Durante uma semana que transformou a história da humanidade – há quase 2.000 anos – os eventos que vão desde a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém até a sua assunção aos céus delineiam o ápice do ministério terreno de Cristo e o fundamento da fé cristã. Essa narrativa, registrada de forma harmoniosa nos Evangelhos e complementada por Atos, apresenta uma progressão dramática e profundamente carregada de significado teológico e prático.
Jesus inicia sua jornada em Jerusalém, cumprindo as antigas profecias e sendo aclamado pelo povo, num gesto que anuncia o início de um novo reinado espiritual. Em seguida, a limpeza do Templo manifesta o zelo pelo verdadeiro culto a Deus, um ato que não apenas expõe a corrupção das práticas religiosas da época, mas também simboliza a purificação necessária para a entrada no Reino de Deus. À medida que os dias avançam, os confrontos e os ensinamentos no Templo revelam a profundidade da crítica de Jesus à hipocrisia e ao legalismo, denunciando práticas que minavam a integridade espiritual e prenunciando o juízo divino.
O clima de tensão se intensifica com a conspiração para prendê-lo, culminando na traição de Judas Iscariotes e na realização da Última Ceia, onde Jesus institui a nova aliança e revela o mistério do seu sacrifício iminente. O retiro no Getsêmani, repleto de angústia e submissão à vontade do Pai, antecipa a prisão e o trágico julgamento que o levarão à crucificação, momento máximo da entrega e amor sacrificial. O sepultamento e o Sábado de Silêncio simbolizam a pausa em meio à dor da perda aparente, preparando o terreno para a manifestação da vitória final: a ressurreição de Jesus.
Nos quarenta dias que se seguem, as múltiplas aparições de Cristo fortalecem a fé dos discípulos e anunciam o êxito do plano redentor, culminando na ascensão aos céus, onde Jesus se eleva glorificado, prometendo o derramamento do Espírito Santo. Essa ascensão não marca um adeus, mas o início de uma nova era para a igreja e para cada crente, chamada a viver de acordo com os valores do Reino de Deus. Em cada episódio, encontramos não só a revelação do caráter de Cristo, mas também um convite para que a fé se traduza em transformação pessoal e social, ecoando o amor, a justiça e a misericórdia de Deus em todas as esferas da existência.
Veja abaixo os 13 episódios desde a entrada de Jesus Cristo em Jerusalém até sua assunção aos céus:
Entrada Triunfal em Jerusalém (Domingo)
- Jesus entra montado em um jumentinho, cumprindo a profecia de Zacarias, enquanto a multidão o aclama com ramos e gritos de “Hosana!”.
- Versículo chave:
Mateus 21:9 – “Hosana ao Filho de Davi!” - Comentário:
João Calvino ressaltava que este evento simboliza o reconhecimento messiânico e o início do cumprimento profético, destacando a humildade de Cristo ao contrastar com as expectativas humanas de um rei triunfante.
Limpeza do Templo (Segunda-feira)
- Jesus expulsa os cambistas do templo e condena o comércio que profanava a casa de Deus.
- Versículo chave:
E disse-lhes: — Está escrito: “A minha casa será chamada ‘Casa de Oração’. “Mas vocês estão fazendo dela um covil de salteadores. (Mateus 21:13) - Comentário:
Calvino via nessa ação o forte chamado à pureza na adoração, criticando a corrupção do culto religioso e evidenciando que o templo deveria ser um lugar de sincera devoção e reverência a Deus.

Confrontos e Ensinamentos no Templo (Terça-feira)
- Em meio a debates com fariseus e escribas, Jesus ensina com autoridade, denunciando a hipocrisia dos líderes religiosos e preparando os ouvintes para a realidade do juízo divino.
- Versículo chave:
Mateus 23:27 – “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!” - Comentário:
R.C. Sproul interpretava esses ensinamentos como um diagnóstico profundo da condição humana, ressaltando que o juízo contra a hipocrisia é uma chamada à reforma interna e à prática de uma fé autêntica.
Conspiração para Prendê-lo
- Os líderes religiosos conspiram contra Jesus e Judas Iscariotes aceita trair o Mestre em troca de trinta moedas de prata.
- Versículo chave:
Mateus 26:3 – “Então os principais sacerdotes se reuniram e consultaram com os anciãos como poderiam prender Jesus em segredo e matá-lo.” - Comentário:
Segundo Calvino, essa conspiração revela a profundidade da corrupção e da cegueira espiritual dos líderes religiosos, mostrando como o mal, paradoxalmente, se entrelaça com o plano soberano de Deus para a redenção da humanidade.
A Última Ceia (Quinta-feira à noite)

- Jesus celebra a Páscoa com os discípulos, instituindo a Santa Ceia como símbolo do seu sacrifício, lavando os pés dos discípulos e prevendo a traição.
- Versículo chave:
Lucas 22:19 – “Fazei isto em memória de mim.” - Comentário:
J.I. Packer enfatizava que a Última Ceia estabeleceu a nova aliança em Cristo, representando não apenas a antecipação do sacrifício redentor, mas também a chamada para uma comunidade de fé fundamentada na entrega e comunhão com o Senhor.
