicações (ANATEL) ou infraestrutura urbana (Prefeitura).
Entre as soluções para a desorganização dos cabos nos postes, Sergio Costa defende o enterramento da fiação como medida moderna e eficaz, como já adotada na região central do município de São Paulo (SP), Centro Histórico de Curitiba (PR) e no Centro do Rio de Janeiro (RJ), embora dependa de análise técnica e viabilidade em cada município. “Enterrar os cabos melhora a segurança, reduz acidentes e valoriza o espaço urbano, além de evitar a poluição visual”, pontuou. Outra alternativa destacada é o compartilhamento ordenado da infraestrutura entre as empresas de energia e telecomunicações, reduzindo a quantidade de fios por poste.
Questionada sobre o tema, a Prefeitura de Vitória informou que estuda a possibilidade de realizar o aterramento da rede em áreas específicas ou remanejamento das fiações, a fim de garantir maior qualificação e segurança ao espaço urbano, mas não informou um prazo para isso acontecer. Já a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado (Sedurb) declarou que, no momento, não há projetos estaduais voltados ao enterramento de cabos. As prefeituras de Cariacica, Serra e Vila Velha não responderam aos questionamentos da reportagem até a publicação desta matéria.