Hoje, quarta-feira, dia 20 de novembro, comemoramos no Brasil o Dia da Consciência Negra. Também conhecido como Dia Nacional de Zumbi dos Palmares, a data foi estabelecida em 10 de novembro de 2011 através da regulamentação da lei 12.519.
A lei, inicialmente, não era considerada feriado nacional. Mas isso mudou a partir de uma nova regulamentação feita no ano de 2023, ano passado.
Portanto, esse é o primeiro ano em que celebraremos o feriado. Eu, particularmente, acho isso extremamente importante, não somente por causa do descanso, que, claro, é maravilhoso. Mas porque, o feriado nos chama a atenção do porquê de sua existência e, consequentemente, nos leva a refletir sobre seus objetivos.
Mas por que justo no dia 20 de novembro foi eleito para ser o Dia da Consciência Negra? A escolha de 20 de novembro é uma referência à morte de Zumbi dos Palmares (homem negro pernambucano que nasceu livre e foi escravizado aos seis anos de idade), e que faleceu neste dia, no ano de 1695.

Zumbi foi a liderança mais conhecida do chamado Quilombo dos Palmares, que se localizava na Serra da Barriga, no interior de Alagoas. Sua vida de luta pela liberdade do povo negro e sua resistência à opressão e à escravidão fizeram de Zumbi um símbolo para a população negra – e para toda a sociedade brasileira¹.
Reflexões no Dia da Consciência Negra
O Dia Nacional da Consciência Negra é também um lembrete para discutir o racismo e promover a ideia de integração igual da população negra na sociedade, lutando contra a exclusão e a desigualdade social. Nesse sentido, as ações promovidas no dia 20 de novembro não devem ser só de comemoração – é claro que nós devemos comemorar as conquistas até agora em busca de equidade racial, claro que devemos celebrar a contribuição dos negros na música, na dança, na culinária, na literatura, em todas as áreas do conhecimento.
Mas as ações nesse dia também precisam ser de conscientização e de reflexão sobre os motivos dessa data. E essa data só existe porque injustiças foram cometidas no passado. Injustiças que infelizmente concretizaram o racismo em nossa sociedade.
E é desse tema que queremos falar hoje, à luz da Palavra de Deus. Do racismo. Precisamos reconhecer que não é um tema especificamente tratado de púlpito nas igrejas. Mas, em contrapartida, podemos falar com tranquilidade e embasado em dados empíricos e estatísticos que o cristianismo é a religião mais negra do Brasil. Seja católico ou protestante, a igreja ainda é o lugar que possui a maior quantidade de gente negra, onde há a maior diversidade de raças.
Também, em relação à data, é relevante dizer que o cristianismo nasce em Israel, no oriente médio, um lugar de gente de cor de pele que seria considerada parda no Brasil. A representação artística de Jesus como uma pessoa de pele branca e olhos claros acontece depois que o centro do cristianismo sai da Ásia e migra para a Europa, com a cristianização daquele continente. Mas Jesus, nos padrões brasileiros, seria muito provavelmente um homem de pele parda, portanto, um negro.
Racismo à luz da Palavra de Deus
Bom… o nosso objetivo hoje, portanto, é tratar do racismo à luz da Palavra de Deus. E para tratar desse assunto, temos como referência os escritos dos teólogos Gutierres Fernandes e Jorge Rodrigues Neto.
Além de ser um crime segundo as leis brasileiras, o racismo é um pecado grave aos olhos de Deus. E vamos aqui dar três motivos bíblicos do porquê do racismo ser pecado.
Primeiro, compreendamos que o racismo é uma ofensa profunda ao desígnio divino que afirma que todos, independente de gênero, raça, cor, situação social… somos criados à imagem de Deus. “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1.27).

Deus, em sua sabedoria infinita e beleza irrevogável, criou a humanidade com uma diversidade incomparável. Em cada rosto, cada cor de pele, cada textura de cabelo e cada singularidade cultural, nós encontramos o reflexo multifacetado do Criador. Portanto, rejeitar ou desvalorizar alguém com base em sua raça, ou etnia é desvalorizar a imagem de Deus, é uma afronta direta à dignidade intrínseca que nos foi concedida como criaturas de Deus. É pecar contra o próprio Deus. É como se jogássemos pedras na mais perfeita obra de arte do Universo, que é esse homem de todas as raças criado por Deus.
A diversidade de etnias humanas que existem foram criadas por Deus justamente para refletir a Sua glória. Portanto, fazer acepção de pessoas — ainda mais com base em cor de pele — é pecado. Racismo é pecado, um atentado contra o próximo, mas também contra o próprio Criador.
Em segundo lugar, o racismo é uma forma de soberba, um pecado que afasta os seres humanos de Deus, e afasta-nos uns dos outros. A soberba, ela envolve um exagerado sentimento de superioridade, e é exatamente isso que o racismo perpetua. O racista acredita que seu grupo étnico é superior a outros, uma percepção deformada que nega a igualdade essencial de todos os seres humanos perante Deus. Essa arrogância contradiz a humildade e o amor altruísta que são a essência do Evangelho, substituindo isso por desprezo e preconceito. Essa soberba, contida no racismo, é uma tentativa falha de usurpar a autoridade de Deus, decidindo quem tem valor e quem não tem. Como uma forma de soberba, o racismo, portanto, é um pecado.
Em terceiro lugar, o racismo é uma fonte de violência, tanto física quanto emocional. A história, ela está repleta de exemplos dolorosos do dano causado pela hostilidade racial, desde a escravidão até as inúmeras injustiças cotidianas. As palavras e ações impulsionadas pelo preconceito racial não apenas ferem os indivíduos, mas também dilaceram o tecido da comunidade, acentuando a divisão e a desconfiança.
O racismo viola o mandamento do amor ao próximo, substituindo-o pelo ódio e pela agressão. É como uma tempestade que arrasta a paz e deixa apenas a destruição em seu rastro. É, portanto, pecado!
Compreendendo isso, é nosso dever rejeitar o racismo em todas as suas formas, buscando a reconciliação e a justiça com o mesmo fervor que procuramos a santidade.
Lutar contra o racismo é também anunciar as Boas Novas de Cristo, é bradar para o mundo inteiro que Deus ama todas as pessoas igualmente, a ponto de entregar o seu único filho para salvar todos os que nele creem e a ele se entregam de coração. Salvá-los de seus pecados, da condenação por seus pecados, e dar-lhes vida abundante, verdadeira e eterna. Salvar a todos os que em Jesus creem, sem acepção de pessoas, por raça ou cor.
Os negros são maravilhas de Deus
Afinal, diante dessa data, do Dia da Consciência Negra, é preciso sempre lembrar:
Deus ama a população negra de todos os lugares, o negro e a negra são maravilhas de Cristo, Deus abomina o racismo, e o Reino de Deus é também coisa de preto e de preta!
Para comemorar a data, então, vamos de música negra né, meu irmão! Uma mistura do bom reggae de Bob Marley, interpretado por Clóvis Pinho, com o RAP (ritmo e poesia), na voz do rapper Kivitz.
Deus abençoe e um bom feriado de Dia da Consciência Negra!
¹ Dia da Consciência Negra: o que é e por que se celebra em 20 de novembro. National Geographic. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2023/11/dia-da-consciencia-negra-o-que-e-e-por-que-se-celebra-em-20-de-novembro>. Acesso em 19 nov. 2024.