No dia 10 de setembro o mundo volta seus olhos para uma realidade dura, mas que precisa ser enfrentada com coragem: o suicídio. A data é reconhecida como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, iniciativa que deu origem à campanha Setembro Amarelo, hoje considerada a maior campanha de conscientização e combate ao estigma no mundo.
No Brasil, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) encabeçam o movimento, que em 2025 traz o lema: “Se precisar, peça ajuda!”. A mensagem ecoa diante de estatísticas alarmantes: mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são quase 14 mil casos anuais — em média, 38 pessoas por dia. A maioria dos episódios está relacionada a transtornos mentais não diagnosticados ou tratados de forma incorreta
Falar sobre suicídio e saúde mental é urgente, pois quebrar o silêncio salva vidas. E, para nós cristãos, esse diálogo se enriquece ainda mais quando olhamos para a Palavra de Deus, que não nega a realidade da dor, mas oferece esperança viva em Cristo Jesus.
Depressão e esperança à luz da Bíblia
A depressão é uma das principais causas de suicídio. Ela estreita a visão, prende a pessoa em um labirinto de dor, e muitas vezes a faz acreditar que não há saída. Mas a Escritura aponta para o contrário: há esperança, mesmo nos dias mais sombrios. A seguir, destacamos 5 versículos que têm sido farol para cristãos ao longo da história, com comentários de teólogos contemporâneos e aplicações para quem sofre.
O Senhor está perto dos quebrantados
“Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido”
(Salmos 34.18)
Davi escreve este salmo em meio a perseguição e medo (quando fugia de Saul). Ele não pinta um quadro de vida sem sofrimento, mas mostra que a presença de Deus é real em meio à dor.
Tim Keller lembra que os salmos “não negam a realidade da dor, mas a colocam diante de Deus”. John Piper também destaca que este versículo mostra a proximidade de Deus especialmente quando estamos esmagados pelo sofrimento. O Senhor não é distante, mas “está perto” — uma promessa concreta para quem se sente abandonado.
Para quem sente que ninguém compreende sua dor, existe uma promessa concreta, um verdadeiro consolo: o Senhor não está distante, Ele está perto, e a sua presença é real no sofrimento.
Cristo nos chama ao descanso
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”
(Mateus 11.28)
Jesus está falando para pessoas aflitas sob o peso da religião farisaica e do sofrimento humano. Ele se apresenta como descanso para os que já não conseguem mais carregar os próprios fardos.
Sinclair Ferguson diz que este convite revela o coração de Cristo como “manso e acessível”, mostrando que não precisamos nos recompor para vir a Ele. Dane Ortlund, em “Manso e humilde”, reforça que o descanso prometido não é apenas futuro, mas começa já aqui, em meio às dores.
Para quem luta contra a depressão, este convite é um bálsamo: neste momento, Jesus não exige força (na verdade, Ele conhece nossas fraqueza e limitações); Ele oferece o Seu descanso, o verdadeiro descanso.
Paz que guarda o coração
“Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes, em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças; e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus”
(Filipenses 4.6-7).
Paulo escreve preso em Roma, sob incertezas e provações, mas convida a igreja em Filipos a trocar a ansiedade pela oração.
Kevin DeYoung lembra que o texto não promete ausência de lutas, mas uma paz sobrenatural que “guarda” — verbo militar — o coração contra o desespero. John MacArthur observa que a ansiedade é vencida não pelo controle humano, mas pela confiança depositada em Deus que governa todas as coisas.
Mesmo em meio à instabilidade emocional, precisamos lembrar que há uma paz que não depende de circunstâncias, mas da fidelidade do Deus Soberano, que é perfeita.
O Deus de toda consolação
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus”
(2 Coríntios 1.3-4)
Paulo fala de aflições intensas que viveu na Ásia, quase à beira da morte (v.8-9), e mostra que Deus não apenas o sustentou, mas deu um propósito redentor para o sofrimento: consolar outros.
R.C. Sproul destaca que este texto nos lembra da comunhão dos santos — o consolo recebido do Senhor não é só pessoal, mas também comunitário. Timothy Keller acrescenta que “em Cristo, a dor nunca é em vão”; Deus usa até mesmo as feridas para gerar esperança em outros.
Aquele que sofre encontra em Deus não só consolo, mas também propósito: transformar sua dor em fonte de esperança para outros.
Nada pode nos separar do amor de Deus
“Porque estou certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”
(Romanos 8.38-39)
Paulo encerra o capítulo 8 celebrando a vitória do amor de Deus em Cristo. Mesmo em meio a perseguições, fome e espada (v.35), a certeza é que nada pode cortar esse vínculo de amor com Cristo.
John Stott chama este texto de “a mais triunfante afirmação de segurança da Bíblia”. Keller ressalta que “a depressão pode nos fazer sentir separados de Deus, mas não pode nos separar de fato”. O amor de Cristo é uma âncora que permanece, ainda que os sentimentos oscilem.
Mesmo quando a mente e o coração dizem que Deus está longe, a realidade eterna é esta: nada, nem mesmo o desespero, pode nos separar dEle.
Vida abundante em Cristo
O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e a campanha Setembro Amarelo nos lembram de que a vida tem valor imensurável. A ciência nos mostra caminhos de tratamento e cuidado, e a fé em Cristo nos aponta para a esperança última: a vida verdadeira, abundante e eterna que Ele nos concede.
Jesus afirmou:
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10).
Essa abundância não significa ausência de dor, mas presença dEle em cada passo. Se o suicídio é a expressão máxima de desesperança, Cristo é a certeza de esperança inabalável.
Por isso, a mensagem da Igreja deve ecoar com firmeza: a vida é sempre a melhor escolha — e essa vida encontra sentido pleno em Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.
