O Espírito Santo terá um jogador na Seleção Brasileira de Futebol, que vai disputar a Olimpíada de Surdos. A competição acontece no Japão, em novembro, e o atleta capixaba convocado atua na equipe sub-20 anos do Vitória Futebol Clube, na Capital.
Hiago, de 17 anos, é atacante, e nasceu em Guarapari, com deficiência auditiva total. Para ouvir, ele usa um aparelho desde os 3 anos de idade, mas não pode disputar jogos com o equipamento. Por isso, a comunicação em campo com o treinador e demais jogadores é especial.
O atacante acaba de receber a notícia da sua convocação definitiva para a Seleção, após vários meses treinando em São Paulo com outros jogadores selecionados pelo país. No Vitória, ele é treinado por Matheus Luchi e disputa o Estadual Sub-20, promovido pela Federação de Futebol. Hiago defendeu também o sub-17 do clube alvianil até subir de categoria, recentemente.
Treinador
Na opinião do treinador Matheus, “Hiago é um atleta muito dedicado”. “Ele vem todo dia de Guarapari para treinar e volta. Então, você vê que ele é um garoto que quer vencer no futebol, um atleta dedicado, tem muito talento. Ele é muito inteligente, ele consegue se virar bem dentro de campo, apesar da limitação auditiva que ele tem. Mas ele consegue fazer uma leitura boa do jogo, e nos treinamentos procura sempre prestar bastante atenção”.

Para estabelecer a comunicação com o atleta, o técnico explica: “A gente entendeu uma forma de trabalhar melhor com ele, adaptar algumas coisas para ele. No geral, é um menino muito bom de trabalho, de grupo, feliz, humilde, alegre, está sempre lá, fazendo a parte dele. Tem colaborado bastante com o nosso trabalho do sub-20”, acrescenta Matheus.
A convocação de Hiago para a Seleção trouxe alegria ao ambiente do clube.
“A gente ficou muito feliz. É muito gratificante para a gente, não por estar só apostando, mas contribuindo de alguma forma na formação do Hiago, na vida dele. E a gente torce para que ele vá super bem, mostre para o Mundo o futebol capixaba. E ele sendo capixaba, um atleta nosso aqui do Vitória, que eleve o nome do Vitória também a outros patamares que possam representar bem o futebol capixaba, possam representar bem o nosso clube e o trabalho que ele vem realizando aqui”, disse Matheus Luchi.
Família
Chegar ao patamar que o atacante Hiago chegou não foi nada fácil. A força da família, formada pelo pai Fabrício Ghaiger, a mãe Regina, e o irmão Henrique, 22 anos, continua sendo fundamental.

“O nosso menino tem 17 anos, mas ele nasceu com perda total da audição, totalmente surdo. E nele foi implantado o ouvido biônico no ouvido direito, com menos de 3 aninhos de idade. Então, ele fala muito bem e escuta somente com aparelho. Para jogar bola, ele joga sem aparelho auditivo. Mas ele sempre jogou com ouvintes. Começou a jogar bola com 4 anos de idade e tem a formação básica de futebol de salão, com o falecido treinador Codoca”, lembra a mãe.
A ida das quadras para os gramados aconteceu aos 9 anos de idade: “Ele começou a praticar futebol de campo pelo time Nova Geração, do Ebenezer, aqui de Guarapari, e o pastor Samuel, que é o irmão dele, família bem conceituada aqui em Guarapari. Eles que apoiaram, acreditaram, incentivaram, eles fizeram a lapidação dele. E depois dos 14 anos, ele começou a jogar fora de Guarapari, já que estava pequeno aqui o espaço pra ele”, acrescenta Regina.

Apesar de novo, Hiago já passou pelos times Aster, Factory, Desportiva, Inter Academy, Ibiraçu, Tupi, de Vila Velha, e atualmente está no sub-20 do Vitória. Regina cita que a deficiência auditiva fez com que Hiago fosse liberado por alguns clubes: “Já fez teste no Vasco, no Fluminense, no Santos, Brasília, Macaé, vários. E sempre teve uma dificuldade, não se sabe bem o motivo que liberavam ele. Provavelmente por conta da audição”, afirma ela, que destaca a participação do filho em torneios realizados na cidade de Alfredo Chaves.
Mas foi exatamente pela limitação auditiva que o jogador é hoje um dos melhores do país: “Deus permitiu que ele seja escolhido pelos surdos. Então, ele tá indo todo mês pra São Paulo, fazer o treino lá no CT Paralímpico. E, em novembro, tá indo pra defender o Brasil, juntamente com todos os atletas surdos. E ele é o único de Guarapari, e é o único do Espírito Santo”, comemora a mãe.
Ela explica que a família dá todo apoio ao filho: “Claro que a gente apoia. A gente pega Transcol para levar. Ele vai para a escola, ele está no terceiro ano da escola, ele estuda aqui em Guarapari, no colégio Dr. Silva Mello. Sai da escola, engole a marmitinha dele, e a gente pega ônibus para ir lá treinar na Curva da Jurema, em Vitória. Chega em casa às oito horas da noite”.
Regina e o marido Fabrício informam que o filho é acompanhado pela nutricionista Mere Ghaiger e o massoterapeuta Marcos Ribeiro. “Seria muito bom que a gente tivesse também um patrocínio para ajudar nas despesas”, solicita a mãe de Hiago.