O Getsêmani e a Prisão
- No Jardim do Getsêmani, Jesus ora intensamente, submetendo-se à vontade do Pai, e é traído por Judas com um beijo, sendo preso logo em seguida.
- Versículo chave:
Mateus 26:39 – “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, e sim a tua.” - Comentário:
Calvino via nesse momento a perfeita submissão de Cristo à vontade divina, ilustrando a tensão entre a humanidade e a divindade de Jesus, e demonstrando seu compromisso inabalável com o propósito redentor de Deus.
Julgamento Religioso e Civil
- Após o preso, Jesus é submetido a um julgamento pelo Sinédrio, passa pelas mãos de Pilatos e Herodes, e, diante da multidão, é condenado enquanto Barrabás é libertado.
- Versículo chave:
Marcos 15:15 – “Então Pilatos, querendo agradar o povo, soltou Barrabás, como eles haviam pedido. Depois mandou chicotear Jesus e o entregou para ser crucificado” - Comentário:
R.C. Sproul interpretava esse episódio como a culminação da rejeição do Messias por parte dos homens, ressaltando que, mesmo diante de injustiças, a soberania de Deus opera para cumprir o seu plano de salvação.
Crucificação de Jesus (Sexta-feira)
- Jesus é levado ao Gólgota, sofre a crucificação entre dois ladrões e, após pronunciar suas últimas palavras, morre, tendo sido evidenciada a profundidade do sacrifício redentor.
- Versículo chave:
João 19:30 – “Está consumado!” - Comentário:
João Calvino destacava que a crucificação é o ápice do amor divino, onde o sacrifício perfeito de Cristo se torna o fundamento da redenção, garantindo a vitória definitiva sobre o pecado e a morte.
Sepultamento de Jesus
- José de Arimateia, demonstrando coragem, retira o corpo de Jesus e o sepulta em um túmulo novo, enquanto discípulos e mulheres observam este ato de despedida.
- Versículo chave:
Mateus 27:57,58 – “Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que era também discípulo de Jesus. Este foi até Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que o corpo lhe fosse entregue”. - Comentário:
Calvino notava que o sepultamento de Jesus confirma a realidade de sua morte, mas também serve como prelúdio para a vitória sobre a morte que se concretiza na ressurreição, apontando para a esperança da restauração.
Sábado de Silêncio
- Durante o Sábado Santo, o corpo de Jesus permanece no sepulcro, e os guardas são postos para vigiar, enquanto os discípulos vivem um tempo de profunda tristeza e expectativa.
- Versículo chave:
Mateus 27:64 – “Portanto, mande que o túmulo seja guardado com segurança até o terceiro dia, para que não aconteça que, vindo os discípulos dele, o roubem e depois digam ao povo: “Ressuscitou dos mortos.” E este último engano será pior do que o primeiro“. - Comentário:
Na tradição reformada, esse período é visto como um tempo de reflexão e silêncio, onde a aparente derrota é, na verdade, um intervalo necessário que prepara o cenário para a manifestação triunfante do poder de Deus na ressurreição.
A Ressurreição de Jesus (Domingo de manhã)
- No domingo, mulheres que foram ao túmulo encontram-no vazio e ouvem dos anjos a boa nova: Jesus ressuscitou, aparecendo em seguida a vários discípulos.
- Versículo chave:
Mateus 28:6 – “Ele não está aqui, porque ressuscitou, como tinha dito”. - Comentário:
R.C. Sproul enfatizava que a ressurreição é o alicerce da fé cristã, evidenciando o triunfo de Cristo sobre a morte e confirmando de forma incontestável a veracidade de todas as promessas divinas.
Aparições Pós-Ressurreição (40 dias)
- Durante os 40 dias seguintes, Jesus aparece repetidamente aos seus discípulos, fortalecendo sua fé e dando a Grande Comissão para a propagação do evangelho.
- Versículo chave:
Atos 1:3 – “Depois de ter padecido, Jesus se apresentou vivo a seus apóstolos, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas relacionadas com o Reino de Deus“. - Comentário:
Calvino interpretava essas aparições como a demonstração definitiva do poder redentor de Cristo, servindo para consolidar a fé dos discípulos e capacitá-los para a missão de proclamar a Boa Nova.
A Ascensão aos Céus
- Quarenta dias após a ressurreição, Jesus conduz os discípulos até o Monte das Oliveiras, onde é elevado aos céus, prometendo a vinda do Espírito Santo e o seu retorno glorioso.
- Versículo chave:
Atos 1:9 – “Depois de ter dito isso, Jesus foi elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos”. - Comentário:
J.I. Packer via a ascensão como o cumprimento da obra terrena de Cristo e o início de um novo ministério celestial, como sumo-sacerdote à direita de Deus Pai, que motiva os discípulos a viver sob a esperança e a expectativa da volta do Senhor.