A cultura muitas vezes nos oferece importantes oportunidades de reflexão, especialmente quando estamos genuinamente e sensivelmente dispostos a observar os sinais que Deus nos deixa na realidade. Estes sinais servem para a nossa edificação, fortalecimento da fé daqueles que foram alcançados pela verdade do Evangelho e por ela são guiados, o que se impõe por meio da iluminação do Espírito Santo que habita em cada salvo pelo sacrifício salvífico do Filho.
A famosa frase “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, proferida por Tio Benjamin [Ben] Parker ao seu sobrinho, Peter Parker — o Homem-Aranha — em um momento dramático de uma história publicada em 10 Agosto de 1962, ressoa até nossos dias, para aqueles que consomem cultura POP. Este bordão, criado por Stan Lee e Steve Ditko — escritor e ilustrador —, continua a inspirar muitos jovens a assumirem responsabilidades, exercitarem sua liderança e liberdade de forma consciente pela misericórdia e graça comum. De maneira semelhante aos crentes assíduos na busca pelo relacionamento com o Pai, Lucas 12:48 nos lembra: “A quem muito é dado, muito será exigido” (Lc 12.48).
Como crentes evangélicos, reformados e protestantes, temos uma grande responsabilidade: refletir a santidade, a justiça e o amor de Deus à humanidade. É fundamental pensar sobre a incompreensão que muitos de nós temos a respeito do amor ao próximo na prática. A descrença generalizada na mudança de vida real do crente em nossos dias evidencia uma falta de sensibilidade por parte do crente protestante-reformado-evangélico, e um descuido quanto ao legado histórico deixado pelas religiões que nos antecederam quando olhamos para as manifestações religiosas judaico-cristãs que precedem a Reforma Protestante e até quando olhamos para nossos vizinhos fraternos na fé.
Desde os primeiros hebreus, os patriarcas legaram o Pentateuco – Toráh – aos judeus, que transmitiram o Antigo Testamento – Tanakh – aos cristãos do primeiro século. Os apóstolos, por sua vez, legaram a doutrina apostólica à Igreja Católica Apostólica Romana, que influenciou, através dos séculos, a teologia que os protestantes ainda utilizam, subsidiadas pelo crivo das Escrituras Sagradas como a única autoridade para reger a vida cristã.

Nós, na qualidade de comunidade de fé, temos a responsabilidade de conhecer, preservar e transmitir tudo o que a Bíblia nos oferece como a Palavra de Deus. Essa consciência deve nos comprometer a exercer humildade no serviço aos que ainda não tiveram oportunidade de receber a salvação pela proclamação do Evangelho.
Neste sentido, convido você a refletir sobre a fé professada pelos Batistas da Convenção Batista Brasileira – CBB. Claro, crer na verdade é essencial e é igualmente importante lembrar que Deus se revela de diferentes formas além da Escritura, apesar de todas as outras manifestações encontrarem acordo e harmonia ao crivo da revelação específica de Deus, pois Deus é inerrante, infalível e imutável como a Sua palavra. Desta forma, tal como Filipe perguntou ao eunuco: “Entendes o que lês?” (At 8.30), eu me dirijo aos crentes batistas brasileiros e convido aos demais a conhecerem a DDCBB: “Entendes o que crês?”
A História da Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira
A Declaração Doutrinária da Convenção Batista do Brasil (DDCBB) foi concebida em um contexto de necessidade e reflexão, nascido da consciência de que a comunidade batista precisava se alinhar às Escrituras de maneira clara e eficaz naquele momento. A DDCBB surge como resposta a desafios sociais e religiosos, buscando promover uma compreensão mais profunda e ativa da fé. Ela enfatiza que a Escritura Sagrada não é apenas um registro histórico, mas uma carta contemporânea que deve ser vivida diariamente.
Organização e Temática da DDCBB
A DDCBB foi elaborada em 1986, resultando de um esforço conjunto de teólogos e líderes batistas para assegurar sua base na Palavra de Deus. A estrutura é composta por dezenove artigos, abordando aspectos centrais da fé cristã e servindo como um guia pedagógico para os crentes. Entre os temas abordados, destacam-se:
1. Escrituras Sagradas – O Artigo I reafirma a Bíblia como a única regra de fé e conduta, ressaltando sua autoridade fundamental.
2. Igreja – O Artigo II define a igreja como uma comunidade local democrática e autônoma, composta por pessoas regeneradas e batizadas.
3. Separação entre Igreja e Estado – Artigo III estabelece essa autonomia, assegurando que a igreja não esteja sob controle estatal.
4. Liberdade Religiosa – O Artigo IV enfatiza a importância da liberdade de consciência.
5. Responsabilidade Individual diante de Deus – O Artigo V trata da responsabilidade de cada crente em relação à sua fé.

Esses artigos não apenas sistematizam o pensamento teológico, mas também instigam os crentes a aplicar ativamente os ensinamentos bíblicos em suas vidas, já que todos os XIX artigos são generosamente acompanhados de muitos textos bíblicos que fundamentam cada um dos artigos.
Desafios Contemporâneos
Nos dias atuais, vivemos desafios que demandam uma recompreensão do significado de amor ao próximo. A DDCBB nos convida a refletir sobre como as heranças das missões, dos profetas e da Igreja primitiva que devem moldar nossa perspectiva e ação. A ignorância sobre esses legados resulta em práticas religiosas que carecem de amor e serviço. Essa falta de sensibilidade pode desumanizar e afastar as comunidades da compreensão do verdadeiro amor cristão.
Como crentes, precisamos adotar a postura de Filipe e nos perguntar: “Entendes tu o que crês?” (At 8.30b). Essa indagação nos impulsiona a buscar uma compreensão que valorize a história e a integre na prática diária. Assim, a DDCBB direciona nossas vidas, sugerindo que o amor deve ser central em nossa vivência cristã.
Conclusão
A Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira não é apenas um compêndio de doutrinas; ela é um chamado à ação. À luz das Escrituras, a DDCBB nos convoca a refletir e a viver de forma radical o amor ao próximo. Assim, é essencial revisitar nossas crenças e perguntar: “Entendes tu o que crês?” Que nossas ações evidenciem um relacionamento transformado por Deus e um comprometimento sincero em amar ao próximo.
Ao honrarmos o legado espiritual que nos foi confiado, também nos tornamos resposta aos anseios das gerações anteriores. Que possamos ser a luz e o sal que Cristo nos chamou para ser (Mt 5.13-16). Se você ainda não conhece a DDCBB, convido-o a explorá-la: é uma ferramenta importante para os crentes compreenderem no exercício prático seu papel no Reino de Deus.
Referências
– Convenção Batista Brasileira. Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasil. <https://www.convencaobatista.com.br/site/pagina.php?MEN_ID=22>
– Bíblia Sagrada, Atos 8.